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abutre em voo
Abutre-preto. Foto: Artemy Voikhansky/Wiki Commons

Já há 22 ninhos artificiais para abutres-pretos no Douro Internacional

16.12.2024

A colónia transfronteiriça de abutre-preto (Aegypius monachus) do Douro Internacional, a mais isolada e uma das mais frágeis do país, conta agora com 14 novos ninhos artificiais, que se juntam aos oito anteriormente instalados, somando um total de 22, revelou a associação Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural. 

Os ninhos artificiais foram colocados no terreno em outubro, “numa intervenção delicada e difícil realizada por uma equipa especializada do GIAM – Grupo de Intervención en Altura de los Agentes Forestales de la Comunidad de Madrid, de Espanha, juntamente com técnicos da Palombar”, segundo um comunicado da organização.

Ninho artificial para abutre-preto. Foto: Palombar

O objetivo é “disponibilizar um maior número de ninhos para o abutre-preto nidificar e fixar-se no território, aumentando o recrutamento de indivíduos e consequentemente esta colónia que abrange o Parque Natural do Douro Internacional (PNDI) e o contíguo Parque Natural Arribes del Duero (PNAD), em Espanha”.

Só existem oito casais nidificantes desta espécie Em Perigo de extinção na colónia do Douro Internacional, a mais isolada do país.

A escolha dos locais e estrutura dos ninhos foi feita de forma a mimetizar ao máximo o processo natural de nidificação da espécie. “Ao contrário da maioria dos abutres, que nidifica em acantilados rochosos, o abutre-preto faz ninhos principalmente em árvores de grande porte. Desta forma, os ninhos foram instalados em árvores como o zimbro, azinheira ou sobreiro”, explicou a Palombar.

“Os ninhos têm uma estrutura de metal que imita a forma do ninho natural e uma rede robusta que suporta o material utilizado para naturalizar o seu interior, composto por pequenos galhos de árvores e arbustos lenhosos e lã de ovelha para o tornar mais acolhedor e atrativo para a espécie-alvo.”

Por nidificar em árvores, o abutre-preto corre um risco acrescido: é mais vulnerável e afetado pelos incêndios florestais. Em 2017, por exemplo, esta colónia foi afetada por um incêndio florestal que destruiu o único ninho da espécie existente nessa altura, matando a cria de abutre-preto. 

Ninho artificial para abutre-preto. Foto: Palombar

Atualmente, a colónia transfronteiriça do Douro Internacional tem oito casais nidificantes, cinco no PNDI e três no PNAD, o que já é um número bastante positivo, tendo em conta o contexto e evolução nos últimos anos. Contudo, destes casais, nesta época de reprodução, apenas cinco fizeram postura e só quatro crias (duas em cada país) sobreviveram até se tornarem independentes.

O abutre-preto só põe um ovo por época de reprodução/ano e a maturidade sexual da cria só é atingida aos cinco ou seis anos de vida, pelo que o seu sucesso reprodutor é muito limitado e condicionado.

“Qualquer incidente que cause a mortalidade da descendência tem um grande impacto geracional e populacional sobre esta espécie”, salientou a Palombar. “Por isso, além da construção de ninhos artificiais, o projeto vai potenciar, até 2027, o reforço do número de indivíduos desta colónia, através da devolução à natureza, nesta região, de 20 abutres-pretos provenientes de centros de recuperação de fauna silvestre, após passarem por um período de aclimatação (adaptação ao meio) e libertação faseada (soft release) na estrutura construída para esse efeito no PNDI.” Até ao momento, já foram devolvidos à natureza quatro abutres-pretos por esta via.

A instalação dos ninhos para esta espécie “Em Perigo” de extinção foi realizada no âmbito do projeto LIFE Aegypius return – consolidação e expansão da população de abutre-preto em Portugal e no oeste de Espanha.

O projeto é cofinanciado pelo Programa LIFE da União Europeia e desenvolvido por um consórcio que integra as seguintes entidades: Vulture Conservation Foundation – organização coordenadora -, Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural (cofinanciada pela Viridia – Conservation in Action e MAVA – Foundation pour la Nature neste LIFE), Herdade da Contenda, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Liga para a Proteção da Natureza, Faia Brava – Associação de Conservação da Natureza), Fundación Naturaleza y Hombre, Guarda Nacional Republicana e Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade.


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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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