Cinco aves a não perder em Julho, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.
Apresentamos o quinto texto da série “Aves do Mês”. Tal como nos artigos anteriores, seleccionamos cinco espécies de aves portuguesas e que poderá observar por esta altura. Num mês quente, como é o caso de Julho, em que a maioria das aves já deixou de cantar, a nossa preferência vai para espécies que se detectem facilmente com a visão. Aqui ficam as cinco espécies que lhe propomos para procurar em Julho.
Alvéola-branca (Motacilla alba):
O que está a fazer em Julho: A graciosa alvéola-branca mostra-se facilmente, mesmo num mês quente, como é o caso de Julho. Por esta altura, a espécie aparece sobretudo em locais perto de água, seja em lagos de jardins, seja ao longo de rios e ribeiros.
Esta ave elegante tem uma plumagem em tons de branco, preto e cinzento e uma longa cauda, que faz baloiçar com frequência. O padrão escuro na cabeça e na garganta contrasta com o branco no ventre e nas faces. O dorso é cinzento e as penas exteriores da cauda são brancas. Os juvenis são menos contrastados que os adultos.
A alvéola-branca é geralmente uma ave fácil de ver, pois pousa em locais bem visíveis, como seja, passeios, relvados, telhados, muros ou margens de lagos.
Tal como acontece com outras espécies, após o final do Verão estas aves começam a reunir-se em dormitórios, que podem congregar muitas centenas de aves. Estes dormitórios localizam-se normalmente em árvores, seja em jardins públicos, seja até em áreas de serviço das auto-estradas!
Onde ver: vilas e aldeias por todo o país, jardins públicos.
Pega-rabuda (Pica pica):
O que está a fazer em Julho: As pegas-rabudas reproduzem-se na Primavera, tal como a maioria das aves. Quando chega o mês de Julho, a época de reprodução já terá terminado para a maioria, e os juvenis estão em vias de se tornarem independentes. Nesta época, é frequente ver pegas pousadas nos cabos ao longo das estradas e, nalguns casos, começam a juntar-se em dormitórios para passar a noite.
A pega-rabuda tem uma plumagem preta e branca e uma longa cauda, sendo esta a característica que mais se destaca. A espécie é residente e está presente no país durante todo o ano.
Além de ser fácil de identificar, a pega-rabuda apresenta o atractivo de ser uma ave bastante conspícua, pois pousa quase sempre em lugares visíveis, como sejam postes telefónicos, cabos aéreos, topo de árvores e até telhados. Os seus locais de eleição são os terrenos agrícolas, embora também ocorra frequentemente nas imediações de zonas habitadas. Distribui-se pela maior parte do território nacional, embora seja relativamente escassa nas zonas serranas.
Nalgumas localidades já foram detectados dormitórios importantes, em especial no Outono e no Inverno. Merece destaque o caso de Reguengos de Monsaraz, onde existe um grande dormitório e onde um censo efectuado no âmbito de um projecto escolar permitiu contabilizar mais de mil aves desta espécie!
Onde ver: planície de Évora, Reguengos de Monsaraz, Castro Marim.
Andorinhão-preto (Apus apus):
O que está a fazer em Julho: Os andorinhões têm uma época de nidificação muito prolongada, pois o desenvolvimento das crias é lento e pode demorar um mês e meio ou mais. Assim, no início de Julho ainda deverá haver muitas crias nos ninhos e os adultos andam ocupados a recolher alimento para a sua prole, podendo ser vistos a voar em redor dos edifícios onde têm os ninhos.
Embora superficialmente parecidos com as andorinhas, devido aos seus hábitos aéreos e às asas longas, os andorinhões pertencem a um grupo muito diferente. O andorinhão-preto caracteriza-se pela plumagem muito escura, asas compridas em forma de foice e uma pequena mancha clara por baixo do bico, difícil de ver à distância.
