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Milhares de abutres podem morrer por ano por causa deste medicamento

26.04.2016

Os medicamentos veterinários que contêm diclofenaco podem causar a morte de mais de 6.000 abutres por ano em Espanha, confirma agora um estudo publicado na revista Journal of Applied Ecology.

 

Espanha alberga 95% da população europeia de grifos (Gyps fulvus). Estas aves necrófagas estão em perigo por ingerirem cadáveres de animais que foram tratados com medicamentos contendo diclofenaco.

Uma equipa internacional de investigadores analisou o impacto desta substância, que os veterinários usam no gado bovino como anti-inflamatório, nos abutres em Espanha. Segundo a agência de notícias espanhola EFE, os investigadores descobriram que a substância provoca falha renal nestas aves e que causa a morte a entre 715 e 6.389 abutres por ano, dependendo dos cadáveres de gado a que tenham acesso.

Na verdade, o uso de diclofenaco já causou a quase extinção de três espécies de abutres na Ásia na década dos anos 90. Apesar disso, está autorizado na União Europeia.

“Tendo em conta a possibilidade de que se produza um impacto significativo nas populações de abutres, os nossos resultados justificam a proibição preventiva do uso veterinário do diclofenaco em Espanha”, escreve o coordenador do estudo, Rhys Green, da Royal Society for the Protection of Birds (RSPB), citado pela agência Sinc. Além disso, os investigadores propõem um composto alternativo, o meloxican, “que não afecta as aves”.

Também a organização Birdlife, nomeadamente o seu ramo espanhol (Sociedade Espanhola de Ornitologia, SEO), se junta ao pedido, “dado que existem alternativas médicas que não causariam nenhum dano aos abutres, segundo um comunicado.

Este estudo científico surgiu no seguimento de um pedido da própria Agência espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários (AEMPS) que queria conhecer uma estimativa do número de mortes de grifos causadas pelo diclofenaco.

Segundo a SEO/Birdlife, existem cerca de 26.000 casais de grifos em Espanha, uma das maiores populações mundiais, depois do declínio acentuado desta espécie em África e na Ásia.

“O declínio dos grifos em Espanha não é apenas um problema ambiental, mas também económico, já que estas aves necrófagas evitam o tratamento e a incineração de 8.000 toneladas de restos animais por ano”, salienta a organização. “Desta maneira, não apenas se poupam milhões de euros em gestão de resíduos como se evita a emissão de milhares de toneladas de CO2 por ano”, acrescenta.

Asunción Ruiz, directora-executiva da SEO/Birdlife, considera que “evitar um declínio das populações de abutres” em Espanha “está nas mãos do Governo, que tem a responsabilidade de conservar a maior população de aves necrófagas da União Europeia e uma das mais importantes do mundo”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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