Banner

Gansos-patolas recebem auxílio no centro de reabilitação de Quiaios

07.09.2015

Em especial entre Julho e Outubro, o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM-Q), em Quiaios, ao pé da Figueira da Foz, representa uma pausa benvinda nas longas viagens de migração que dezenas de gansos-patolas (Morus bassanus) fazem todos os anos. A Wilder falou com a coordenadora do centro, Marisa Ferreira, que explicou o que faz a equipa quando trata do processo de recuperação de uma destas aves.

 

Também conhecidos por alcatrazes ou mascatos, este último nome utilizado pelos pescadores, os gansos-patolas têm as suas principais colónias de reprodução no Norte da Europa, onde nidificam entre Março e Abril, explicou a bióloga coordenadora do CRAM-Q.

“Os juvenis normalmente migram, durante Agosto e Setembro, até ao extremo sul do limite da distribuição da espécie (costas da Mauritânia, na região do deserto do Sahara) enquanto que os adultos não chegam tanto a sul”, indicou Marisa Ferreira.

Nas águas portuguesas, é usual existirem gansos-patolas o ano todo, em especial aves adultas e também imaturas (esta espécie costuma atingir a maturidade sexual no quinto ano de vida), mas por vezes há concentrações de centenas de aves durante os picos de passagem migratória, em Outubro e Março.

No entanto, “a presença de um ganso-patola arrojado numa praia portuguesa não é normal”, uma vez que estes animais permanecem sempre no mar quando não se encontram nas colónias de reprodução. “Quando aparecem numa praia é porque estão feridos, exaustos ou doentes”, avisou a bióloga.

Traumatismos, exaustão ou debilidade e a captura acidental, em actividades de pesca profissional e desportiva, são as causas principais da chegada destas aves ao CRAM-Q. No entanto, também ali chegam por falta de alimento e subnutrição ou emaranhadas em lixo. Ou ainda com as penas cobertas por petróleo, o que resulta por exemplo da lavagem dos porões feita por navios petroleiros.

 

Uma ave imatura no segundo ano, a terminar a reabilitação.
Uma ave imatura no segundo ano, a terminar a reabilitação.

 

Quando chegam ao centro, o primeiro passo é serem avaliados pela equipa de reabilitação: “É recolhido sangue para análise e, caso se suspeite de fractura ou ingestão de um corpo estranho, realiza-se um RX.”

É com base nos resultados desta avaliação que se decide o protocolo de alimentação, que por norma, fica restringido a alimentos líquidos, por entubação gástrica, nas primeiras 24 horas.

“No caso de um animal que esteja emaciado (que é o que normalmente acontece com os gansos patolas juvenis que chegam nesta altura do ano), temos um protocolo em que são administrados fluidos e uma papa de alta digestibilidade em diluições decrescentes ao longo do internamento (seis entubações/dia) até que os valores de sangue normalizem e o animal consiga digerir o alimento”, exemplificou Marisa.

Muitas vezes, estes animais demoram até cinco a seis dias para conseguirem tolerar comida sólida (peixe). O alimento é ainda suplementado com vitaminas especificas para animais piscívoros.

 

Um ganso-patola já adulto, que tinha sido apanhado por petróleo no mar.

 

Até aos últimos dias de Agosto passado, tinham dado entrada no CRAM-Q um total de 17 gansos-patolas (um juvenil nascido este ano, um adulto e 15 ainda imaturos), mas todos os anos, o centro de Quiaios costuma receber uma média de 34 aves desta espécie.

Chegam ali vindos de vários locais do país. Este ano, por exemplo, já chegaram gansos-patolas recolhidos em praias dos concelhos da Figueira da Foz, Nazaré, Mira, Ovai, Aveiro, Leiria, Peniche e Torres Vedras, enumera a coordenadora.

Desses, pelo menos sete já foram devolvidos à natureza, mas quatro não resistiram aos problemas, apesar dos esforços da equipa.

Até Outubro, Marisa Ferreira espera continuar a acolher um número significativo de gansos-patolas em Quiaios. Incluindo os juvenis, que este ano fazem a viagem migratória pela primeira vez nas suas vidas, e que muitas vezes chegam ao centro exaustos pela longa jornada.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

O que fazer se encontrar um ganso-patola numa praia?

A coordenadora do CRAM-Q explica que deve contactar de imediato as autoridades para que sejam ativados o resgate da ave e o encaminhamento para um centro de recuperação. O número do SEPNA (Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR) é 808 200 520 e o da Rede de Apoio a Mamíferos Marinhos é 96.884.91.01.

Em termos de primeiros socorros, deve providenciar-se sombra e um ambiente calmo e evitar a aproximação de pessoas e de cães.

Se o animal estiver emaranhado nalgum tipo de lixo ou anzóis não deve tentar tirar. Se achar que isso está de algum modo a pôr o animal em perigo de vida, deve falar primeiro com a equipa de resgate que pode indicar o melhor modo de o fazer. “Muitas vezes, ao QRAM-Q chegam animais com lesões graves (muitas vezes irrecuperáveis), pois as pessoas que retiraram os anzóis não o fizeram de um modo adequado”, explica Marisa Ferreira, que avisa que nunca se deve atar o bico destes animais, pois eles não têm narinas e podem morrer sufocados.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

Don't Miss