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Equipa defende regeneração dos montados com musgos e líquenes

05.07.2016

Para um montado, quanto mais musgos e líquenes melhor. Agora, uma equipa de investigadoras estudou uma forma para proteger estes pequenos seres vivos que, por serem uma espécie de esponjas e reterem água e nutrientes no solo, ajudam a regenerar sobreiros.

 

Musgos e líquenes cobrem parte dos cerca de 737.000 hectares de montados registados em Portugal em 2010, pelo 6º Inventário Florestal Nacional. Ajudam a reter no solo água, carbono e azoto, regulam a temperatura do solo e protegem-no da erosão. Mas o pisoteio pelo gado pode danificá-los.

Pela primeira vez, uma equipa de investigadores estudou o impacto que o pastoreio tem nos musgos e líquenes que cobrem o solo dos montados, a chamada bio-crosta do solo. Num artigo publicado agora na revista Land Degradation & Development, os investigadores concluíram que em terrenos onde o pastoreio já não é permitido há, pelo menos, sete anos, os musgos e líquenes aumentam cinco vezes.

O estudo aconteceu na Companhia das Lezírias, a cerca de 50 quilómetros de Lisboa. Foram escolhidas três áreas com intensidades diferentes de pastoreio: uma área em que os animais pastam actualmente e outras duas em que o pastoreio já não é permitido há sete e 17 anos, respectivamente.

Nos terrenos sem pastoreio há sete anos, a bio-crosta aumenta cinco vezes, sobretudo em líquenes, chegando a cobrir 17% da superfície do solo. “Este aumento tem impactos elevados no funcionamento do ecossistema, uma vez que os líquenes podem absorver e reter água por mais tempo nas suas estruturas do que os musgos”, explica um comunicado do cE3c – Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Além disso, os líquenes conseguem reduzir a temperatura do solo em 1ºC a 15 centímetros de profundidade da superfície que cobrem, “o que pode influenciar o processo de germinação das sementes no solo”.

“No momento de avaliar os serviços dos ecossistemas do montado (as bio-crostas) devem ter um lugar tão importante como os outros elementos do ecossistema”, salientou Laura Concostrina-Zubiri, investigadora do cE3c e a principal autora do artigo.

“O pastoreio é uma actividade sócio-económica fundamental no montado. No entanto, pode pôr em perigo a regeneração do sobreiro de forma indirecta, devido aos seus efeitos prejudiciais na abundância e funções cumpridas pelas bio-crostas”, acrescentou a investigadora que, desde 2014, participa num projecto para compreender melhor o papel da diversidade de líquenes, musgos e cianobactérias no funcionamento dos ecossistemas em zonas áridas.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Descubra por que o sobreiro é um poderoso aliado contra as alterações climáticas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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