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Há centenas de espécies de mamíferos à espera de serem descobertas, revela novo estudo

31.03.2022
Musaranho-de-dentes-brancos. Foto: Balles2601/WikiCommons

Pelo menos centenas de espécies de mamíferos ainda não descritas para a Ciência estarão “escondidas” mesmo debaixo do nosso nariz, em locais previsíveis um pouco por todo o mundo, revela um novo estudo.

Uma equipa de investigadores descobriu que a maioria destes mamíferos são pequenos, a maioria deles morcegos, roedores, musaranhos e toupeiras.

Além disso, a maioria parece-se muito com animais já conhecidos e, por isso, os biólogos ainda não conseguiram reconhecê-los como espécies diferentes, explicou Bryan Carstens, investigador da Universidade Estatal norte-americana de Ohio e co-autor do estudo publicado a 28 de Março na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

“Diferenças pequenas, subtis, na aparência são mais difíceis de detectar quando estamos a olhar para um animal pequenino que pesa 10 gramas do que se estivermos a olhar para algo do tamanho de um humano”, acrescentou Bryan Carstens, em comunicado. “Só consegues descobrir que são espécies diferentes se fizeres uma análise genética.”

A equipa, coordenada por Danielle Parsons, também da mesma universidade, usou um computador de última geração e técnicas informáticas para analisar milhões de sequências genéticas de 4.310 espécies de mamíferos, bem como informações sobre onde os animais vivem, sobre o seu ambiente e como vivem.

Isto permitiu-lhes construir um modelo que identifica os taxa de mamíferos mais prováveis de conter espécies “escondidas”.

“Baseada na nossa análise, uma estimativa conservadora seria que existem centenas de espécies de mamíferos a nível mundial que ainda não foram identificadas”, sublinhou Carstens.

Isso em si não seria surpreendente para os biólogos, salientou. Até porque estima-se que apenas 1 a 10% das espécies da Terra já tenham sido formalmente descritas para a Ciência.

“O que nós fizemos foi prever onde essas novas espécies deverão estar”, acrescentou Carstens.

Os resultados mostraram que as espécies ainda por descrever deverão pertencer às famílias dos animais pequenos como morcegos e roedores.

O modelo dos investigadores também prevê que estas espécies deverão pertencer a espécies que têm grandes distribuições geográficas, caracterizadas por grandes variabilidades de temperatura e precipitação.

Muitas das espécies “escondidas” deverão ocorrer em florestas tropicais, o que não é surpreendente porque é aí que a maioria dos mamíferos ocorre.

No entanto, o modelo sugere que muitas das espécies ainda não descritas vivem, por exemplo, nos Estados Unidos. O laboratório de Carstens até já identificou algumas delas. Por exemplo, em 2018, Carstens e a sua aluna Ariadna Morales publicaram um artigo onde provam que um morcego que vive em grande parte da América do Norte (o Myotis lucifugus) é, na verdade, não uma mas cinco espécies diferentes.

E na Península Ibérica também têm havido surpresas. Por exemplo, em 2019 uma equipa internacional de investigadores descobriu para a Ciência uma nova espécie de morcego na Europa, incluindo na Península Ibérica, o morcego-de-franja-críptico (Myotis crypticus). Até então essa espécie era confundida com outra espécie estreitamente aparentada, o morcego-de-franja do Sul (Myotis escalerai), da qual só se diferencia por subtis características externas.

“Este conhecimento é importante para as pessoas que fazem trabalho de conservação. Não podemos proteger uma espécie se não soubermos que existe. Assim que damos nome a algo enquanto espécie, isso faz a diferença a nível legal e não só”, acrescentou o investigador.

Com base neste estudo, Carstens estima que cerca de 80% das espécies de mamíferos em todo o mundo já foram identificadas. “O chocante nisto é que os mamíferos estão muito bem descritos, quando comparados com escaravelhos ou formigas, por exemplo.” Segundo Carstens, “sabemos muito mais sobre mamíferos do que sobre muitos outros animais porque eles tendem a ser maiores e estão mais relacionados com os humanos, o que os torna mais interessantes aos nossos olhos”.


Os artigos desta secção são apoiados pela SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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