João Farminhão, responsável pelo projecto Portugal Botânico, sugere cinco pontos de um percurso de estações disponíveis no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
Em redor do Quadrado Central do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC), o projecto Portugal Botânico ocupa hoje quase metade dos 48 canteiros ali disponíveis, com o objectivo de fazer o retrato de paisagens botânicas vegetais de diferentes locais do país.
João Farminhão, responsável por esta iniciativa, indicou à Wilder cinco pontos a não perder ao longo deste percurso, cada um dedicado a uma paisagem botânica portuguesa, com plantas, solo e rochas específicas do local que representa. Um passeio que podemos marcar para a Primavera ou Verão, aconselha, quando a maioria das plantas estarão em flor.
1. Flora das ‘herrizas’ da Beira Litoral
‘Herrizas’, uma palavra espanhola, traduz num único termo um habitat que em português ocupa uma linha inteira: “charnecas mediterrânicas sob influência atlântica em solos areníticos ferruginosos (com muito ferro)”, debita João Farminhão, investigador ligado ao JBUC e à Universidade de Coimbra.
É neste pequeno canteiro que vive agora “uma das plantas mais fascinantes de Portugal”, uma planta carnívora chamada de pinheiro-baboso (Drosophyllum lusitanicum), que existe apenas em Portugal continental, Sudoeste de Espanha e na ponta norte de Marrocos.
“O pinheiro-baboso ocorre nestas charnecas secas e é o único representante vivo de toda uma família de plantas com flor, a família Drosophyllaceae”, explica este botânico. As suas flores amarelas abrem apenas durante o mês de Abril.
2. Flora das encostas de Arruda dos Pisães
A inspiração para a reprodução desta paisagem botânica, situada na zona de Rio Maior, veio do livro Sítios de Interesse Botânico de Portugal, cujo primeiro tomo foi publicado em 2020, recorda João Farminhão. “Este canteiro tem exposta uma das plantas mais raras de Portugal, a catananque-azul (Catananche caerulea)”, revela o investigador. “Tem umas flores azuis que são lindíssimas de se ver”. Outra planta representada no mesmo local é o Tanacetum mucronulatum, que “pertence à família das asteráceas, a mesma dos malmequeres”.
3. Flora nemoral da Serra da Freita
A palavra “nemoral” significa que falamos de flora dos bosques, explica João Farminhão. Neste caso, plantas que nascem abrigadas pelos carvalhais da serra da Freita, na zona de Arouca, distrito de Aveiro. Neste canteiro, a equipa do projecto colocou duas plantas em destaque: a delicada anémona-dos-bosques (Anemone trifolia subsp. albida) e a saxífraga-espatulada (Saxifraga spathularis), com as suas pétalas brancas e rosadas.
As duas espécies estão associadas ao substracto de granito característico desta zona do país, também representado no mesmo canteiro, onde se podem ver as características inclusões de mica-negra observadas nessa região, conhecidas por pedras parideiras.
4. Flora da Serra do Rabaçal
A Serra do Rabaçal, na zona da Serra de Sicó, região Centro, está representada no Portugal Botânico por duas plantas. A primeira é a chamada erva-de-santa-maria (Thymus zygis). “Endémica da Península Ibérica, é uma espécie de tomilho comido pelas cabras e ovelhas nas encostas da região, que dá o sabor caraterístico ao queijo do Rabaçal.”
No mesmo canteiro, pode ver-se outra planta característica da mesma região, o lírio-roxo-português (Iris subbiflora), descrita pelo botânico português Brotero no início do século XIX, nos arredores de Coimbra. “Segundo alguns autores, trata-se de um endemismo português”, ou seja, em todo o mundo, existirá apenas em Portugal, destaca o investigador.
5. Flora das encostas graníticas do Mondego
É neste canteiro do JBUC que podemos encontrar uma planta que existe apenas em dois locais de Portugal, um destes no troço médio do rio Mondego: o narciso-do-mondego (Narcissus scaberulus), com as suas vistosas flores amarelas, está associado a solos pobres e graníticos e pode ser observado na zona entre Celorico da Beira e Carregal do Sal, ou num dos canteiros do projecto Portugal Botânico, no JBUC. Floresce entre Fevereiro e Março.