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Espécie de ave extinta na natureza põe ovos pela primeira vez em 40 anos

22.04.2025

Guarda-rios-de-guam (Todiramphus cinnamominus), pertencentes a uma espécie de ave no centro de um projecto de conservação e reintrodução, puseram ovos na natureza pela primeira vez em 40 anos, anunciou a Sociedade Zoológica de Londres hoje, no Dia da Terra.

Em Setembro de 2024, nove jovens guarda-rios-de-guam, criados em cativeiro, foram reintroduzidos na Reserva do Atol de Palmyra, gerido pela organização The Nature Conservancy, no âmbito do Programa de Recuperação dedicado a estas aves coloridas e que reúne vários conservacionistas.

Um guarda-rios-de-guam depois da sua reintrodução na natureza no Atol de Palmyra. Foto: Martin Kaster/ZSL

A equipa por detrás deste projecto celebra agora a descoberta dos primeiros ovos naquele atol situado a Sul de Honolulu, no Havai.

As nove aves – quatro fêmeas e cinco machos – reintroduzidas na natureza no Outono passado, rapidamente começaram a explorar a sua nova casa, aprendendo a procurar alimento na floresta tropical.

Casal de guarda-rios-de-guam no Atol de Palmyra. Foto: Martin Kastner/ZSL 

Desde então, quatro casais estabeleceram os seus territórios, construíram os seus ninhos e puserem ovos. “Esta é a primeira vez que a espécie se reproduz na natureza desde a sua extinção na ilha nativa de Guam nos anos 1980”, sublinhou, em comunicado, a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, sigla em Inglês), um dos parceiros do projecto.

Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, o guarda-rios-de-guam tornou-se extinto na natureza em 1986, como resultado da predação da exótica invasora cobra-arbórea-castanha (Boiga irregularis).

“Muitos de nós passaram o fim-de-semana da Páscoa à procura de ovos, por toda a ilha”, comentou John Ewen, professor no Instituto de Zoologia da ZSL e coordenador do programa de recuperação desta ave.

Dois ovos de guarda-rios-de-guam no ninho. Foto: TNC-ZSL

“Apesar de não serem tão chamativos ou coloridos, estes pequenos e singelos ovos são muito mais entusiasmantes e preciosos do que muitos dos ovos de chocolate que abundam nesta época festiva”, acrescentou.

Na sua opinião, são “um marco notável na missão que dura há décadas para resgatar o guarda-rios-de-guam do limiar da extinção. Este momento de celebração é um verdadeiro testemunho da dedicação de todos quantos trabalharam contra-relógio para proteger e recuperar esta ave incrível.”

Caitlin Andrews, cientista dedicada à conservação das aves na ZSL, sublinhou o facto destas nove aves “não só estarem a sobreviver no Atol de Palmyra mas também estarem já a começar a próxima fase da sua jornada, enquanto trabalhamos para restabelecer uma população sustentável desta espécie na natureza”.

Um guarda-rios-de-guam reproduzido em cativeiro. Foto: Thomas Manglona Kuam

Foram precisos anos de trabalho para chegar até aqui e “é maravilhoso ver como os seus instintos estão despertos, quando os vemos a caçar pequenos lagartos e aranhas e a escavar os seus ninhos. A sua força dá-nos esperança de que um dia possam voltar a Guam”.

Dado que esta é a primeira que estes casais, com menos de um ano de idade, estão a incubar ovos, os conservacionistas consideram provável que sejam precisas algumas tentativas mais até que as aves consigam aperfeiçoar as suas capacidades e serem capazes de criar os seus filhotes. Ainda assim, estes ovos “demonstram a incrível resiliência destas aves notáveis e o poder da conservação para dar uma segunda oportunidade a espécies no limiar da extinção”, sublinhou a ZSL.

Guarda-rios-de-guam num ninho onde foram confirmados os primeiros ovos. Foto: Martin Kastner/ZSL

Os guarda-rios-de-guam foram dizimados quando a cobra-arbórea-castanha foi acidentalmente introduzida na ilha nos anos 1940. O último guarda-rios-de-guam na natureza foi visto em 1988. Mas, quando a população estava já em colapso, os biólogos de Guam conseguiram resgatar 29 aves e começaram um programa de reprodução em cativeiro no âmbito da Associação de Zoos e Aquários (AZA) com instituições espalhadas pelos Estados Unidos.

O Atol de Palmyra foi escolhido para ser a casa dos primeiros guarda-rios-de-guam em cerca de 40 anos porque não tem predadores e está completamente protegida. “Áreas protegidas como o Atol de Palmyra são essenciais para proteger a biodiversidade, numa altura em que a vida selvagem mundial continua a enfrentar ameaças como a perda de habitat e as alterações climáticas”, considerou a ZSL.

Neste momento, a equipa de conservacionistas já está a preparar novas libertações de guarda-rios-de-guam no Atol de Palmyra, algo que deverá acontecer neste verão.

Check-up veterinário a um guarda-rios-de-guam antes de ser levado para o atol de Palmyra. Foto: Thomas Manglona Kuam

Ao mesmo tempo continua a temporada de postura de ovos nas instituições zoológicas nos Estados Unidos que participam neste esforço conservacionista de reprodução em cativeiro. O objectivo, para já, é conseguir dez casais reprodutores naquele atol.


Saiba mais sobre a conservação do guarda-rios-de-guam aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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