Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

Estudo alerta que lobo-ibérico está a perder diversidade genética

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O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) continua a perder diversidade genética, apesar da sua aparente recuperação populacional, alerta um novo estudo de investigadores espanhóis.

A perda de diversidade genética, constatada por investigadores liderados pelo CSIC (Conselho Superior espanhol de Investigação Científica) num novo estudo, coloca um risco para a sobrevivência da espécie.

Nos últimos 200 anos, a população de lobos na Península Ibérica diminuiu em tamanho e área de distribuição por causa da perseguição e fragmentação do seu habitat, chegando ao seu mínimo histórico cerca de 1970.

Desde então, inicialmente a população cresceu em número mas nos últimos 30 anos estabilizou. Ainda assim, esta estabilidade esconde uma perda de diversidade.

O grupo de investigadores, com a colaboração da Universidade de Postdam (Alemanha), analisou o genoma mitocondrial completo de espécimes de lobos conservados nas colecções de História Natural da Estação Biológica de Doñana (EBD/CSIC). O trabalho, publicado na revista Genes, indica que um rápido aumento da população, incluindo todas as suas possíveis sub-populações, poderia proteger os lobos-ibéricos da perda adicional de diversidade genética.

Os investigadores estudaram a variabilidade genética dos lobos-ibéricos nos últimos 50 anos e encontraram haplótipos mitocondriais – sequência única de ADN mitocondrial – que só aparecem na Península, mostrando um “legado genético único nos lobos-ibéricos”, segundo uma nota da EBD/CSIC.

O ADN perdido na Serra Morena

A comparação do ADN mitocondrial completo de lobos actuais e de há várias décadas permitiu ver que um destes haplótipos só se encontrava en lobos do Sul da distribuição, na Serra Morena. “Há muito poucos dados genéticos da população na Serra Morena. Neste estudo descobrimos que os lobos históricos desta região partilhavam o mesmo haplótipo com um dos últimos lobos que habitavam na Serra Morena e de que há dados genéticos, um lobo encontrado atropelado em 2003”, explicou Isabel Salado, investigadora da EBD/CSIC. “Mas nenhum dos lobos analisados na população actual no Noroeste peninsular apresentava este haplótipo.” “Provavelmente, este haplótipo desapareceu com a extinção da população na Serra Morena”, acrescentou Jennifer A. Leonard, investigadora da EBD-CSIC.

“As extinções locais de uma população fragmentada podem facilitar a perda de diversidade, apesar de que o tamanho populacional total se encontre em aparente estabilidade”, explicou Carles Vilà, outro investigador da EBD-CSIC.

De acordo com a Convenção da Diversidade Biológica, a variabilidade genética é uma das formas de biodiversidade que deve ser objecto de conservação, juntamente com a diversidade de espécies e ecossistemas, já que favorece a viabilidade de uma população a longo prazo.

Este estudo mostra ainda a “relevancia dos espécimes históricos na investigação aplicada à conservação e defende a necessidade de uma monitorização genética das populações selvagens ao longo do tempo, especialmente aquelas que sofreram declínios populacionais drásticos nos últimos séculos”, explica a EBD-CSIC. 

O lobo-ibérico é uma espécie protegida e o único membro que resta da família dos grandes predadores de Portugal. Estará reduzido a cerca de 300 animais distribuídos por 60 alcateias. Estes números são conhecidos graças ao último censo nacional à espécie, realizado em 2002/2003 e com resultados apresentados em 2006. Com o passar dos anos, o lobo foi sendo empurrado, concentrando-se hoje em núcleos no Alto Minho, Trás-os-Montes e numa região a Sul do Douro.

Em 2019 foi iniciado um novo censo para actualizar a informação sobre esta espécie classificada como Em Perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005).


Recorde aqui a crónica de Miguel Dantas da Gama, “Um encontro com o lobo-ibérico, o eterno perseguido”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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