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Resgatados da extinção: população de bisonte europeu aumentou para os 9.100 animais

21.03.2022
Bisonte-europeu. Foto: Ruud Maaskant

Há cerca de 100 anos, o bisonte europeu estava quase extinto. Hoje existem 9.100 animais, dos quais 6.800 em estado selvagem, revela um novo relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Mas esta batalha ainda está longe de estar ganha, alertam os peritos.

O relatório “European bison. Strategic species status review 2020”, publicado a 11 de Março sob os auspícios da UICN, foi preparado em 2019 e 2020 por 32 peritos de 15 países.

Graças ao programa de resgate do bisonte europeu (Bison bonasus), no final de 2020 existiam um total de 9.100 indivíduos, incluindo 6.819 animais na natureza. Hoje existem 45 manadas selvagens em 10 países europeus, principalmente na Polónia (mais de 2.100 animais), Rússia (mais de 1.500) e Ucrânia (mais de 340).

Bisonte-europeu. Foto: Ruud Maaskant

Segundo os peritos, o número de manadas de bisontes aumentou 50% nos últimos 20 anos (2000-2020) e o número total de animais triplicou nesse mesmo período, existindo em 2020 um total de 9.112 indivíduos.

Em estado selvagem, em 2000 existiam bisontes em apenas cinco países europeus – Bielorrússia, Lituânia, Polónia, Rússia e Ucrânia. Em 2015, foram estabelecidas manadas na Alemanha, Eslováquia, Bulgária, Roménia e Letónia, elevando o número de países com bisontes europeus para 10.

Em cativeiro, existem bisontes-europeus em centros de reprodução, jardins zoológicos e reservas de 30 países, desde a República Checa, França, Alemanha e Reino Unido à Polónia, Rússia, Espanha e Suécia, por exemplo. Os bisontes europeus em cativeiro correspondem a cerca de 20% da população mundial da espécie; a maioria vive na Alemanha e nos Países Baixos.

Estes números “podem fazer-nos acreditar que a ameaça da extinção destes magníficos animais deixou de existir”, escrevem no relatório Wanda Olech e Kajetan Perzanowski, peritos do Centro de Conservação do Bisonte Europeu.

Ainda assim, o futuro do maior mamífero terrestre da Europa não está seguro.

Se por um lado, o território destes animais aumentou, a verdade é que a maioria das manadas continuam isoladas. “Apenas poucas das manadas selvagens estão ligadas entre si e só poucas regiões são consideradas apropriadas para criar uma metapopulação estável num futuro próximo”, comentam os autores do relatório.

Na verdade, a deterioração e fragmentação do habitat é uma das ameaças à conservação do bisonte europeu. “Hoje restam poucas áreas na Europa continental que possam acomodar grandes populações de bisontes, geneticamente sustentáveis a longo prazo”, alertam os peritos. “Essas áreas tornam-se mais raras e isoladas à medida que crescem as áreas para a agricultura, produção florestal intensiva e infra-estruturas humanas.”

Bisonte-europeu. Foto: Thomas Hennig

Outro dos problemas é a falta de coordenação entre países quanto ao estatuto legal da espécie – por exemplo, só a Bielorrússia, Polónia, Rússia e Ucrânia incluíram o bisonte-europeu na sua lista nacional de espécies ameaçadas -, monitorização da saúde dos animais e gestão de manadas. Esta falta de harmonização também existe, por vezes, dentro dos próprios países.

O bisonte-europeu é ainda vulnerável a doenças, nomeadamente surtos de doenças contagiosas, exponenciadas pelas alterações climáticas.

A fraca diversidade genética da espécie constitui outro desafio. Todos os bisontes-europeus puros descendem de um grupo de apenas 12 animais e as população com mais de 100 indivíduos ainda são raras; muito poucas têm mais de 500 animais.

Recentemente, a espécie encontrou outra ameaça, a guerra. “Com mais de 90% de todos os bisontes-europeus selvagens a viver na Polónia, Ucrânia, Bielorrússia e Rússia, a guerra aberta na Ucrânia irá exigir novas abordagens para uma conservação colaborativa através da distribuição histórica da espécie”, comentou Glenn Plumb, responsável pelo Grupo de Especialistas em Bisontes da UICN.

Os autores deste relatório aconselham a criação de uma autoridade pan-europeia dedicada à conservação da espécie, que coordene os esforços dos vários países, e a unificação do estatuto legal da espécie. Para 2023 está prevista a publicação de um Plano de Acção para a Conservação do Bisonte Europeu.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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