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Águia-caçadeira. Foto: ICNF

Libertadas nove crias de águia-caçadeira no Alentejo

27.09.2024

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) libertaram a 14 de Agosto e 25 de Setembro, em Castro Verde, nove crias de águia-caçadeira (Circus pygargus), nascidas em cativeiro, numa ação que se espera vir a contribuir para a manutenção da espécie no Alentejo.

A águia-caçadeira, também conhecida como tartaranhão-caçador, é uma espécie migradora, que existe enquanto reprodutor na Eurásia e Norte de África, desde a Península Ibérica e Marrocos, até cerca do paralelo 60, no sul da Sibéria e Ásia Norte-central. Inverna na África subsariana, principalmente no Sudão, Etiópia e Leste de África e também no subcontinente Indiano.

Águia-caçadeira. Foto: ICNF

Em Portugal, a espécie nidifica em especial na metade Este do país, nomeadamente nas planícies do Alentejo e nos planaltos serranos do centro-leste e norte.

A diminuição da área utilizada com cereais de outono-inverno e a alteração das práticas agrícolas e pecuárias na última década terão contribuído para o declínio acentuado da espécie. Estas afectaram directamente o habitat desta ave, em especial os seus locais de nidificação, o que teve consequências no sucesso reprodutor.

“Face ao acentuado decréscimo do número de casais, e à semelhança dos dois últimos anos, realizou-se o Programa de resgate e salvamento de ovos e crias especificamente direcionado para esta espécie”, explicou o ICNF em comunicado.

A maioria dos casais desta espécie nidifica no solo, em searas, sendo essencial a colaboração dos agricultores para localizar os ninhos e alertar o ICNF para o resgate e salvamento de ovos e crias.

Além da intervenção no habitat natural (in-situ), o programa de resgate e salvamento inclui também uma componente de conservação fora do ambiente natural (ex-situ), com a recolha dos ovos mais expostos a predação e outras ameaças.

Foto: ICNF

O processo de incubação implica a monitorização constante da perda de peso de cada ovo a cada 48 horas, para serem incubados com a humidade adequada e assim maximizar o sucesso da operação. Após o nascimento, inicia-se a fase de alimentação das crias, que se realiza em ciclos de quatro a cinco refeições diárias, em ambiente climatizado.

Após os primeiros 15 dias, as crias são transferidas para uma jaula em meio natural, onde são ambientadas para posterior devolução à natureza (uma técnica chamada hacking).

Os juvenis são depois anilhados para identificação e reconhecimento dos exemplares libertados e são colocados emissores para que seja possível seguir as suas rotas migratórias até ao seu destino de inverno em África. Na sequência deste processo, em agosto, foram libertadas quatro crias de tartaranhão-caçador, e esta quarta-feira, 25 de setembro, foram libertados outros cinco exemplares, num total de nove.

Desde 2022, já foram libertados quase 60 exemplares de tartaranhão-caçador no âmbito do Programa de resgate e salvamento de ovos e crias da espécie.


Saiba mais sobre a águia-caçadeira aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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