Pelo menos três ninhos de abutre-preto, espécie Criticamente Em Perigo de extinção, foram descobertos na Reserva Natural da Serra da Malcata, graças ao seguimento de uma ave marcada com GPS.
O anúncio foi feito a 29 de Novembro pela Rewilding Portugal. Esta associação anunciou ter confirmado no início deste mês a existência de uma colónia de abutre-preto (Aegypius monachus) com sucesso reprodutor na Reserva Natural da Serra da Malcata, área protegida nos concelhos de Penamacor e Sabugal.
“Esta é uma excelente notícia para uma espécie que está ainda criticamente ameaçada em Portugal”, comenta a associação em comunicado enviado à Wilder.
Actualmente há no nosso país menos de 50 casais de abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa. Pode pesar 12 quilos e ter uma envergadura de asa de 3 metros.
Mas se este número parece pequeno, é bem maior do que o que tivemos durante quase meio século. Desde a década de 70 e até 2010 não nasceram crias de abutre-preto no país. Os últimos dados de nidificação comprovada datavam de 1973. Em 1996 houve tentativas de nidificação em duas plataformas mas sem sucesso. A espécie voltou a nascer em Portugal em 2010, no Tejo Internacional. No final de Julho de 2010 foram registadas duas crias no Tejo Internacional, a Tejo e Aravil, filhas de casais provenientes de Espanha.
Hoje, em território português há três núcleos reprodutores, incluindo o Douro Internacional e também o Alentejo (na zona de Moura) e o Tejo Internacional. É nesta última região que está hoje a maior colónia onde foram registados este ano, pelo menos, 30 casais.
Já no Verão deste ano, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tinha confirmado o sucesso reprodutor de um casal de abutre-preto na Reserva da Malcata. Agora, foram descobertos outros ninhos nesta área protegida. Assim, a colónia da Malcata será o terceiro maior núcleo reprodutor de abutre-preto em Portugal.
“Até à data, a Rewilding Portugal confirmou um total de três ninhos, podendo ainda existir mais casais nesta colónia. Por isso, nos próximos meses continuarão os esforços de monitorização”, explicou a associação.
A descoberta dos ninhos foi possível graças ao seguimento dos movimentos de um juvenil que foi marcado pela Rewilding Portugal com emissor GPS/GSM no dia 26 de Novembro, em colaboração com o CIBIO-InBIO.
“O seguimento dos movimentos deste juvenil permitiu à equipa da Rewilding Portugal descobrir o primeiro dos três ninhos onde o juvenil, nascido na Reserva, ainda coabita com os seus progenitores. No segundo ninho, observou-se ainda outro juvenil e no terceiro um casal.”
A marcação de abutres-pretos com emissor GPS/GSM está a permitir obter mais informação sobre a ecologia da espécie.
A associação quer obter mais informação “sobre a sua ecologia espacial e alimentar e, em particular, como utilizam o habitat, as áreas protegidas e Rede Natura 2000 e os recursos alimentares no Grande Vale do Côa e qual o impacto das ações de renaturalização desenvolvidas pela organização, por exemplo a promoção de condições para o aumento do número de herbívoros silvestres, introdução de cavalos semisselvagens e promoção do licenciamento de Áreas Privadas de Alimentação de Aves Necrófagas, onde cadáveres de ruminantes ficam disponíveis para os abutres em explorações pecuárias, ao invés de ser enterrados ou recolhidos (prevista no PACAN – Plano de ação para a conservação de aves necrófagas, aprovado em agosto de 2019)”.
Este trabalho da Rewilding Portugal também está a ser desenvolvido com outras aves necrófagas, como o grifo (Gyps fulvus), desde 2019, em colaboração com o CIBIO-InBIO e financiado pela fundação ARCADIA no âmbito do Endangered Landscapes Programme e das ações de recuperação das populações de aves necrófagas na Europa coordenadas pela Rewilding Europe.
São várias as ameaças ao abutre-preto em Portugal: “choques e eletrocussão com linhas elétricas, envenenamento, perturbação humana e destruição de habitat”, enumera a associação.
“As aves necrófagas desempenham um papel importante na remoção de cadáveres da natureza, contribuindo para a reciclagem da matéria morta e evitando a sua acumulação, eliminando potenciais fontes de doenças. São o último elo das cadeias alimentares e uma peça fundamental num ecossistema saudável.”
O abutre-preto reproduz-se em Portugal, Espanha, Bulgária, Grécia, Turquia, Arménia, Azerbaijão, Georgia, Ucrânia, Rússia, Uzbequistão, Cazaquistão (aqui as populações estão em declínio severo por causa do declínio da sua principal presa, o antílope de Saiga – Saiga tartarica), Tajiquistão, Turquemenistão, Quirguistão, Irão, Afeganistão, Norte da Índia, Norte do Paquistão, Mongólia e China. Em França há uma pequena população reintroduzida.