Objetivo é reverter a redução do número de aves em áreas agrícolas, como pardais, pintassilgos e cucos. A Wilder falou com Rui Borralho, diretor-executivo da SPEA, e conta-lhe como pode colaborar.
“Em muitas zonas de Portugal, espécies de aves comuns como os pardais e os pintassilgos estão a desaparecer. E os cucos, por exemplo, agora ouvem-se tão pouco. Queremos ajudar a que as pessoas acordem para este problema e democratizar a conservação dessas e de outras espécies, envolvendo a sociedade civil”, afirmou Rui Borralho, diretor-executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), contactado pela Wilder.
De facto, por toda a Europa estima-se que 64% das espécies de aves em zonas agrícolas estão hoje em declínio, afetadas por mudanças como a intensificação da agricultura, as monoculturas, o uso excessivo de pesticidas e de outros produtos químicos e a destruição de habitats. “Sem mudanças urgentes, Portugal poderá ver desaparecer espécies essenciais para o equilíbrio ecológico, e o risco de extinção de várias populações de aves, especialmente as de zonas agrícolas e migradoras, aumentará dramaticamente”, alerta uma nota de imprensa divulgada pela SPEA.
Face a esta realidade preocupante, o novo projeto quer dar uma resposta que não fique dependente de governos ou de fundos comunitários, sublinhou Rui Borralho, que está à frente desta ONG desde junho. Em cima da mesa está a disponibilização de terrenos pela parte dos seus proprietários, nos quais haverá ajuda para a aplicação de medidas de boa gestão, para que haja um restauro de habitats e a promoção da biodiversidade. Nessas áreas, que terão de ter no mínimo um hectare e ser de preferência situadas na Rede Natura 2000, os especialistas ligados ao projeto vão identificar as espécies de aves existentes e quais são as características desse território, propondo depois medidas trabalhadas em conjunto com os proprietários.
Essas medidas podem passar, por exemplo, por criar a charcos e pontos de água, substituir plantas invasoras por espécies autóctones, implementar parcelas de culturas para a fauna, ou instalar caixas-ninho.
Quem não tiver terrenos disponíveis também pode participar através da campanha de donativos que a ONG portuguesa lançou, associada a esta iniciativa. Embora nas áreas que vão ser escolhidas se dê preferência àquelas em que os proprietários estarão disponíveis para financiar as medidas a aplicar, o dinheiro angariado ajudará esta rede a chegar a quem não tem essa disponibilidade financeira. Calcula-se que em média cada um dos novos santuários necessitará de 3000 euros para a realização dos estudos necessários e definição de planos de gestão.
Lançada na noite desta quarta-feira, a nova campanha já recebeu várias pré-reservas com demonstrações de interesse de proprietários, tanto da parte de particulares como de instituições, indicou Rui Borralho, que prevê que em dezembro já seja possível a divulgação de um primeiro mapa da nova rede. Quanto aos donativos, têm como meta indicativa um valor total de 15 mil euros, sendo que quem contribui recebe um brinde em troca, dependente do valor que pagou.
Para já, prevê-se que esta primeira fase de angariação de terrenos e de dinheiro decorra até ao final de janeiro. E se tudo correr bem, na próxima primavera irão realizar-se os estudos necessários para que cada um dos novos santuários tenha o seu próprio plano de gestão, com a aplicação de medidas tendo em vista melhores condições de vida para as diferentes espécies. “Juntos, vamos devolver o canto das aves aos nossos campos”, apela a SPEA, na página online dedicada ao novo projeto.