Andorinha-das-barreiras (Riparia riparia). Foto: José Frade

Aves do mês: o que ver em Maio

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Cinco aves a não perder este mês, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.

Maio é um mês de grande azáfama no mundo das aves, pois a maioria das espécies está em plena época de reprodução. Há muita actividade vocal e, em muitos casos, já há juvenis voadores. Aqui ficam cinco sugestões de espécies para procurar este mês.

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis):

Mergulhão-pequeno (Tachybaptus ruficollis). Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Tal como sucede com muitas espécies residentes, o mergulhão-pequeno inicia a reprodução em Março e assim em Maio já há crias pequenas; estas são nidífugas e começam logo a nadar, podendo ser vistas na água, acompanhando os pais.

Esta é uma pequena ave aquática mergulhadora, claramente menor que um pato. O seu aspecto é atarracado e tem um pescoço curto e uma traseira do tipo pompom. Quando em plumagem nupcial, apresenta as faces e o pescoço castanhos e as comissuras amareladas. No Inverno, torna-se mais clara e fica cor de mel.

O mergulhão-pequeno pode nidificar em massas de água de dimensão reduzida, como pequenos açudes ou lagos ornamentais, mas também em albufeiras, pauis ou lagoas costeiras. Prefere locais com abundante vegetação emergente. Fora da época de reprodução aparece noutro tipo de locais, como estações de tratamento, salinas inactivas, aquaculturas, valas de drenagem amplas e até estuários.

No final da época de reprodução, estes mergulhões deslocam-se para outros locais a fim de realizarem a mudança de plumagem. Nessa altura, que geralmente coincide com os meses de Verão, observam-se por vezes bandos de muitas dezenas ou até de centenas de aves.

Onde ver: Parque da Cidade (Porto), lagoa de Albufeira, lagoa de Santo André. 

Pombo-torcaz (Columba palumbus):

Pombo-torcaz (Columba palumbus). Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: A época de reprodução está a decorrer e os machos podem ser ouvidos a cantar com frequência, enquanto defendem os seus territórios. Nos ninhos já deverá haver crias e elas irão brevemente fazer os seus primeiros voos.

Este pombo identifica-se pelo seu grande tamanho, pela plumagem globalmente cinzenta, incluindo a parte inferior das asas, e ainda pelas grandes manchas brancas nas asas e no pescoço, todas visíveis em voo. O voo nupcial é característico, com as asas e a cauda abertas.

No norte e no centro do país, estes pombos frequentam matas de resinosas ou folhosas, geralmente com algum mato, indo alimentar-se em zonas mais abertas, como campos agrícolas, pastagens e vinhas. Por vezes ocorrem também em zonas urbanas, desde que haja manchas verdes com alguma dimensão, sendo habitual em Lisboa. No sul do país, aparecem essencialmente em montados de sobro e azinho com bastante mato.

Este pombo ocorre não apenas no continente mas também nos Açores, onde é especialmente numeroso no Grupo Central. Até ao final do século XIX ocorria também na Madeira, mas essa população extinguiu-se há cerca de cem anos.

Onde ver: Parque da Cidade (Porto), Quinta das Conchas (Lisboa), Ilha Terceira (Açores).

Andorinha-das-barreiras (Riparia riparia):

Andorinha-das-barreiras (Riparia riparia). Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Este é um mês de intensa actividade nas colónias de andorinhas-das-barreiras: a maioria dos ninhos está ocupada e podem ver-se muitas aves a entrar e a sair dos buracos, para alimentar as crias; nalguns casos as crias já saíram do ninho e é feita uma segunda postura ao longo deste mês.

Esta andorinha, de pequena dimensão, tem as partes superiores castanhas e as partes inferiores brancas, com uma banda peitoral castanha. A cauda é curta e quase quadrada. 

Para nidificar, junta-se em colónias, que podem variar de cerca de uma dezena a várias centenas de ninhos. Ao contrário das outras espécies de andorinhas portuguesas, escava o seu ninho em vez de o construir. O ninho é, geralmente, feito numa barreira de areia ou terra, a qual pode situar-se em margens de rios, em taludes junto a estradas, areeiros ou encostas íngremes. Por vezes, também nidifica num tubo de drenagem de água. Para se alimentar, voa muitas vezes à superfície da água, em locais como lagoas, arrozais, albufeiras, salinas abandonadas ou pisciculturas.

As andorinhas-das-barreiras são migradoras e as aves que nidificam em Portugal passam o Inverno na África subsariana. Graças à anilhagem, sabe-se que pelo menos algumas delas têm como destino o Senegal.

Onde ver: Zambujal (estuário do Sado), Baixo Mondego, vale do Sorraia.

Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros):

Rabirruivo-preto (Phoenicurus ochruros). Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Sabe-se que este rabirruivo pode criar duas ou mesmo três ninhadas por ano; considerando que a partir de meados de Abril já se observam crias voadoras, alguns casais deverão estar agora a cuidar da sua segunda postura.

O macho adulto identifica-se pela plumagem cinzento-escura, destacando-se um painel alar branco. A fêmea e os juvenis são de um castanho-acinzentado. Em todas as idades, nota-se a cauda ruiva, que a ave faz vibrar com frequência. É uma espécie bastante tolerante relativamente à presença de pessoas pelo que, por vezes, se deixa aproximar a poucos metros.

Pode ver-se essencialmente em dois tipos de ambientes: por um lado, os habitats rupícolas, tanto na costa rochosa como nas zonas acidentadas do interior do país; por outro, os aglomerados populacionais, tanto cidades ou vilas como pequenas aldeias ou até construções isoladas, como sejam velhos castelos. No Inverno aparece também em áreas agrícolas e bosques pouco densos.

Há algumas décadas, o rabirruivo-preto quase só nidificava a norte do rio Tejo, ao passo que a sul ocorria unicamente na serra de São Mamede e na costa rochosa. Contudo, em anos mais recentes, tem vindo a espalhar-se pela planície alentejana e já nidifica em numerosas vilas e aldeias desta região.

Onde ver: vilas e aldeias do norte e do centro, serra da Estrela, costa rochosa do Algarve.

Alvéola-amarela (Motacilla flava):

Alvéola-amarela (Motacilla flava). Foto: José Frade

O que está a fazer em Maio: Tendo chegado ao país em Março ou no início de Abril, a alvéola-amarela encontra-se agora dedicada à reprodução; em muitos ninhos já deverá haver ovos ou até crias e é possível que no final do mês algumas delas já consigam voar.

Esta alvéola caracteriza-se pelas suas cores vivas. O macho adulto é amarelo-vivo nas partes inferiores, tendo a garganta branca e a cabeça azulada. A fêmea é parecida, mas as suas cores são menos intensas. Os juvenis são acastanhados, com um pouco de amarelo no ventre. 

Nidifica em arrozais, lezírias, lagoas costeiras, sapais, salinas e pauis. Nalgumas serras do norte também aparece em lameiros e prados de montanha encharcados ou nas margens de represas. Durante as migrações pode, contudo, aparecer noutro tipo de locais, muitas vezes longe de água.

Para além das aves nidificantes, que pertencem à subespécie iberiae, ocorrem em Portugal várias outras subespécies, que por aqui passam durante as suas migrações. Três delas são vistas regularmente: flava, oriunda da Europa central, flavissima, que nidifica nas Ilhas Britânicas, e thunbergi, proveniente da Fino-Escandinávia. Os machos destas subespécies distinguem-se uns dos outros pela coloração da plumagem.

Onde ver: Lagoa de Óbidos, lezíria grande de Vila Franca de Xira, ria de Alvor.

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