Este advogado de 73 anos vive na área do parque da Ribeira dos Mochos, em Cascais, rodeado por natureza. Escuta os gritos das corujas-do-mato todos os dias, que não considera nada assustadores. “É fantástico ouvi-las”, contou à Wilder.
“Ouço-as ao fim da tarde, início da noite e de madrugada”, descreveu José Manuel Durão, que já observou várias corujas-do-mato no seu jardim. “Cheguei a ter quatro ou cinco na relva à procura de ‘materiais’ para os ninhos.”
[Ouça como é o chamamento de uma coruja-do-mato (Strix aluco), recolhido por António Xeira.]
O que atrai estas e outras aves noctívagas ao sítio onde vive – “há muitas corujas e mochos por aqui” – são desde logo “os roedores, os répteis, os ovos de outros ninhos.” Foi o caso de uma coruja-do-mato que fotografou já há alguns anos, quando era fim da tarde e a ave provavelmente estaria a caçar.
Na verdade, começou a fotografar aves já “com alguma idade”, quando comprou “uma máquina melhor”, e dessa forma começou a aperceber-se “das diferenças das espécies pelas fotografias”.
E o episódio que mais o surpreendeu até hoje, embora há uns anos gostasse muito de viajar por Portugal e por outros países, passou-se exactamente no seu jardim: foi um encontro repentino com um bico-grossudo, também chamado de trinca-pinhão, “num arbusto muito perto do chão”. “É a maior ave da família dos verdilhões e tentilhões [frangilídeos], que tem a particularidade de raramente estar em árvores muito baixas e de viver nas árvores mais altas.”
Um lago para peixes, rãs e também pássaros
“O meu jardim é grande”, explica José Manuel Durão, que está reformado mas continua a trabalhar, e que vai também jardinando no que a idade agora lhe permite.
“Fiz um relvado junto à casa, mas deixei uma faixa com as árvores e as plantas a crescerem sem intervenção humana.” Os pinheiros-bravos foram cortados há alguns anos, essencialmente “por razões de segurança” como fogos e perigo de queda e “porque não são típicos de Cascais”.
Construiu também um lago para “ter peixes, rãs e os pássaros se poderem desparasitar”. Entretanto, outras árvores mais comuns foram-se desenvolvendo, como os zambujeiros – “ou oliveirões que produzem azeitonas bravias” – e carrascos, “que são uma espécie de carvalhos selvagens que dão muitas bolotas”.
Ali no parque da Ribeira dos Mochos, área de Cascais onde vive, “há uma variedade imensa de aves” que este leitor se dedicou a fotografar: melros, gaios, piscos, tentilhões, rabirruivos, alvéolas, felosas, rouxinóis, peneireiros, tordos, toutinegras, pardais, estrelinhas, carriças e outras.
Foram tantas as aves retratadas, que o município publicou o pequeno livro “Aves da Ribeira dos Mochos” com essas fotografias – cedidas ‘pro bono’ pelo advogado – que foi depois distribuído pelas escolas do concelho.
Actualmente, em que já não fotografa pois tornou-se difícil “andar quilómetros com um peso de material fotográfico que pesava mais de seis quilos”, este leitor sublinha que “sem a natureza não conseguiria viver”. “Hoje em dia não consigo ir a Lisboa, não me consigo movimentar nem a pé nem de carro. Sou totalmente anti-urbano e anti-betão.”
Quanto ao futuro e à conservação da natureza, José Manuel Durão defende que se proíba a construção, “especialmente as construções em altura nas áreas ribeirinhas (rios e mar), e acredita também que se devem “criar o máximo de paisagens protegidas”.
Agora é a sua vez.
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