A colónia transfronteiriça de abutre-preto (Aegypius monachus) do Douro Internacional, a mais isolada e uma das mais frágeis do país, conta agora com 14 novos ninhos artificiais, que se juntam aos oito anteriormente instalados, somando um total de 22, revelou a associação Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural.
Os ninhos artificiais foram colocados no terreno em outubro, “numa intervenção delicada e difícil realizada por uma equipa especializada do GIAM – Grupo de Intervención en Altura de los Agentes Forestales de la Comunidad de Madrid, de Espanha, juntamente com técnicos da Palombar”, segundo um comunicado da organização.
O objetivo é “disponibilizar um maior número de ninhos para o abutre-preto nidificar e fixar-se no território, aumentando o recrutamento de indivíduos e consequentemente esta colónia que abrange o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e o contíguo Parque Natural Arribes del Duero (PNAD), em Espanha”.
Só existem oito casais nidificantes desta espécie Em Perigo de extinção na colónia do Douro Internacional, a mais isolada do país.
A escolha dos locais e estrutura dos ninhos foi feita de forma a mimetizar ao máximo o processo natural de nidificação da espécie. “Ao contrário da maioria dos abutres, que nidifica em acantilados rochosos, o abutre-preto faz ninhos principalmente em árvores de grande porte. Desta forma, os ninhos foram instalados em árvores como o zimbro, azinheira ou sobreiro”, explicou a Palombar.
“Os ninhos têm uma estrutura de metal que imita a forma do ninho natural e uma rede robusta que suporta o material utilizado para naturalizar o seu interior, composto por pequenos galhos de árvores e arbustos lenhosos e lã de ovelha para o tornar mais acolhedor e atrativo para a espécie-alvo.”
Por nidificar em árvores, o abutre-preto corre um risco acrescido: é mais vulnerável e afetado pelos incêndios florestais. Em 2017, por exemplo, esta colónia foi afetada por um incêndio florestal que destruiu o único ninho da espécie existente nessa altura, matando a cria de abutre-preto.
Atualmente, a colónia transfronteiriça do Douro Internacional tem oito casais nidificantes, cinco no PNDI e três no PNAD, o que já é um número bastante positivo, tendo em conta o contexto e evolução nos últimos anos. Contudo, destes casais, nesta época de reprodução, apenas cinco fizeram postura e só quatro crias (duas em cada país) sobreviveram até se tornarem independentes.
O abutre-preto só põe um ovo por época de reprodução/ano e a maturidade sexual da cria só é atingida aos cinco ou seis anos de vida, pelo que o seu sucesso reprodutor é muito limitado e condicionado.
“Qualquer incidente que cause a mortalidade da descendência tem um grande impacto geracional e populacional sobre esta espécie”, salientou a Palombar. “Por isso, além da construção de ninhos artificiais, o projeto vai potenciar, até 2027, o reforço do número de indivíduos desta colónia, através da devolução à natureza, nesta região, de 20 abutres-pretos provenientes de centros de recuperação de fauna silvestre, após passarem por um período de aclimatação (adaptação ao meio) e libertação faseada (soft release) na estrutura construída para esse efeito no PNDI.” Até ao momento, já foram devolvidos à natureza quatro abutres-pretos por esta via.
A instalação dos ninhos para esta espécie “Em Perigo” de extinção foi realizada no âmbito do projeto LIFE Aegypius return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha.
O projeto é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia e desenvolvido por um consórcio que integra as seguintes entidades: Vulture Conservation Foundation – organização coordenadora -, Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (cofinanciada pela Viridia – Conservation in Action e MAVA – Foundation pour la Nature neste LIFE), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Proteção da Natureza, Faia Brava – Associação de Conservação da Natureza), Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade.
PUB