Com muita atenção e com o carro engatado em primeira, o correspondente da Wilder passou uma manhã nos arrozais do estuário do Tejo à procura de garças.
Quando pensamos em observar a vida selvagem pensamos de imediato em locais naturais e com pouca intervenção do Homem. Mas há zonas com maior presença humana que não devem ser menosprezadas.
Os arrozais estão localizados em zonas muito ricas do ponto de vista faunístico, os estuários dos grandes rios. Uma visita dá-nos a oportunidade de observar de perto algumas espécies da nossa fauna, tirando partido da dinâmica e gestão agrícola do local.
A presença quase constante do Homem e a extensa rede de caminhos rurais existentes (desde que de acesso público e livre) permitem que as aves estejam um pouco mais habituadas às actividades humanas e que sejam mais tolerantes ao ruído, permitindo, por exemplo, a utilização do carro para uma maior aproximação.
Quando faço uma visita ao estuário do Tejo, em particular à Ponta da Erva, gosto sempre de percorrer os arrozais com alguma atenção.
A garça-boieira é uma das espécies mais comuns. Como estas aves estão mais habituadas à convivência com os humanos, por vezes consentem uma maior aproximação.
Já a garça-branca-pequena é mais desconfiada e apesar de a encontrar com frequência, levanta voo mal me aproximo.
É conveniente olhar atentamente para o limite do arrozal e para as margens dos tanques, onde poderá andar uma garça mais distraída à procura de um sapo ou lagostim. Esta distração resulta sempre em belas imagens.
Também as garças-cinzentas são comuns nestes locais, aproveitando a rede de valas de drenagem e a vegetação aí existente para passarem despercebidas aos olhares dos observadores de natureza.
Apesar de não tolerarem muito a presença do carro, a vegetação mais densa pode fazê-las sentir mais confiantes, confiança essa que pode chegar ao ponto destas grandes aves subiram à estrada para ver o que se passa, imagino eu. Esta chegou mesmo a caminhar à frente do carro, mantendo sempre uma distância mínima de segurança, é claro.
Podemos tentar acompanhá-las nesta dança “estranha”. E foi exactamente o que fiz. Ora andava a garça, ora engrenava eu a primeira. O carro dá-nos “algum abrigo” permitindo aproximações mais ousadas.
Normalmente o desligar do carro pode assustá-las, fazendo com que estas pesadas aves levantem voo, grasnando num tom ameaçador, como que a refilar connosco por as termos incomodado.
Por essa razão prefiro não desligar o carro até persentir que a ave está tranquila. Mas como em quase tudo na vida é mais fácil dizer do que fazer. E foi o que aconteceu neste caso: desliguei o carro e acabou-se a dança!
Já a garça-vermelha, presença comum neste local na Primavera e Verão, vai a caminho dos locais de invernada em África. Para o ano, em Março, voltará a fazer parte do leque de espécies das minhas visitas aos arrozais da Ponta da Erva.
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