Cinco aves a não perder em Agosto, seleccionadas por Gonçalo Elias e fotografadas por José Frade. Saiba o que estão a fazer este mês, como identificá-las e onde procurá-las. Observar aves nunca foi tão fácil.
Agosto é, para muitos, sinónimo de férias. É um mês quente e, à primeira vista, não será o melhor para procurar aves selvagens. No entanto, em todas as épocas há oportunidades e este mês não é excepção. Neste sexto texto da série “Aves do Mês” sugerimos cinco espécies de aves para procurar em Agosto.
Estorninho-preto (Sturnus unicolor):
O que está a fazer em Agosto: Terminada a nidificação, os estorninhos-pretos juntam-se em grandes bandos que podem congregar dezenas ou centenas de indivíduos e que, muitas vezes, pernoitam em jardins públicos urbanos.
À primeira vista, o estorninho pode confundir-se com um melro-preto. Contudo, uma visão atenta permite distinguir as duas espécies: o estorninho tem a cauda mais curta, a plumagem brilhante (e não baça) e as patas rosadas ou avermelhadas. O seu voo é rápido e directo, como uma seta.
Esta espécie é fácil de observar, pois gosta de pousar em sítios altos de forma bem visível. Entre os locais habituais que são usados como poisos refiram-se: telhados, chaminés, antenas, postes e cabos aéreos.
Uma curiosidade sobre o estorninho-preto é que o seu bico pode mudar de cor durante o Verão: de facto, durante uns meses perde a cor amarela e fica preto, mas a partir do Outono volta a ficar amarelo. Outro aspecto interessante é que após a muda das penas (que acontece precisamente em Julho ou Agosto), estas aves ficam com pequenas pintas brancas na plumagem, mas estas também desaparecerão ao longo do Inverno.
Onde ver: locais habitados, tanto em meio rural como em aglomerados urbanos.
Rola-turca (Streptopelia decaocto):
O que está a fazer em Agosto: Ao contrário do que sucede com a maioria das espécies, que nidificam essencialmente na Primavera, a rola-turca tem uma época de nidificação muito prolongada, podendo criar três a seis ninhadas por ano; assim, durante o Verão o seu canto trissilábico ainda pode ser ouvido com frequência.
Do tamanho de um vulgar pombo-doméstico, a rola-turca distingue-se deste pela plumagem dominada por tons acastanhados e pelo colar preto incompleto que ostenta na parte posterior do pescoço. A cauda é relativamente longa e tem uma barra branca a terminar, bem visível quando a ave pousa e abre a cauda em leque.
Esta rola gosta de se empoleirar em antenas e cabos eléctricos, o que a torna bastante conspícua. No entanto, também pousa em árvores, que são, aliás, o local preferido para fazer o ninho. Por isso, não surpreende que esta espécie apareça geralmente nas imediações de locais com árvores, mesmo em meio urbano. Assim, é habitual em bairros com moradias, onde muitas vezes há jardins com algumas árvores.
A rola-turca chegou a Portugal na década de 1970, na sequência de uma expansão que atingiu toda a Europa e, em menos de vinte anos, espalhou-se por todo o território nacional, tendo já chegado aos Açores e à Madeira. Por vezes é confundida com a ‘rola-mansa’, que é visualmente muito parecida, mas canta de maneira diferente.
Onde ver: nas imediações de qualquer local habitado, seja urbano ou rural.
Guincho (Chroicocephalus ridibundus):
O que está a fazer em Agosto: Depois de três meses de ausência, os guinchos regressam a Portugal, vindos das regiões onde nidificam, a partir de Julho. Em Agosto já se podem ver um pouco por todo o litoral português, tanto os adultos (que nesta altura já perderam o característico capuz castanho) como os juvenis do ano.
O guincho é uma pequena gaivota, que se distingue das espécies de maiores dimensões pelo seu menor tamanho, pela plumagem cinza claro, pela cabeça branca com uma mancha auricular preta e ainda pelo bico e pelas patas de cor avermelhada. Na Primavera os adultos ostentam um característico capuz cor de chocolate mas em Agosto a maioria já mudou para plumagem de Inverno. Os juvenis nascidos este ano são mais acastanhados, em especial nas asas, e têm o bico e as patas de um tom rosa-alaranjado.
