Uma equipa internacional de investigadores colocou chapins-azuis e chapins-reais à experiência no campo para perceberem como é que os mais novos ficam a saber o que não devem comer.
Cientistas da Finlândia, Nova Zelândia, Colômbia e Reino Unido comprovaram que há aves que aprendem a saber o que comer e o que evitar, como é o caso de insectos de cores vivas, que podem ter um sabor repelente ou mesmo ser tóxicos.
“Sabíamos há muito tempo que os predadores, como é o caso das aves, associam sinais de aviso como cores vivas ao perigo de comerem certos tipos de presas. No entanto, nunca tínhamos conseguido demonstrar em meio natural como é que os predadores aprendem sobre esse anúncios aposemáticos das presas”, explicou um dos autores principais do artigo publicado na revista Nature Communications, Rose Thorogood. O aposematismo acontece quando um animal adopta cores vivas como defesa contra possíveis predadores.
“Se os predadores não reconhecerem o sinal, então as presas são altamente vulneráveis face a predadores ingénuos. Esse é um grande problema que as presas enfrentam ano após ano, quando surgem os predadores juvenis”, acrescentou a investigadora da Universidade de Helsínquia. “Como o aposematismo está muito espalhado na natureza, quisemos resolver esta questão num cenário real.”
Numa série de experiências em campo desenvolvidas por uma estudante de doutoramento da Universidade de Cambridge, a equipa decidiu testar a teoria da transmissão social de informação e identificar as possíveis implicações para as relações entre predadores e presas.
Foram colocados pares de alimentadores numa zona de bosque: um com pedaços de amêndoas de sabor natural (presas indefesas, o outro com pedaços de amêndoa de cores diferentes e sabor amargo (presas aposemáticas). Chapins-azuis e chapins-reais de populações da zona podiam reunir-se em volta e apanhar comida, mas também observar as tentativas uns dos outros.
Nos intervalos de tempo entre estas experiências, os alimentadores tinham apenas pedaços de amêndoa de sabor natural, e o comportamento das aves continuou a ser seguido. Isso foi possível através do uso de tecnologia RFID, que permitiu localizar os chapins através de radiofrequência.
Desta forma, os cientistas observaram que as aves aprenderam a evitar as amêndoas amargas passados oito dias, mas os adultos aprenderam mais depressa do que os juvenis. “Importante é que a informação sobre as amêndoas amargas pareceu fluir através de ligações sociais previstas, especialmente dos adultos para os juvenis. Isso oferece uma solução para o problema dos predadores ingénuos, pois podem aprender a observar o comportamento de outros e não por tentativa e erro”, considerou a equipa, concluindo que “desta forma as pressões de selecção sobre as presas aposemáticas fica reduzida”.