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Gaivota-de-patas-amarelas, com a plumagem característica a partir do quarto ano de idade. Foto: Jörg Hempel / Wiki Commons

Estamos todos convidados a procurar gaivotas na cidade

30.04.2021

A primeira contagem de gaivotas urbanas em Portugal começa já este sábado, 1 de Maio, e vai contribuir para a realização do censo nacional da gaivota-de-patas-amarelas.

Esta iniciativa de ciência cidadã, lançada pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), está aberta à participação de todos aqueles que quiserem registar a observação de gaivotas, ninhos e crias dentro da sua cidade.

O objectivo é saber-se mais sobre a situação actual da gaivota-de-patas-amarelas (Larus michaellis) em Portugal. Esta espécie permanece no país durante todo o ano e tem vindo a alargar a sua área de nidificação – os locais onde se reproduz – incluindo nos meios urbanos, explica Nuno Oliveira, técnico de conservação marinha da SPEA e coordenador desta iniciativa de ciência cidadã.

Quem quiser participar, precisa apenas de procurar indícios da presença destas gaivotas a nidificarem em zonas urbanas, preenchendo os dados pedidos num formulário online com uma das opções: se viu uma gaivota sozinha ou aos pares num habitat de nidificação, gaivotas a fazer chamamentos territoriais ou defender o território; gaivotas a incubar, ovos ou crias. Mas se não encontrar qualquer sinal de gaivotas a reproduzirem-se na zona, também é importante esse registo.

A acção realiza-se até 31 de Julho, sendo que tanto nesse mês como no mês anterior já se conseguem observar gaivotas juvenis, indicou Nuno Oliveira à Wilder.

Para já, por estes dias, é possível observar estas gaivotas nos seus ninhos. Tal como fazem na natureza, quando escolhem as falésias junto ao mar para nidificar, também na cidade optam por sítios mais resguardados – muitas vezes em cima de telhados. “Em núcleos urbanos, têm tendência para seleccionar as zonas mais altas, mas onde estejam protegidas das intempéries”, explicou Nuno Oliveira à Wilder. Assim, podem optar pelo cimo de um prédio de sete ou oito andares, ou pelo terraço de uma habitação só com dois pisos – vai depender da área onde estão. “Fazem o típico ninho com palhas ou pedaços de ervas, e também penas, mas também acabam por usar pedaços de plásticos e cordas.”

Os dados recolhidos no âmbito desta iniciativa vão ajudar a identificar locais importantes para a realização do censo nacional da população nidificante da gaivota-de-patas-amarelas.

Este censo nacional, que vai ser realizado por especialistas, pretende avaliar o estado actual da gaivota-de-patas-amarelas por todo o território nacional, estimar o número de casais reprodutores e também a sua área de distribuição. É uma iniciativa conjunta da SPEA, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (Madeira) e da Direção Regional dos Assuntos do Mar (Açores).

Nuno Oliveira lembra que o último censo nacional da espécie realizou-se há quase 20 anos, em 2003. Nessa altura, os dados recolhidos mostraram que Peniche marcava o limite norte da área de distribuição destas gaivotas. Entretanto, nos dias de hoje a espécie já está presente na costa portuguesa toda, incluindo até Caminha, junto à fronteira norte com Espanha.


Saiba mais.

Assista aqui a um vídeo sobre esta iniciativa de ciência cidadã.


Conte as Aves que Contam Consigo

A série Conte as Aves que Contam Consigo insere-se no projeto “Ciência Cidadã – envolver voluntários na monitorização das populações de aves”, dinamizado pela SPEA em parceria com a Wilder – Rewilding your days e o Norwegian Institute for Nature Research (NINA) e financiado pelo Programa Cidadãos Ativos/Active Citizens Fund (EEAGrants), um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian, em consórcio com a Fundação Bissaya Barreto.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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