A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) lançou ontem um formulário online onde pede a todos os cidadãos que registem sempre que vejam uma ave a voar contra uma janela, barreira de acrílico, ou outra superfície transparente ou espelhada, ou encontrem uma ave morta ou atordoada que possa ter sido vítima deste tipo de colisão.
Estas colisões matam centenas de milhões de aves todos os anos, a nível mundial, e em Portugal a SPEA tem vindo a receber cada vez mais mensagens de pessoas que encontram aves mortas ou feridas por embaterem neste tipo de estruturas.
Com esta iniciativa, a organização pretende medir a dimensão desta ameaça em Portugal, identificar as espécies de aves mais afetadas e os locais e alturas do ano mais críticos, e encontrar, divulgar e implementar soluções.
A SPEA pede a qualquer pessoa que submeta as suas observações ao longo de todo o ano. Ainda assim, é melhor estar atento, sobretudo, nos meses de migração de aves (como Setembro e Outubro), quando milhares de aves fazem pequenas paragens ao longo do seu percurso migratório, podendo haver maior incidência deste tipo de colisões.
“Em Portugal temos pouquíssimos dados concretos, mas na SPEA temos notado que nos últimos dois ou três anos temos tido muito mais gente a contactar-nos a esse respeito, à medida que têm surgido mais estruturas com barreiras transparentes, como os campos de padel, nos espaços verdes das cidades” disse, em comunicado, Hany Alonso, técnico da SPEA.
“Suspeitamos que o problema seja grave, como já se sabe que é noutros países, mas queremos perceber melhor o que se passa em Portugal: que tipos de aves são mais afetadas, se há períodos mais críticos, que tipo de estruturas são mais perigosas… Porque essa informação é crucial para se implementarem soluções eficazes.”
O crescente interesse em modalidades desportivas realizadas no exterior, como o padel, tem levado à proliferação de barreiras transparentes instaladas em jardins, parques e outros espaços verdes. A par disso, o crescimento urbano tem levado a um aumento no número de edifícios com superfícies espelhadas, ao passo que a expansão de autoestradas, ferrovias e pontes tem levado a um incremento substancial da instalação de barreiras acústicas, muitas das quais são feitas de material transparente. Todas estas estruturas podem ser armadilhas letais para as aves.
Os edifícios com janelas espelhadas, as barreiras de plástico transparente que são instaladas nas pontes, autoestradas e instalações desportivas, ou mesmo uma simples janela de uma casa com vista para o jardim, podem ser um perigo para as aves, explicou a SPEA. “Por um lado, porque as aves podem não ver a superfície transparente, e por outro porque podem ver o reflexo do céu e da vegetação. Em qualquer dos casos, o resultado é o mesmo: não sabendo que há ali uma barreira, as aves voam contra ela, podendo ficar feridas ou mesmo morrer.”
Segundo a SPEA, “apesar de terem uma visão muito melhor que a dos humanos, as aves têm muita dificuldade em reconhecer o vidro e outras superfícies transparentes ou espelhadas como obstáculos físicos”. “Primeiro, porque não reconhecem as pistas visuais que nós humanos usamos para identificar a presença deste tipo de superfícies, como a moldura de uma janela, o puxador de uma porta ou mesmo a estrutura de um edifício. Por outro lado, quando estão em voo deslocam-se a grande velocidade, pelo que quando se apercebem da barreira podem já não ter tempo suficiente para reagir.”
“Com base em dados de países como Espanha, sabemos que estas barreiras põem em risco uma série de espécies, como gaviões e açores, que fazem voos muito rápidos, muitas vezes na periferia de parques florestais, por exemplo, ou melros e toutinegras que são comuns nas zonas urbanas e por isso têm maior probabilidade de se deparar com estas barreiras. Também sabemos que é uma ameaça para aves migradoras, que não conhecem bem estas zonas onde estão só de passagem, e por isso mais facilmente são “enganadas” por estas barreiras”, acrescentou Hany Alonso. “Até para as aves noturnas como mochos e noitibós estas superfícies espelhadas criam uma armadilha visual, muitas vezes aumentada pela iluminação artificial.”
Depois de identificar locais e situações particularmente perigosos para as aves, a iniciativa da SPEA pretende também dar a conhecer às diferentes entidades e pessoas que gerem esses edifícios ou infraestruturas quais as soluções que podem implementar para mitigar os impactos na avifauna.
“Uma solução eficaz para as janelas é uma película com um padrão de pontos, que permite que as aves vejam o vidro como um obstáculo. Funciona melhor do que as silhuetas de aves de rapina que às vezes vemos nos vidros, mas que estudos recentes mostram que nem sempre são eficazes”, diz Hany Alonso.
“Mas como em quase tudo, a prevenção é o melhor remédio: optar por barreiras opacas nas pontes e autoestradas, planear as infraestruturas para reduzir o impacto em zonas de maior sensibilidade… é também isso que queremos promover com esta iniciativa, e por isso pedimos a ajuda de todos.”
Agora é a sua vez.
Registe aqui as suas observações.