Um realizador juntou-se à equipa de biólogos que estuda há anos a migração do maçarico-de-bico-direito entre o Estuário do Tejo e a Islândia. O resultado é um novo documentário surpreendente que estreia este domingo na RTP1: “Migradores de longa distância: entre o Tejo e o Ártico“.
Muitas das aves limícolas que passam o Inverno no estuário do Tejo – como os pilritos, borrelhos e maçaricos que aqui encontram maior abundância de alimento nos meses frios do ano – reproduzem-se muito mais a Norte, na Escandinávia, Rússia, Canadá, Gronelândia e Islândia.
Entre Abril e Setembro, nos meses mais quentes do ano, desaparecem do Estuário do Tejo e enchem aquelas paragens de vida, fazendo os seus ninhos e colocando ovos. Estas crias irão novamente ocupar as zonas húmidas portuguesas, antes de o Ártico voltar a ficar preso em gelo e neve até à próxima Primavera.
As migrações de uma dessas espécies, o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa), está a ser estudada há vários anos pela equipa do biólogo José Alves, do Departamento de Biologia e CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro.
Este investigador dedica-se ao estudo das aves limícolas migradoras que, todos os anos, viajam entre Portugal e o Ártico.
O seu grande objectivo é “desvendar os mistérios destes fenómenos migratórios e as respostas que estas espécies são capazes de desenvolver perante as drásticas alterações dos seus habitats naturais”, segundo um comunicado enviado à Wilder.
“As aves limícolas estão na linha da frente das alterações ambientais pois o aquecimento global é mais acentuado nas zonas polares, para onde migram na primavera, e a perda de habitat nas zonas costeiras que habitam no outono/inverno é muito acelerado em todo o planeta. São por isso um modelo de excelência para se perceber qual a capacidade da biodiversidade em se adaptar às alterações globais.”
Este trabalho com o maçarico-de-bico-direito inspirou o documentário “Migradores de longa distância: entre o Tejo e o Ártico“, de 52 minutos, que estreia a 6 de Dezembro às 11h30 na RTP1.
O ponto de partida desta viagem é o Estuário do Tejo, a maior e mais importante zona húmida para este grupo de aves.
Durante dois anos, entre 2018 e 2020, foram captadas imagens únicas em Portugal e na costa Sul da Islândia, com bandos de 40 a 50 mil aves, capturas nocturnas e marcação individual destas aves.
O realizador Joaquim Pedro Ferreira, investigador e divulgador de Ciência, acompanhou as aves (e os investigadores) até à Islândia, captando o nascimento das crias e as ameaças que estas enfrentam e que os investigadores portugueses, islandeses e ingleses tentam desvendar.
“De regresso ao estuário do Tejo, as ameaças locais, nomeadamente a intenção de operar um aeroporto comercial na península Montijo, coração geográfico desta zona húmida é também abordada.”
Este documentário internacional tem autoria de Joaquim Pedro Ferreira e José Alves. A revisão científica é também de Amadeu Soares e a realização foi partilhada com Pedro Miguel Ferreira, da Produtora PlaySolutions Audiovisuais.
Assista aqui ao teaser do documentário.
Leia aqui a entrevista que fizemos ao realizador Joaquim Pedro Ferreira.
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