Cerca de 450 pessoas vindas de toda a Espanha ajudaram a anilhar mais de 600 crias de flamingos (Phoenicopterus roseus) na Reserva Natural Laguna de Fuente la Piedra, em Málaga, no sábado passado. Esta anilhagem já é uma tradição há 29 anos.
Os voluntários juntaram-se a cientistas, anilhadores e conservacionistas para ajudara a anilhar as aves. O objectivo é “seguir cada indivíduo e estudar diferentes aspectos da biologia desta espécie”, explica a Junta da Andaluzia em comunicado.
As crias foram capturadas na madrugada de sexta-feira para sábado. Os voluntários foram encarregados de levar os flamingos para os seis postos médicos montados na lagoa. Aqui, cada ave foi marcada com uma anilha de metal na pata direita e outra de plástico na pata esquerda. As anilhas de plástico permitem identificar as aves à distância, sem ser preciso capturá-las.
Depois foram medidas as asas, o bico e o tarso (parte da pata), registado o peso e recolhidas amostras. Por fim, as aves foram sendo libertadas pelas mãos dos voluntários, que as levavam nos braços e pousavam no chão para as deixar seguir livremente.
Todo este processo demorou cerca de quatro horas.
Em 2015, a colónia de flamingos desta reserva natural é o principal núcleo reprodutor do Mediterrâneo Ocidental e do Noroeste de África, com 15.000 casais. O total de crias chega às 13.025.
Há já 29 anos que se faz a anilhagem de flamingos em Fuente Piedra. No primeiro ano, em 1986, foram marcados 17.173 flamingos. Ao longo do tempo, “este tornou-se num dos acontecimentos mais importantes de voluntariado ambiental”, salienta a Junta da Andaluzia. Entre os voluntários estiveram 120 moradores de Fuente de Piedra.
“A informação obtida é imprescindível para a correcta gestão desta colónia e para avaliar o uso que a espécie faz da rede de zonas húmidas andaluzes”, acrescenta.
Loli Castellanas, voluntária que veio de Madrid de propósito, disse à agência espanhola EFE que esta é uma experiência que “merece a pena viver”. Apesar de se ter levantado às quatro da manhã. “Não faz mal madrugar porque ficas com uma experiência onde cabe a natureza, o convívio e o trabalho em equipa”, acrescentou.
O flamingo não nidifica em Portugal. No final dos anos 80 foi registada uma tentativa de nidificação nos sapais de Castro Marim, mas sem sucesso. Depois, outro caso de nidificação da espécie foi anunciado em Maio de 2010, na Lagoa dos Salgados, no Algarve, entre os concelhos de Albufeira e Silves. Um observador de aves encontrou dois ninhos e avisou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea). Depois de a associação lá ter ido, confirmou a nidificação. Mas não houve crias.
Em Portugal, a espécie pode ser observada durante todo o ano, nas zonas húmidas litorais desde o estuário do Tejo até ao Algarve. Procura águas pouco profundas ou lamas entre-marés. A maioria dos indivíduos vem das colónias de Espanha, nomeadamente de Fuente Piedra e do Delta do Ebro, e do Sul de França (Camargue). Estima-se que 7.500 flamingos passem o Inverno em Portugal, segundo o livro “Aves de Portugal” (2010). Os locais mais importantes são os estuários do Tejo, do Sado, a Ria Formosa e a Reserva Natural de Castro Marim.