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Cinco estratégias para cuidar de florestas afectadas pelo fogo

16.10.2017

Só neste domingo, 524 incêndios florestais fizeram, pelo menos, 27 mortos e 51 feridos em Portugal, segundo a Autoridade Nacional para a Protecção Civil. A associação Montis está a testar estas cinco estratégias para cuidar de florestas afectadas pelo fogo.

 

O dia 15 de Outubro “bateu todos os recordes do ano”, com 524 ocorrências, disse Patrícia Gaspar, adjunta de operações nacional da Autoridade Nacional para a Protecção Civil. Hoje, estão activos 145 incêndios, 32 dos quais de importância elevada, acrescentou de manhã a responsável num briefing.

De 1 de Janeiro a 30 de Setembro, a base de dados nacional de incêndios florestais regista um total de 14.097 ocorrências que resultaram em 215.988 hectares de área ardida de espaços florestais, entre povoamentos (117.302 ha) e matos (98.686 ha).

A Montis – Associação de Conservação da Natureza criada em 2014 e com sede em Vouzela está a testar algumas medidas para recuperar e proteger as florestas dos fogos.

No primeiro fim-de-semana de Outubro, oito pessoas voluntariaram-se para preparar e regenerar cerca de três hectares no Baldio de Carvalhais, no concelho de São Pedro do Sul. Este carvalhal de cem hectares é uma das florestas que está aos cuidados da Montis, cedidos por dez anos pela Junta de Freguesia e compartes. Seis pessoas eram voluntários da VO.U. – Associação de Voluntariado Universitário e dois são voluntários da Montis da região de Viseu.

Segundo Luís Jordão, da Montis, o objetivo foi “fazer intervenções que conduzam à reabilitação do ecossistema de montanha da área do Baldio de Carvalhais que a Montis tem sob gestão. É uma área percorrida diversas vezes por incêndios e que atualmente é sobretudo um giestal”.

Aqui ficam cinco ideias que foram testadas:

Apanha de bolotas: os voluntários estiveram a recolher bolotas de carvalho-alvarinho (Quercus robur) em zonas limítrofes (Bioparque de Pisão), onde ainda existem manchas dos carvalhais pré-existentes. Segundo Luís Jordão foram apanhadas cerca de 100 quilos de bolotas.

Sementeira: depois fez-se uma sementeira directa “numa área onde já foi feito fogo controlado para remover as giestas e na qual, apesar de haver alguma regeneração de carvalhos, o banco de sementes é manifestamente insuficiente”. Daí o objetivo de as semear, para permitir uma maior presença de carvalhos no médio prazo (ainda muitas venham, certamente, a ser comidas por roedores e aves).

Alimentador de gaios: uma das actividades dos voluntários foi a instalação de um alimentadouro para gaios. Esta é uma experiência que “resulta de uma colaboração com um estagiário alemão que está neste momento a colaborar com a Montis. Tanto quanto sabemos, nunca foi testada em Portugal”.

 

 

Luís Jordão explica que “os gaios alimentam-se de bolotas mas fazem a sua recolha/armazenamento enterrando-as no terreno. Como posteriormente muitas das bolotas assim enterradas não são comidas, o gaio pode ser utilizado como um “semeador” que auxilie a sementeira de áreas que disso necessitem”. Este é apenas um teste, “baseado em experiências bem conhecidas, logo veremos se dará algum resultado prático. Mas acreditamos que os gaios também irão ser “voluntários” úteis”.

Construção de gabiões: os voluntários construíram ainda alguns gabiões. Estas são estruturas de pedras ou calhaus utilizada para reter ou controlar a escorrência de água e solo. “São mais conhecidos os grandes, que se colocam nos taludes de estradas, mas neste caso são estruturas pequenas, conhecidas da engenharia natural e que têm por objetivo “quebrar” a força da água, quando vierem as primeiras chuvas, evitando erosão de solo”.

Controlo da vegetação: outra medida importante é o controlo de plantas através, por exemplo, da poda de pinheiros e do fogo controlado para queimar, mais concretamente, um giestal de dois ou três metros de altura. “Quando o baldio nos foi entregue era essencialmente um giestal alto”, lembrou Henrique Pereira dos Santos, também da Montis. “Para criar oportunidades de gestão, visto que entrar por um giestal de dois ou três metros de altura exige um esforço brutal, entregámos há dias um plano de fogo controlado, com três parcelas que tencionamos queimar e que representam mais ou menos 50% da área do terreno.” Nestas áreas de fogo controlado serão aplicadas técnicas para diminuir a velocidade de escorrimento das águas, favorecem a acumulação de solo e, por essa via, permitem uma recuperação mais rápida das matas, apoiada por acções pontuais de plantação ou, por exemplo, de colocação de estacaria de salgueiro.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Esta acção de voluntariado surge no âmbito da Rede Privada Europeia de Conservação da Natureza, o projecto LIFE ELCN (Development of a European Private Land Conservation Network). O grande objectivo é “o trabalho em rede de organizações de diversos países da Europa para testar e avaliar a utilidade e eficácia de novos instrumentos de gestão privada de conservação da natureza e biodiversidade”. A Montis é uma das entidades que participa neste projecto.

“Esta foi a primeira de várias iniciativas análogas que, ao longo do projeto, esperamos vir a realizar com jovens que, como estes, queiram dar uma “mãozinha” pela conservação da natureza.” Até ao final deste ano também está previsto acções de voluntariado com empresas da região.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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