Nidifica geralmente em construções, que podem ser edifícios urbanos, castelos, barragens, pontes ou paredões, mas também há registos de nidificação em fragas e até em palmeiras com buracos. Forma colónias que podem ter dezenas ou até centenas de casais. A espécie é migradora e está presente em Portugal durante a Primavera e o Verão. Pode ver-se um pouco por todo o país.
Estas aves têm patas muito curtas e geralmente não conseguem levantar a partir do solo, preferindo descolar a partir de pontos altos. Durante o início do Verão, não é raro haver juvenis que caem acidentalmente do ninho, sendo encontrados por quem passa num passeio de um arruamento urbano.
Onde ver: na maioria das cidades e vilas portuguesas. Note-se quem em muitos locais também aparece o andorinhão-pálido, que é parecido mas um pouco mais claro.
Coruja-das-torres (Tyto alba):
O que está a fazer em Julho: A época de nidificação destas corujas encontra-se mal documentada, mas sabe-se que acontece na Primavera; em Julho já deverá haver muitos juvenis voadores, pois assiste-se a um grande aumento do número de aves presentes na lezíria do Tejo, o que deverá corresponder a aves em dispersão.
Esta coruja de tamanho médio identifica-se principalmente pela brancura da face e das partes inferiores, visível quer quando está pousada, quer quando voa. A face tem a forma de um coração, destacando-se os olhos negros. As partes superiores são cinzentas e alaranjadas.
Alimenta-se em zonas abertas, procurando pequenos mamíferos, como é o caso de ratos e ratazanas. Não é raro ver alguma destas corujas a voar à noite sobre um centro urbano, por exemplo em redor de um campanário de uma igreja, mas também aparece junto a armazéns agrícolas, edifícios arruinados e estações ferroviárias abandonadas. Esta coruja pode ver-se de norte a sul do país, sendo mais frequente nas terras baixas. Também ocorre na ilha da Madeira, sendo a única espécie de rapina nocturna na região.
Sendo uma ave de hábitos nocturnos, passa o dia em repouso, escondendo-se geralmente num edifício abandonado, numa ruína ou até numa árvore. À noite sai para caçar, podendo então ver-se o seu vulto branco, que lhe dá um aspecto algo fantasmagórico, e ouvir-se o seu grito rouco. Não é difícil imaginar que no passado tenham surgido mitos e crenças em redor destas aves.
Onde ver: lezíria grande de Vila Franca de Xira, centro urbano de Castro Verde, litoral do Algarve.
Galinha-d’água (Gallinula chloropus):
O que está a fazer em Julho: Neste mês, muitas galinhas-d’água já terminaram a reprodução. As crias são nidífugas, ou seja, saem do ninho assim que nascem e começam a nadar; contudo, recebem cuidados dos pais durante um a dois meses e, por isso, é frequente nesta altura ver juvenis acompanhando os respectivos progenitores.
Ligeiramente maior que um pombo-doméstico, identifica-se pelo corpo escuro, pela fronte vermelha e pelo bico vermelho com ponta amarela. As patas são verdes e os dedos são longos. Levanta frequentemente a cauda, sendo então visíveis as infracaudais brancas. Os juvenis apresentam tons menos contrastados.
A galinha-d’água vive em zonas alagadas e ricas em vegetação emergente, como sejam formações de tabua ou caniço, juncais ou outro tipo de vegetação ribeirinha densa. A presença deste tipo de vegetação é importante pois constitui um refúgio para estas aves, que se escondem ao primeiro sinal de perigo.
É uma espécie comum, que se distribui por todo o país, mas é mais frequente na metade litoral do território, onde encontra as maiores disponibilidades de habitat. Assim, é nos pauis, nos arrozais e nos pequenos açudes que se encontram as melhores oportunidades de observar as galinhas-d’água. Curiosamente, a espécie também se observa em lagos urbanos, sendo nestes casos particularmente tolerante à aproximação de pessoas.
Onde ver: Parque da Cidade (Porto), jardim da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), lagoa de Albufeira (Sesimbra).
Agora é a sua vez.
Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!