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Foto: Programa de Conservação Ex-situ/Arquivo

Assembleia da República pede ao Governo nove medidas para conservar lince-ibérico

15.04.2025

A conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie classificada como Vulnerável, continua a ser uma missão inacabada. Prova disso foi a recomendação da Assembleia da República feita ao Governo no mês passado para implementar nove medidas.

Este felino, que tem sido um ícone do sucesso de esforços conservacionistas, continua a precisar de ajuda para consolidar o seu regresso aos territórios históricos que outrora ocupou.

Medidas de conservação in-situ e ex-situ garantiram, até agora, o aumento populacional desta espécie que chegou a estar virtualmente extinta em Portugal.

A 31 de Março passado, a Resolução da Assembleia da República n.º 106/2025 recomendou ao Governo a adoção de medidas para a proteção e conservação desta espécie. É dada especial atenção à ameaça dos atropelamentos nas estradas do país.

Este ano, e até 20 de Março, já se registaram quatro atropelamentos de linces-ibéricos em Portugal. Segundo João Alves, coordenador do programa de reintrodução do lince-ibérico, e Pedro Sarmento, coordenador e responsável técnico do programa in situ para a espécie, ambos do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o atropelamento é um dos maiores desafios actuais à conservação do lince-ibérico.

Assim, a Assembleia da República recomenda ao Governo que “faça uma avaliação detalhada da permeabilidade das estradas nas zonas de presença do lince-ibérico, como a autoestrada A23 e outras vias críticas”.

Deve ainda implementar “passagens para fauna e barreiras físicas que redirecionem os linces para zonas de travessia seguras”.

Outra das recomendações é que se reduzam “os limites de velocidade nas estradas que atravessam os territórios críticos do lince” e que se “instale sinalização adequada e outros meios de diminuição do tráfego e da velocidade”.

Além destas recomendações direccionadas à ameaça das estradas, a Resolução – aprovada a 14 de março de 2025 pelo Presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco – entende necessário que se “colabore com proprietários rurais para promover práticas de gestão que favoreçam a coexistência entre as suas atividades e a conservação da espécie de lince-ibérico”.

Estima-se que pelo menos 354 linces viviam, em 2024, em Portugal, numa área de 943 quilómetros quadrados. Estes números deverão ser actualizados em breve, no âmbito do censo que é feito todos os anos em Portugal e em Espanha.

A Assembleia da República recomenda também ao Governo que “fomente a criação de corredores ecológicos que permitam a dispersão natural do lince-ibérico, assegurando a conexão entre as populações de Portugal e Espanha, promovendo a diversidade genética e a expansão territorial da espécie”. Esta questão é central no projecto LIFE actual para o lince, o LynxConnect (2020-2025).

A Resolução lembra ainda que se devem alargar os apoios diretos e as majorações no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum aos agricultores e proprietários de outras regiões do país onde exista presença de lince-ibérico, como Castelo Branco, incentivando práticas de gestão sustentável que beneficiem a presença do lince-ibérico nos seus territórios.

O documento recomenda também que seja reforçada “a fiscalização nas áreas protegidas e zonas de presença do lince-ibérico, garantindo o cumprimento da legislação e combatendo a caça ilegal” e que se implementem “programas de educação e sensibilização nas comunidades rurais e junto de caçadores, sublinhando a importância da conservação do lince-ibérico e das suas presas”.

Por fim, recomenda ao Governo que “apoie a recuperação do montado e outras iniciativas de restauro ecológico, promovendo a criação de habitats adequados e sustentáveis para o lince-ibérico e o coelho-bravo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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