Fotos: Maria Matos

Região do Oeste já tem uma Estação de Estudo de Borboletas Nocturnas

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A Estação de Estudo de Borboletas Nocturnas do Planalto das Cesaredas arrancou em Outubro para descobrir quantas espécies existem no local e como se distribuem.

A primeira sessão de contagem de borboletas nocturnas desta Estação de Estudo aconteceu a 16 de Outubro. Ao longo de quatro horas foram registadas 71 borboletas de 33 espécies diferentes neste planalto da região Oeste e que abrange os concelhos da Lourinhã, Bombarral, Óbidos e Peniche.

Foto: Maria Matos

“Sabe-se ainda muito pouco sobre a distribuição e o padrão de ocorrência de uma boa parte das espécies”, disse à Wilder Hélder Cardoso, naturalista e coordenador da Estação de Estudo. As borboletas nocturnas são “um grupo com cerca de 2.600 espécies no nosso país e ainda há espaço para descobrir novas espécies para Portugal e até para a Ciência.

Hélder Cardoso faz amostragens de borboletas nocturnas no planalto das Cesaredas desde 2012. Facilita a sua casa ficar na orla do planalto. “De forma a abrir ao público, resolvi falar com a Associação de Amigos do Planalto das Cesaredas e propor realizar este projecto em conjunto.” E assim a Estação de Estudo começou, oficialmente, em Outubro deste ano.

Todos os meses há uma sessão e a amostragem dura toda a noite.

Foto: Maria Matos

“Todos os indivíduos são contabilizados e identificados até à espécie, sempre que possível”, explicou o naturalista. Além disso está a ser criada uma base de dados fotográfica das diferentes espécies e variações dentro da mesma espécie.

Tudo acontece na Quinta do Castelo, na zona central do Planalto das Cesaredas, propriedade privada de Maria Matos, sócia e fundadora da Associação. Este espaço “permite ter uma sala de apoio a visitantes e electricidade para ligar a armadilha luminosa” para atrair as borboletas.

Foto: Maria Matos

Um dos objectivos desta Estação de Estudo é, segundo Hélder Cardoso, “a sensibilização do público para a conservação deste grupo de espécies para o facto de que a sua conservação passa pela preservação dos habitats”. Outro objectivo é “compreender a distribuição, a ocorrência e a diversidade de espécies que ocorrem no Planalto das Cesaredas”.

As borboletas nocturnas são um excelente indicador da qualidade dos habitats. Monitorizá-las regularmente é, assim, “uma ferramenta importante para perceber alterações nesses habitats”. 

“Em Portugal existem poucos locais onde é feita uma monitorização continuada e prolongada no tempo de borboletas nocturnas, pelo que uma longa série de dados é simplesmente inexistente. Não havendo esta continuidade, não é possível saber qual o estado das populações de borboletas nocturnas e de que forma se têm vindo a alterar ao longo do tempo”, comentou o coordenador da Estação de Estudo. 

Foto: Maria Matos

Esta Estação de Estudo, que agora dá os primeiros passos, é um importante contributo. A monitorização acontece no Planalto das Cesaredas, uma área de calcários com uma variedade de micro-habitats, desde vales encaixados com formações de carrasco, aroeiras e carvalhos, matos, bosquetes de pinheiros e eucalipto, a áreas agrícolas, escarpas calcárias e ribeiros sazonais.

“Toda esta heterogeneidade de ocupação do solo reflecte-se também numa boa variedade de espécies de borboletas nocturnas, tornando o planalto um local interessante para desenvolver este projecto.”

Foto: Maria Matos

Estudar aves de dia e borboletas de noite

Qualquer pessoa pode participar nas amostragens desta Estação de Estudo, mas só nas primeiras horas da noite. “Os participantes têm oportunidade de conhecer um pouco melhor os aspectos da biologia das borboletas nocturnas, ajudar na identificação das diferentes famílias e espécies”, explicou Hélder Cardoso. “O facto de haverem sessões regulares (todos os meses) permite que os participantes possam ir progredindo no conhecimento das borboletas nocturnas.” 

Foto: Maria Matos

Para Hélder Cardoso, a paixão pelas borboletas nocturnas começou em 2011 depois de uma visita às instalações da Associação “A Rocha” em Portimão. “Fui lá para leccionar um workshop sobre aves e tive oportunidade de ajudar na identificação de borboletas nocturnas, no âmbito de uma monitorização regular que estavam a fazer. Fiquei imediatamente muito entusiasmado com a variedade de espécies e o desafio de as identificar”, contou. 

Pouco tempo depois estava a construir as suas próprias armadilhas luminosas e a ler o máximo que podia sobre o assunto. 

Foto: Hélder Cardoso

“Neste momento divido o meu tempo entre projectos na área da ornitologia e o estudo das borboletas nocturnas. Percebi que podia estudar aves durante o dia e borboletas durante a noite, é a combinaçã perfeita.” 

Uma das suas espécies de borboletas nocturnas preferidas é a Dysgonia algira. “Esta foi uma das primeiras espécies que surgiu à luz quando comecei a monitorizar borboletas nocturnas.”

 

Dysgonia algira. Foto: Hélder Cardoso

É uma espécie relativamente abundante na Primavera e no Verão e distribui-se por toda a bacia do mediterrâneo, Península Ibérica e Europa Central. A larva alimenta-se de uma grande variedade de plantas como silvas, roseiras, salgueiros e giestas. 

Hélder Cardoso também considera fascinante “o vasto e complexo mundo das micro borboletas”. Esta é “uma divisão empírica que compreende várias famílias, mas que são por comparação e geralmente (existem excepções) mais pequenas que as macro borboletas”.

Mas esta paixão pelas borboletas nocturnas pode ser um desafio. “A grande variedade de espécies e semelhança entre algumas delas, aliada à pouca bibliografia sobre as borboletas nocturnas do sul da Europa, torna o desafio complexo ao início”. 

Hélder Cardoso considera “importante persistir e, acima de tudo, deixar por identificar aquilo que não temos a certeza. Com o tempo vão havendo cada vez menos borboletas ‘misteriosas’”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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