Esta espécie é comum e pode ver-se quase sempre nas imediações de zonas húmidas, seja em estuários, seja em lagoas costeiras, seja ainda em terrenos inundados, como são os arrozais. Muitas vezes, os guinchos juntam-se em bandos que podem reunir dezenas ou centenas de indivíduos.
A identificação de gaivotas nem sempre é fácil e por isso a confusão entre as várias espécies é frequente. Para aprender a distinguir umas das outras, há que começar por aprender as reconhecer as mais comuns, para depois conseguir detectar algum indivíduo de outra espécie.
Onde ver: estuário do Douro, Terreiro do Paço (Lisboa), zona ribeirinha de Setúbal.
Águia-calçada (Hieraaetus pennatus):
O que está a fazer em Agosto: Tendo terminado a sua época de reprodução, a águia-calçada prepara-se para realizar a migração, onde a maioria da população irá passar o período de invernada. Contudo, algumas permanecerão por cá durante a estação fria.
A águia-calçada é a mais pequena das chamadas ‘águias verdadeiras’. Uma das curiosidades acerca desta espécie é o facto de se apresentar em duas formas distintas: a primeira, mais comum, denominada forma clara, é essencialmente branca por baixo, notando-se as penas de voo escuras. A outra, chamada forma escura, é menos comum e apresenta a plumagem castanho-escura, o que propicia a confusão com outras rapinas, em especial com o tartaranhão-dos-pauis e o milhafre-preto.
Esta águia faz o seu ninho em árvores de médio ou grande porte, como sejam sobreiros e pinheiros (bravos ou mansos). No entanto, para caçar aprecia zonas mais abertas, tais como matos ou clareiras, por isso é muitas vezes vista a sobrevoar locais com estas características.
Sendo uma espécie migradora, a partir do final do Verão a maioria dos indivíduos deixará o nosso país e voará em direcção a África. Tal como acontece com outras aves planadoras, as águias-calçadas evitam atravessar o mar e por isso seguem muitas vezes ao longo da costa. No sul do país, e em especial na região de Sagres, passam anualmente várias centenas de águias-calçadas.
Onde ver: Pancas (estuário do Tejo), Sagres, Alentejo.
Felosa-musical (Phylloscopus trochilus):
O que está a fazer em Agosto: Esta felosa aparece por cá em migração e as primeiras surgem precisamente durante o mês de Agosto. À medida que o mês avança, a espécie torna-se mais numerosa e na última semana será relativamente fácil encontrá-las geralmente em sebes ou zonas com ervas à beira das estradas e dos caminhos.
A pequena felosa-musical é uma ave elegante, com tons amarelados, bico fino e patas geralmente alaranjadas. É parecida com a felosa-comum, que nos visita no Inverno, sendo contudo um pouco maior, mais esguia, com as asas mais longas e uma lista supraciliar mais evidente.
Esta felosa não nidifica em Portugal, mas tem uma distribuição ampla no continente europeu, onde se reproduz numa vasta área que vai do norte de Espanha até ao Árctico. Dado que passa o inverno em África, aparece por cá durante as suas migrações, tanto na migração pré-nupcial (Primavera), como na pós-nupcial (final do Verão e início do Outono). É sobretudo em Setembro que a espécie é numerosa, mas na segunda metade de Agosto já é frequente, por isso este mês é uma boa altura para procurar esta pequena ave.
Nesta altura do ano, a espécie não canta, contudo o seu chamamento dissilábico ‘tu-it’ ajuda a detectar a sua presença, servindo também para confirmar a identificação. Tal como acontece com a maioria dos passarinhos, tende a recolher-se durante as horas de maior calor, por isso as primeiras horas do dia são as ideais para procurar esta ave.
Onde ver: qualquer local com vegetação arbustiva ou herbácea.
Agora é a sua vez.
Parta à descoberta destas espécies e envie as suas fotografias, com a data e a localidade, para o email [email protected]. No final do mês publicaremos uma galeria com as suas imagens e descobertas!