Novo livro dedicado aos insetos junta-se às obras agora atualizadas sobre a flora e as aves deste espaço verde no centro de Lisboa. Tudo começou com uma pequeníssima abelha.
Abelha-de-cara-branca-comum, ou em nome científico, Hylaeus communis. É assim que se chama esta minúscula abelha solitária, com cerca de meio centímetro de comprimento, que foi a responsável pelo nascimento do novo guia dedicado aos insetos do Jardim Gulbenkian, contou-nos o entomólogo Albano Soares na véspera do Dia da Abelha, que se celebrou esta terça-feira, 20 de maio.
Foi durante uma iniciativa de ciência cidadã realizada no Jardim Gulbenkian em 2021, quando Albano deparou com esta pequena abelha solitária até ali só registada em Portugal na Serra da Estrela, que a equipa do Tagis decidiu propor à Fundação Calouste Gulbenkian a produção de um guia dedicado aos insetos que podem ser encontrados no jardim.
Entretanto, a abelha-de-cara-branca-comum já foi encontrada também em Oeiras, mas desde o seu avistamento no jardim lisboeta, uma equipa de sete entomólogos do Tagis meteram mãos à obra e começaram a observar este espaço verde à lupa, durante várias ações de amostragem que ali aconteceram entre 2021 e 2023.
“Porque precisamos de tanta gente para um guia de insetos?”, lançou Eva Gaspar, outra das autoras do guia, durante o lançamento numa manhã de domingo em maio, na sede da Fundação Calouste Gulbenkian. “É que os insetos são imensos. Há mais de 20.000 espécies identificadas em Portugal, pelo que é muito difícil que uma só pessoa saiba tudo sobre essa diversidade.”
Da identificação dos muitos insetos que habitam este espaço com mais de 8000 metros quadrados, nasceu assim um guia que retrata 92 espécies que estão entre as mais comuns e fáceis de identificar, incluindo diferentes espécies de moscas-das-flores – “que estão muito bem representadas neste jardim”, notou Eva Gaspar – abelhas, libélulas e libelinhas, percevejos, gafanhotos, borboletas diurnas e noturnas, vespas, formigas e escaravelhos.
Cada espécie, além de um ou mais retratos em grande plano, é acompanhada por informação sobre o que sabem os cientistas quanto à sua ocorrência em Portugal, além de explicações sobre onde é possível observá-la (incluindo no Jardim Gulbenkian) e algumas curiosidades sobre o seu comportamento. Para todas, está também disponível quanto medem de comprimento e a respetiva época de observação.
Os insetos não são as únicas estrelas da coleção de guias de natureza dedicadas ao jardim. Foram também lançadas novas versões dos guias da flora e das aves do Jardim Gulbenkian, revistas e aumentadas, embora as páginas tenham diminuído em tamanho. Tal como o novo livro dedicado aos insetos, os dois outros guias “ficaram mais pequenos e mais portáteis, com um formato mais prático”, explicou Rui Belo, do atelier de design responsável pela nova coleção, na sessão de lançamento.
No que respeita às aves presentes no jardim, foram acrescentadas algumas espécies identificadas desde o lançamento do primeiro guia, há quase 10 anos, e foi também atualizada a informação disponível, explicou João Eduardo Rabaça, professor e investigador na Universidade de Évora e autor das duas edições. Além de 40 espécies de aves retratadas, cada uma acompanhada por imagens e um texto que ajuda a conhecê-la melhor, este livro ajuda-nos também a conhecer em maior detalhe as diferentes aves e a sua morfologia e dá-nos também dicas de observação.
Também o guia da flora passou a incluir mais espécies, desde logo devido à expansão do jardim para uma nova área com outras plantas, inaugurada em 2024 junto ao Centro de Arte Moderna. Nesta segunda edição do livro, que tal como a primeira é da autoria de Raimundo Quintal, estão retratadas 275 espécies e 329 táxones de plantas presentes no espaço verde da Gulbenkian, entre herbáceas, arbustos e árvores.