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Pseudo-escorpião-gigante (Titanobochica magna). Foto: Ana Sofia Reboleira

Sustentabilidade dos ecossistemas subterrâneos vai ter cátedra na Universidade de Lisboa

30.05.2025

Objetivo é contribuir para o aumento do conhecimento e para a sustentabilidade destes habitats, com enfoque para o Barlavento algarvio e para a Gruta de Loulé.

Na génese desta nova cátedra está a Gruta de Loulé, considerada um hotspot no que respeita à biodiversidade em ecossistemas subterrâneos. A nova cátedra vai funcionar na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no CE3C – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais. Está previsto um plano de trabalhos de cinco anos, até 2030.

“O trabalho a desenvolver no âmbito desta cátedra propõe diversas componentes de estudo que visam preencher lacunas existentes no panorama nacional, e que contribuirão também para a salvaguarda destes ecossistemas”, explica a Câmara Municipal de Loulé, numa nota sobre o protocolo assinado entre o município, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, à FCiências.ID – Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e a Bondstone, uma empresa imobiliária. Está previsto um investimento de 370.000 euros, dividido em partes iguais entre a câmara algarvia e a Bondstone.

Ana Sofia Reboleira, investigadora na FCUL e coordenadora da nova cátedra, explicou que esta iniciativa quer contribuir para aumentar o conhecimento e a sustentabilidade do património ambiental destes habitats subterrâneos nacionais, em especial na zona do Barrocal algarvio e na zona de Loulé – onde foi encontrado, no Algarve, o maior número deste tipo de habitats.

A estrutura desta cátedra irá desenvolver-se em três eixos, ciência, educação e conservação da natureza, disse Ana Sofia Reboleira. “Cria oportunidades únicas para desenvolver ciência de vanguarda, para formar uma nova geração de cientistas em Biologia Subterrânea e para estabelecer uma estratégia nacional de proteção dos habitats subterrâneos, todavia negligenciados em políticas de conservação”, detalhou, citada num comunicado do CE3C.

A nova cátedra surge no seguimento do projeto “Barrocal-Cave”, lançado em maio de 2024 com vista à conservação, monitorização e restauro da Gruta de Loulé, liderado pela FCUL e coordenado por Ana Sofia Reboleira. “É debaixo de terra que temos 97% das reservas estratégicas de água e são estes animais que limpam e garantem que tenhamos água de qualidade para beber ou para a agricultura”, sublinhou a investigadora. A Gruta de Loulé é considerada um hotspot da biodiversidade cavernícola de importância mundial. Aqui, encontram-se mais de 25 espécies adaptadas à vida nas cavernas descobertas nos últimos anos por esta cientista – incluindo o endémico pseudo-escorpião-gigante (Titanobochia magna), exclusivo deste território.

Durante o último ano, apesar da dificuldade dos investigadores em aceder ao interior da gruta, foram recolhidos dados relativos à atmosfera, compostos orgânicos voláteis, radão (um gás radioativo) ou dióxido de carbono, adianta o município de Loulé. O objetivo é instalar aqui a primeira estação ecológica de longo termo (LTER), uma infraestrutura que irá monitorizar o interior da gruta em contínuo, permitindo aceder aos dados em tempo real, a partir do laboratório.

Ainda no âmbito do projeto “Barrocal-Cave”, com o apoio técnico da equipa da FCUL, a câmara algarvia pretende candidatar a gruta a Monumento Natural Local, prevendo-se que venha a ser a primeira reserva de fauna cavernícola em Portugal.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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