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Investigadores surpreendidos com resultados do estudo aos plásticos em ninhos de andorinhões

04.09.2024

Mais de 36% dos ninhos de três espécies de andorinhões de vários países europeus, incluindo Portugal, continham plásticos, revela um novo estudo sobre o impacto da poluição por plásticos nestas aves migradoras.

O estudo, publicado na revista Science of the Total Environment, foi feito com base nos dados recolhidos em 487 ninhos de 25 colónias de andorinhões em sete países europeus, desde Portugal e Espanha à Alemanha, Suíça e Suécia.

Os dados referentes a Portugal foram recolhidos em Vila Nova de Famalicão durante a monitorização da colónia de andorinhões-pálidos (Apus pallidus) que se reproduz no edifício dos paços do concelho, cujos trabalhos são coordenados por Luís Pascoal Silva (CIBIO/BIOPOLIS) com o apoio do projeto andorin e do município famalicense.

Foto: Andorin

A equipa revelou agora a presença de plástico e outros materiais de origem humana em 187 dos 487 (36,5%) ninhos de três espécies de andorinhões e alerta para “uma interação alarmante entre a vida selvagem e a poluição atmosférica por plásticos”.

Segundo os autores da investigação, este é o primeiro estudo a revelar a extensão de tal contaminação em ninhos de andorinhões, destacando uma ameaça não reconhecida anteriormente para as espécies de aves terrestres.

Os investigadores analisaram 487 ninhos de 25 colónias em sete países europeus, centrando-se em três espécies de andorinhões: o andorinhão-comum (Apus apus), o andorinhão-pálido (Apus pallidus) e o andorinhão-real (Tachymarptis melba).

Foto: Andorin

Os resultados surpreenderam os cientistas. “36,5% dos ninhos continham materiais sintéticos, predominantemente detritos de plástico. Particularmente preocupante é o facto de 85% dos ninhos de andorinhão-pálido continham plástico”, explicam, num comunicado enviado à Wilder.

O estudo também revelou uma correlação direta entre a atividade humana e a probabilidade de incorporação de plástico nos ninhos. Em regiões com uma maior pegada humana, como as zonas urbanas, a probabilidade de encontrar plástico nos ninhos de andorinhões aumentou significativamente.

“Mostramos, como o que esperávamos, que o uso de detritos antropogénicos, maioritariamente plástico, enquanto material para construção de ninhos aumenta com a transformação humana da paisagem”, escrevem os autores do estudo.

“Este estudo fornece provas claras de que a poluição plástica não é apenas uma questão marinha, mas um problema ambiental generalizado que também afecta espécies  como os andorinhões, em particular os que passam grande parte da sua vida no ar”, comentou Álvaro Luna, autor principal do estudo.

Foto: Andorin

Os investigadores alertam que “o plástico na atmosfera representa uma ameaça crescente ao bem-estar das aves”. Na verdade, durante o estudo, foram encontrados quatro andorinhões enredados em plásticos, um em Vila Nova de Famalicão, dois em Espanha (Valência e Badajoz) e um em Laufen (Suíça).

“Os resultados levantam sérias preocupações sobre as implicações ambientais mais amplas da circulação atmosférica de plástico e o seu impacto em vários ecossistemas e na vida selvagem. Dado que a poluição por plásticos continua a infiltrar-se mesmo nas zonas mais inesperadas da natureza, este estudo apela a uma ação urgente para mitigar as suas consequências de longo prazo.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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