Cinco aves a não perder em Janeiro, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.
Janeiro é, em regra, o mês em que as populações de aves invernantes atingem o seu máximo, sendo geralmente em Janeiro que são feitas as contagens de patos, limícolas e outras aquáticas, pois os movimentos migratórios são pouco expressivos. É também um bom mês para ver grandes bandos de aves aquáticas – e não só. Deixamos aqui uma selecção de cinco espécies que poderá ver no primeiro mês do ano.
Frisada (Mareca strepera):
O que está a fazer em Janeiro: tal como muitos outros patos, nesta altura do ano as frisadas já andam aos pares e os machos já envergam a plumagem nupcial; no entanto, dado que a época dos ninhos ainda não começou, são frequentes os bandos de maior dimensão, muitas vezes juntando várias espécies de anatídeos, em grandes bandos mistos.
Tem quase o tamanho de um pato-real. O macho caracteriza-se pela plumagem predominantemente cinzenta e, principalmente, pelas infracaudais pretas. A fêmea apresenta uma plumagem muito parecida com a do pato-real, tendo o bico de um laranja ligeiramente mais intenso. Ambos os sexos apresentam um notório “espelho” branco nas asas (secundárias interiores).
A frisada distribui-se sobretudo pela metade sul do país. Pode ser vista em açudes, barragens, lagoas costeiras, ribeiras de curso lento, estuários e pauis. Como nidificante ocorre essencialmente nas planícies alentejanas e também no litoral algarvio, mas no Inverno aparece em zonas húmidas costeiras noutras regiões. Associa-se muitas vezes a outras espécies de patos.
O nome genérico Mareca, que integra o nome científico desta espécie, tem origem no português “marreco”, termo usado para designar algumas espécies de patos de menores dimensões.
Onde ver: lagoa de Albufeira, albufeira do Caia, lagoa dos Salgados.
Tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola):
O que está a fazer em Janeiro: Tal como muitas outras limícolas estuarinas, a tarambola-cinzenta passa o Inverno nas grandes zonas húmidas costeiras, procurando os pequenos invertebrados de que se alimenta. Muitas vezes é encontrada na companhia de outras espécies de limícolas.
É uma limícola de dimensão média, com uma forma arredondada, pernas compridas e bico curto e robusto. Na plumagem de Inverno tem um tom base cinzento, com supercílio visível e um padrão escamoso no dorso. No Verão, expõe uma mancha preta que se estende da garganta ao ventre. Tem também as axilas pretas, facilmente visíveis em voo.
Esta tarambola pode ser vista ao longo de todo o litoral, sendo especialmente numerosa nas grandes zonas estuarinas ou lagunares costeiras, que são assim os locais onde é mais fácil de ver. Durante a baixa-mar alimenta-se na vasa e, quando a maré sobe, refugia-se nas orlas de sapais, em salinas, areais e, por vezes, em pastagens alagadas ou arrozais. Também surge, mas em menor número, em costas marinhas rochosas, intercaladas com praias.
Esta tarambola é oriunda do Árctico e, até meados do século XIX, os seus locais de reprodução eram desconhecidos. Foi o explorador inglês Henry Seebohm que, em 1875, montou uma expedição à tundra russa e conseguiu descobrir onde é que esta espécie nidificava.
Onde ver: ria de Aveiro, estuário do Tejo, ria Formosa.
Coruja-do-mato (Strix aluco):
O que está a fazer em Janeiro: De uma forma geral as nossas rapinas nocturnas iniciam a reprodução bastante cedo e por isso em Janeiro já estão a defender os seus territórios. Na prática, isto significa que a coruja-do-mato pode ser facilmente ouvida a cantar em pleno Inverno.
Claramente maior que os mochos e mais pequena que o bufo-real, esta é uma coruja de tamanho médio. A sua plumagem é acastanhada, havendo, contudo, duas formas: uma mais acinzentada e outra mais arruivada. Não apresenta tufos na cabeça e os olhos são pretos. Esta espécie é facilmente localizada pelo seu canto.
É uma ave tipicamente florestal, que pode ocorrer em bosques extensos de carvalhos, castanheiros, sobreiros, azinheiras e pinheiros. Localmente pode viver em pequenos bosquetes ou até, mais raramente, em parques urbanos. Em Lisboa, por exemplo, encontra-se nalgumas pequenas zonas arborizadas, mesmo próximo dos sectores mais centrais da cidade.
Devido aos seus hábitos nocturnos, esta coruja é mais frequentemente ouvida que vista. O seu chamamento característico faz-se ouvir durante todo o ano, embora com menos frequência no final do Verão.
Onde ver: zonas bem florestadas, um pouco por todo o território continental.
Pega-azul-ibérica (Cyanopica cooki):
O que está a fazer em Janeiro: Tal como acontece com muitas outras espécies, a pega-azul torna-se gregária durante o Outono e o Inverno, formando grandes bandos, quer para se alimentar, quer para passar a noite – os seus dormitórios invernais podem reunir centenas de indivíduos.
A cauda comprida e o barrete preto são as características que mais saltam à vista neste pequeno corvídeo. O corpo é castanho-acinzentado, ao passo que as asas e a cauda são de um tom azul-claro. Forma frequentemente bandos barulhentos, em especial, no Inverno.
Aparece em bosques abertos ou com clareiras, ou áreas com bosquetes dispersos em zonas quase desprovidas de árvores; é comum em montados de sobro ou azinho, olivais e pinhais, particularmente de pinheiro-manso; para além disso, ocorre também em zimbrais, pomares, amendoais, matagais com arvoredo disperso e carvalhais.
Esta espécie é endémica da Península Ibérica, sendo contudo aparentada da pega-azul-asiática, que ocorre no Extremo Oriente. No passado, as duas populações chegaram a ser consideradas como pertencentes à mesma espécie, mas actualmente as principais autoridades taxonómicas já as tratam como espécies distintas.
Onde ver: Tejo Internacional, região de Mértola, todo o litoral do Algarve.
Pintassilgo-europeu (Carduelis carduelis):
O que está a fazer em Janeiro: Durante os meses de Inverno, os pintassilgos juntam-se em grandes bandos, que podem congregar dezenas ou até centenas de indivíduos, e percorrem os campos em busca de alimento, muitas vezes associando-se a outras espécies de aves granívoras, como pintarroxos e verdilhões.
O pintassilgo é uma ave muito colorida e de fácil identificação. Os adultos têm a cabeça branca e preta com uma máscara vermelha na face e uma mancha amarela muito evidente nas asas, bem visível em voo. Os juvenis são acastanhados, mas já apresentam a mancha amarela das asas.
Ocorre geralmente em zonas abertas, muitas vezes na proximidade de áreas arborizadas. Alimenta-se em terrenos agrícolas, pastagens e incultos. É frequente em zonas urbanas (por exemplo, em Lisboa e arredores), alimentando-se principalmente em terrenos baldios e nidificando em parques ou jardins.
O pintassilgo também ocorre nos Açores, onde foi introduzido, e na Madeira, onde se pensa que seja autóctone.
Onde ver: jardins públicos, campos agrícolas, baldios.
Agora é a sua vez.
Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!