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Estamos todos convidados a procurar vacas-louras

09.06.2016

Sabe-se que é uma espécie cada vez mais ameaçada em Portugal, mas a situação actual do escaravelho Lucanus cervus é mal conhecida. Os cientistas pedem agora apoio a toda a população, para que os ajude a compreender o que se está a passar com o maior escaravelho da Europa.

 

É para isso que vai servir a Rede Portuguesa de Monitorização da Vaca-Loura, em colaboração com o projecto europeu “European Stag Beetle Monitoring”, que utiliza a mesma metodologia em nos 13 países onde está presente.

O objectivo é obter mais dados sobre a situação actual deste escaravelho em território português e comparar as populações nos locais onde ocorre, na Europa, para melhor definir estratégias para a sua conservação, explicam os responsáveis pelo projecto.

“A monitorização das vacas-louras [também conhecidas como cabras-louras] é uma vontade antiga das várias entidades envolvidas, bem como uma necessidade urgente para que se possa conhecer melhor as populações e se poderem desenhar as medidas de conservação com base em informações atuais e credíveis”, aponta Milene Matos, bióloga da Universidade de Aveiro, que através do projeto BIO Somos Todos é uma das coordenadoras da nova rede.

À frente deste projecto a longo prazo estão também a Unidade de Vida Selvagem do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, a Sociedade Portuguesa de Entomologia, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e ainda a Naturdata – Plataforma de Biodiversidade Portuguesa.

 

“O tamanho desmesurado – os machos podem atingir oito centímetros de comprimento, as proeminentes mandíbulas que usam para defender o território, a coloração castanha avermelhada e um acentuado dimorfismo sexual  – a cabeça e as mandíbulas do macho são muito maiores que as da fêmea – tornam as vacas-louras inconfundíveis”, descrevem os responsáveis do projecto, numa nota divulgada pela Universidade de Aveiro.

São as pinças dos machos que lhes permitem lutar entre si enquanto as fêmeas observam, tudo isto muitas vazes nos ramos altos das árvores. Perde aquele que cair, no final da luta.

Milene Matos explica que o Lucanus cervus só está vivo acima do solo no máximo durante dois ou três meses, ou menos ainda, durante a época de reprodução, que acontece nos meses de Verão.

Antes desta fase de adulto, pode viver nas raízes de árvores antigas como larva e depois como pupa, durante vários anos.

 

Conservação em risco

 

A espécie está classificada como Quase Ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que avisa que o estatuto deste escaravelho pode a breve prazo piorar.

É que apesar de estar espalhado por quase toda a Europa – à excepção da Dinamarca, onde foi visto pela última vez nos anos 1970, e da Irlanda – a vaca-loura está hoje em forte declínio nos países do Norte e Centro do continente.

Em Portugal, a situação também é apontada como preocupante. A aposta na industrialização florestal “restringiu as áreas de floresta caducifólia a manchas cada vez menores e mais fragmentadas, tendo estes insectos perdido muito do seu habitat”.

“Outrora comuns, é cada vez mais difícil observar uma vaca-loura, um insecto que se alimenta de madeira de árvores de folha caduca, como os carvalhos e os castanheiros, já morta e em decomposição”, descrevem os cientistas ligados à nova rede.

Tal como outros escaravelhos decompositores de madeira, o Lucanus cervus tem um papel muito importante na regeneração das florestas, ao ajudar à degradação da madeira morta.

Os biólogos avisam que é urgente adoptar medidas de conservação, mas para isso, há que “conhecer com mais detalhe a sua área de distribuição e abundância”. E para isso, pedem a ajuda de todos.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

A participação de cidadãos-cientistas na Rede Portuguesa de Monitorização da Vaca-Loura pode fazer-se de duas formas, descrevem os responsáveis pelo projecto:

“Se conhece alguma área onde seja habitual observar uma vaca-loura no Verão, adopte um percurso (transepto) de 500 metros e percorra-o semanalmente entre Junho e Julho. Registe as vacas-louras observadas através do site da Rede, onde os observadores se podem inscrever e obter toda a informação necessária, e já está.”

Por outro lado, caso nos próximos meses aviste uma vaca-loura ou outro insecto lucanídeo, pode tirar uma fotografia do escaravelho, até mesmo com o telemóvel, e enviar essa imagem e também a data e hora do avistamento, tal como o local. Tudo através do site do projecto, onde se descrevem as principais diferenças entre a vaca-loura e outros escaravelhos semelhantes.

As vacas-louras podem ser observadas no solo, à beira dos caminhos e das estradas, ou então nas árvores, em especial nos carvalhos. São escaravelhos que voam.

Até agora, foram adoptados 41 transectos e reportados 39 avistamentos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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