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Crias de toirão-americano. Foto: USFWS Mountain-Prairie / Wiki Comuns

Há um novo toirão-americano para ajudar a salvar esta espécie. E é clonado

23.02.2021

Os esforços para a recuperação do toirão-americano ganharam uma nova esperança com o nascimento de Elizabeth Ann, no passado dia 10 de Dezembro.

Esta pequena fêmea, que tem agora pouco mais de dois meses de idade, veio trazer uma nova esperança aos esforços de conservação desta espécie nativa do continente americano.

À semelhança da ovelha Dolli, pioneira das técnicas de clonagem em 1996, Elizabeth Ann foi agora clonada a partir das células congeladas de Willa, um toirão-americano que viveu há mais de 30 anos. O anúncio foi feito em comunicado pelo US Fish and Wildlife Service (USFWS, Departamento de Peixes e Vida Selvagem, em português), que gere as áreas protegidas e protege a fauna selvagem nos Estados Unidos.

Elizabeth Ann, o primeiro toirão-americano e primeira espécie americana em perigo clonada, com 68 dias de idade. Foto: USFWS National Black-footed Ferret Conservation Center

Em causa está uma parceria entre esta agência estatal e a organização de conservação de fauna selvagem Revive & Restore, a empresa de clonagem animal ViaGen Pets & Equine, o Zoo de São Diego e a AZA – Associação de Zoos e Aquários.

“Embora esta pesquisa seja preliminar, é a primeira clonagem de uma espécie nativa ameaçada de extinção na América do Norte e providencia-nos uma ferramenta promissora para os esforços continuados que temos tido para conservar o toirão-americano”, afirmou Noreen Walsh, director da região de Mountain-Prairie no USFWS, citado no comunicado.

Actualmente, todos os toirões-americanos – animal também conhecido por doninha-de-patas-pretas – são descendentes de apenas sete indivíduos. Isso resulta em grandes desafios genéticos para a recuperação desta espécie de mustelídeo, conhecida pelo nome científico Mustela nigripes, que pertence ao mesmo grupo das doninhas e dos texugos.

O que a equipa deste projecto acredita é que a clonagem vai ajudar a criar mais diversidade genética e criar mais resistência a doenças que afectam a espécie, possibilitando a criação de novas populações selvagens.

“Sem uma quantidade apropriada de diversidade genética, uma espécie fica muitas vezes mais susceptível a doenças e anormalidades genéticas, tal como tem uma capacidade de adaptação limitada às condições da natureza e uma taxa menor de fertilidade”, explica o USFWS, que nota que “uma diversidade genética limitada torna extremamente difícil recuperar totalmente uma espécie”.

Já se pensou que estavam extintos

Há cerca de 30 anos, pensava-se que o toirão-americano estava extinto, mas foi então que um rancheiro do estado do Wyoming descobriu uma pequena população desta espécie nos seus terrenos.

Esses animais foram capturados pelo Departamento de Caça e Vida Selvagem do Wyoming e foram a origem de um programa de reprodução para a recuperação desta espécie, mas o facto de serem tão poucos criou uma limitação à diversidade genética que se mantém até hoje.

Crias de toirão-americano. Foto: USFWS Mountain-Prairie / Wiki Comuns

São precisamente esses problemas que a nova fêmea clonada poderá agora ajudar a ultrapassar, o que é possível porque há cerca de 30 anos o Departamento de Caça e Vida Selvagem do Wyoming decidiu preservar os genes de Willa e enviá-los para um programa de preservação genética gerido pelo Zoo de São Diego. Willa foi um dos últimos toirões-americanos selvagens capturados mas não tinha descendentes, pelo que não pertence aos sete indíduos originais da população actual da espécie.

Um estudo genómico revelou que Willa possuía três vezes mais variações únicas do que a população de toirões-americanos que hoje vive nos Estados Unidos. Desta forma, se Elizabeth Ann se reproduzir com sucesso, poderá fornecer uma diversidade genética sem par nesta espécie.

A trabalhar desde 2018

Foi em 2018 que o USWFS emitiu a primeira licença para permitir a pesquisa em clonagem de espécies ameaçadas, permitindo assim que a organização Revive & Restore iniciasse análises genéticas e os primeiros testes experimentais. Esse trabalho apenas foi possível com a colaboração da empresa ViaGen Pets & Equine, que criou embriões a partir das células congeladas de Willa e implantou-os numa fêmea de toirão doméstico, que funcionou como uma “barriga de aluguer”.

A meio da gestação, a fêmea foi transferida para o Centro de Conservação do Toirão-Americano, gerido pelo USFWS, onde Elizabeth Ann finalmente nasceu. Mas este processo não terminou aqui, uma vez que “os investigadores continuam a monitorizar de perto a jovem cria para avaliar a sua viabilidade e outros desenvolvimentos”, ressalva a agência americana.

“Elizabeth Ann, tal como a sua ‘mãe de aluguer’, é mantida separada dos outros toirões-americanos nascidos no centro de conservação, e vai viver nesse espaço enquanto se prossegue com a investigação adicional. A equipa está a trabalhar na produção de mais toirões-americanos nos próximos meses, como parte dos esforços de investigação em curso.”


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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