O Esquema Pan-Europeu para a Monitorização das Aves Comuns analisou dados apresentados por 30 países sobre as aves comuns e concluiu que este grupo regista uma tendência de declínio desde 1980, segundo os resultados conhecidos esta semana.
Todos os anos, o objectivo é reunir dados dos censos feitos pelos vários países europeus e analisar os dados a uma escala temporal e espacial alargada, neste caso entre 1980 e 2023, o que permite aferir tendências.
Este ano, o Esquema Pan-Europeu para a Monitorização das Aves Comuns (Pan-European Common Bird Monitoring Scheme, PECBMS) analisou dados para 168 espécies de 30 países e as notícias não são boas. “A actualização de 2024 dos índices para as aves selvagens mostra um declínio geral nas aves comuns que nidificam na Europa”, segundo o Esquema Pan-Europeu. Especialmente grave é a situação das espécies que vivem em zonas agrícolas.
Segundo os resultados, 25 espécies agrícolas registaram um declínio moderado – como a andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica), o abibe (Vanellus vanellus) e o estorninho-malhado (Sturnus vulgaris), por exemplo – e uma um declínio grave, o sisão (Tetrax tetrax). Esta ave emblemática das estepes cerealíferas do Alentejo perdeu quase metade da população portuguesa nos últimos 10 anos.
Sete espécies estão estáveis (como a calhandrinha-comum, Calandrella brachydactyla, e a escrevedeira-de-garganta-preta, Emberiza cirlus) e cinco registaram um aumento moderado (como a cegonha-branca, Ciconia ciconia; a gralha-calva, Corvus frugilegus; ou o papa-amoras-comum (Curruca communis).
Quanto às aves florestais, 15 registam um declínio moderado – como a estrelinha-de-poupa (Regulus regulus) e o lugre (Spinus spinus) -, 13 um aumento moderado – como a trepadeira-azul (Sitta europaea) e o gaio-comum (Garrulus glandarius) – e cinco estão estáveis, como o gavião-europeu (Accipiter nisus) e o quebra-nozes (Nucifraga caryocatactes).
Portugal está representado neste esforço europeu pelo Censo de Aves Comuns, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
“É diferente olhar para uma análise nacional ou para uma mais alargada”, disse hoje à Wilder Hany Alonso, técnico de gestão de dados e cartografia da SPEA. “Há espécies em declínio em Portugal e não a nível europeu e vice-versa”, por exemplo.
Hany Alonso destaca o caso das aves agrícolas. “O padrão é óbvio, é manifestamente negativo (…), por causa da intensificação da produção agrícola na Europa.” Este responsável destaca espécies comuns com tendências negativas em Portugal e na Europa a rola-brava, o picanço-barreteiro, a andorinha-das-chaminés, o pardal e o cuco.
Do lado das espécies com tendências positivas, Hany Alonso destaca o pombo-torcaz, a toutinegra-de-barrete, o rabirruivo, as trepadeiras, o pisco-de-peito-ruivo, a carriça e o charneco.
Mas no geral, acrescentou,”é notório que o número de aves tem vindo a decrescer” na Europa, ainda que não se registe uma redução da sua área de distribuição.
Os dados analisados pelo EBCC (European Bird Census Council), entidade responsável por este Esquema Pan-Europeu, são depois disponibilizados à comunidade científica. “Esta é uma grande mais valia destas análises, porque permite aos investigadores cruzarem estes dados com outras variáveis e fazer, por exemplo, análises demográficas”, comentou Hany Alonso.
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