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Foto: Bertvthul/Wiki Commons

Cientistas alertam para os problemas das reflorestações em larga escala

26.01.2021

Um grupo internacional de investigadores avisa que muitas acções de reflorestação estão a falhar os alvos pretendidos. E advoga 10 “regras de ouro” que devem ser seguidas.

Hoje em dia, um pouco por todo o planeta, anunciam-se acções de restauro de florestas para fazer frente à perda de biodiversidade, às alterações climáticas e também a problemas de pobreza, notam estes cientistas, que assinam um artigo publicado na Global Change Biology.

O Desafio de Bona, lançado em 2011, definiu por exemplo que até 2030 deverão ser restaurados 350 milhões de hectares de floresta. Envolve actualmente iniciativas em mais de 60 países, que abarcam 210 milhões de hectares de terras lesflorestadas e degradadas. No entanto, muitas campanhas como esta têm maus resultados.

No âmbito do Desafio de Bona e de ampanhas semelhantes, estima-se que “apenas um terço” das acções têm como objectivo o restauro de florestas naturais, exemplificam estes autores, liderados por cientistas dos Royal Botanic Gardens, Kew, no Reino Unido.

E sublinham que “há preocupações crescentes com o facto de várias iniciativas ambiciosas não conseguirem atingir os três objectivos chave de sequestro de carbono, recuperação da biodiversidade e formas de vida sustentáveis”. Tudo porque esses projectos “podem ter definido metas irrealistas e podem não ter percebido as consequências negativas”, avisam.

Mas que maus resultados são esses? Perda de espaço para espécies nativas, devido à destruição de ecossistemas não-florestais; aumento de espécies invasoras; redução de serviços de polinização; redução de colheitas e de produção de comida e também disrupção do ciclo da água, entre outros, enumera a equipa.

“Plantar as árvores certas nos lugares certos deve ser uma importante prioridade para todas as nações, num momento em que encaramos uma década crucial para assegurar o futuro do nosso planeta”, avisou Paul Smith, um dos investigadores autores deste artigo, em declarações à BBC.

Estes cientistas aconselham 10 “regras de ouro” a serem seguidas em iniciativas de reflorestação:

1. Proteger em primeiro lugar a floresta que já existe: “Florestas muito antigas e intactas são um importante sorvedouro de carbono devido à sua estrutura complexa, grandes árvores, solos acumulados e resiliência relativa face aos fogos e às secas”, avisam. Também valiosas são florestas degradadas ou mais recentes.

2. Envolver a população local: É importante envolver as comunidades locais em todas as fases do projecto, uma vez que são essas pessoas que mais benefícios podem obter no futuro.

3. Recuperar o máximo de biodiversidade possível tendo em vista vários objectivos: Restaurar a biodiversidade aumenta o sequestro de carbono e ajuda a obter outros ganhos sócio-económicos.

4. Escolher as áreas apropriadas para reflorestar: A plantação de árvores deve acontecer em zonas onde já houve floresta ou para expandir ou ligar florestas que já existem.

5. Recorrer à regeneração natural sempre que possível: Segundo os autores, se houver condições para isso, pode ser mais barato e eficiente do que plantar árvores. “Funciona melhor em locais ligeiramente degradados ou naqueles próximos de florestas.”

6. Plantar árvores que maximizam a biodiversidade: Plantar sempre uma mistura de árvores, usando o máximo possível de espécies nativas, incluindo aquelas que são raras, endémicas ou estão em risco de extinção. Promover interacções e evitar plantas invasoras.

7. Recorrer a árvores resistentes às alterações climáticas: Dar prioridade a espécies locais, que já estão adaptadas ao clima e às mudanças que poderá ter no futuro.

8. Planear as infra-estruturas com tempo: Usar ferramentas e redes de fornecimento já disponíveis localmente ou integrá-las no projecto, dar formação e recorrer ao conhecimento local.

9. Aprender fazendo: Adaptar os conhecimentos científicos aos conhecimentos obtidos a nível local. Começar de preferência por projectos mais pequenos antes de avançar com acções maiores.

10. Fazer com que dê dinheiro à população local: É importante assegurar que os benefícios económicos chegam a comunidades locais pobres e rurais e que o projecto tem viabilidade económica, advertem os cientistas. Há várias fontes de rendimento sugeridas: créditos de carbono, aposta em produtos que não estão ligados à indústria madeireira (conhecidos em inglês pela sigla NTFP), serviços culturais e serviços ligados à preservação de bacias hidrográficas.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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