Objetivo é contribuir para o aumento do conhecimento e para a sustentabilidade destes habitats, com enfoque para o Barlavento algarvio e para a Gruta de Loulé.
Na génese desta nova cátedra está a Gruta de Loulé, considerada um hotspot no que respeita à biodiversidade em ecossistemas subterrâneos. A nova cátedra vai funcionar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no CE3C – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais. Está previsto um plano de trabalhos de cinco anos, até 2030.
“O trabalho a desenvolver no âmbito desta cátedra propõe diversas componentes de estudo que visam preencher lacunas existentes no panorama nacional, e que contribuirão também para a salvaguarda destes ecossistemas”, explica a Câmara Municipal de Loulé, numa nota sobre o protocolo assinado entre o município, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, à FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e a Bondstone, uma empresa imobiliária. Está previsto um investimento de 370.000 euros, dividido em partes iguais entre a câmara algarvia e a Bondstone.
Ana Sofia Reboleira, investigadora na FCUL e coordenadora da nova cátedra, explicou que esta iniciativa quer contribuir para aumentar o conhecimento e a sustentabilidade do património ambiental destes habitats subterrâneos nacionais, em especial na zona do Barrocal algarvio e na zona de Loulé – onde foi encontrado, no Algarve, o maior número deste tipo de habitats.
A estrutura desta cátedra irá desenvolver-se em três eixos, ciência, educação e conservação da natureza, disse Ana Sofia Reboleira. “Cria oportunidades únicas para desenvolver ciência de vanguarda, para formar uma nova geração de cientistas em Biologia Subterrânea e para estabelecer uma estratégia nacional de proteção dos habitats subterrâneos, todavia negligenciados em políticas de conservação”, detalhou, citada num comunicado do CE3C.
A nova cátedra surge no seguimento do projeto “Barrocal-Cave”, lançado em maio de 2024 com vista à conservação, monitorização e restauro da Gruta de Loulé, liderado pela FCUL e coordenado por Ana Sofia Reboleira. “É debaixo de terra que temos 97% das reservas estratégicas de água e são estes animais que limpam e garantem que tenhamos água de qualidade para beber ou para a agricultura”, sublinhou a investigadora. A Gruta de Loulé é considerada um hotspot da biodiversidade cavernícola de importância mundial. Aqui, encontram-se mais de 25 espécies adaptadas à vida nas cavernas descobertas nos últimos anos por esta cientista – incluindo o endémico pseudo-escorpião-gigante (Titanobochia magna), exclusivo deste território.
Durante o último ano, apesar da dificuldade dos investigadores em aceder ao interior da gruta, foram recolhidos dados relativos à atmosfera, compostos orgânicos voláteis, radão (um gás radioativo) ou dióxido de carbono, adianta o município de Loulé. O objetivo é instalar aqui a primeira estação ecológica de longo termo (LTER), uma infraestrutura que irá monitorizar o interior da gruta em contínuo, permitindo aceder aos dados em tempo real, a partir do laboratório.
Ainda no âmbito do projeto “Barrocal-Cave”, com o apoio técnico da equipa da FCUL, a câmara algarvia pretende candidatar a gruta a Monumento Natural Local, prevendo-se que venha a ser a primeira reserva de fauna cavernícola em Portugal.