O medronheiro (Arbutus unedo) é uma espécie impar, com um ciclo de desenvolvimento fora do habitual. Com um período de floração muito longo, as suas flores surgem no outono, ao mesmo tempo que ocorre a frutificação. Por isso é comum verem-se flores e frutos, em simultâneo na mesma planta.
Esta espécie é especial e tem um enorme potencial ornamental. Pode apresentar troncos únicos ou múltiplos, o que a torna ainda mais interessante do ponto de vista estético. As flores são muito decorativas e abundantes e o fruto redondo faz lembrar pequenos morangos. Os ingleses chamam-lhe Strawberry Tree.
Numa época em que a maioria das espécies se prepara para o período de repouso vegetativo, o medronheiro proporciona um leque de cores que nos transportam para uma paisagem singular. As suas folhas sempre verdes contrastam com os tons brancos e rosados das suas flores e os amarelos, laranjas e vermelhos dos seus frutos que, devido aos diferentes estados de maturação em que se encontram, podem apresentar diferentes cores.
É, sem dúvida, uma das espécies mais vistosas nos jardins e espaços florestais nesta época do ano.
O medronheiro
O medronheiro é uma planta nativa da região mediterrânica, Europa Ocidental e Sul da Irlanda. Em Portugal encontra-se distribuído por todo o continente, localizando-se as maiores manchas a Sul.
Sabe-se que esta espécie surgiu há dezenas de milhões de anos, antes do atual clima existir. Crescia em regiões de clima subtropical, sem geadas invernais, sem secura estival e sem grandes oscilações térmicas e, por isso, tem maior ocorrência em regiões com condições similares.
É uma pequena árvore, de crescimento lento, que raramente ultrapassa os 5 metros de altura podendo, no entanto, em alguns locais atingir os 10 metros. De folhagem persistente, ou seja mantém as suas folhas durante todo o ano, apresenta uma copa arredondada e irregular. O seu tronco tortuoso, com tons castanhos e avermelhados, forma “escamas” acinzentadas que têm tendência a descascar nos exemplares mais velhos.
Pertencente à família das Ericaceae – que engloba outras espécies de pequeno porte, como a camarinha, a urze, o mirtilo e o rododendro – é considerada uma espécie bastante rústica e resistente.
Cresce bem em solos pobres, degradados, secos e com níveis de salinidade elevada. Porém prefere solos ricos em matéria orgânica e pH ácido.
Tem uma grande capacidade de resistência aos impactos ambientais, sendo resistente à secura, às temperaturas elevadas e tem uma elevada capacidade de regeneração após a passagem de um incêndio.
Flores e frutos no Outono
Uma planta adulta exibe em simultâneo flores e frutos em diferentes estados de maturação, podendo decorrer da floração à colheita cerca de 12 meses.
As pequenas flores brancas a rosadas, dispostas em cachos pendentes, surgem de setembro a fevereiro e são maioritariamente polinizadas por abelhas que produzem um mel de excelente qualidade.
Já os frutos, formados das flores do ano anterior, amadurecem entre outubro e novembro e demoram cerca de 1 ano a atingir o seu estado final de maturação. Um medronheiro pode começar a frutificar por volta dos 5 a 6 anos, podendo produzir em média 10 a 20 kg de frutos por ano.
O fruto do medronheiro – o medronho – é uma baga carnuda, com cerca de 2 a 2,5 cm de diâmetro, de cor avermelhada quando madura, com pequenas sementes de cor acastanhada. É comestível, de sabor ligeiramente ácido mas agradável, muito apreciado em compotas, aguardentes e licores. A melhor forma de o consumir é ao natural, de preferência diretamente da árvore.
Também é muito apreciado pelas aves e mamíferos por corresponder a um dos poucos alimentos disponíveis numa época do ano difícil para as espécies selvagens.
Outras curiosidades
A madeira de medronheiro tem bastante dificuldade em arder, pelo que esta espécie tem um papel importante no combate aos incêndios florestais, pois apresenta uma elevada resistência ao fogo.
Caso arda, é uma planta pioneira, ou seja, uma das primeiras plantas a surgir após um incêndio. Consegue regenerar muito facilmente a partir das suas raízes e após 2 a 3 anos já está pronta a produzir.
Não tem um crescimento reto, logo a madeira desta árvore não é adequada para a construção. Ainda assim tem múltiplas utilizações, como lenha, carvão e cachimbos.
Como acontece com a maioria das espécies vegetais, a designação científica desta espécie (em latim) ajuda a conhecer algumas das suas particularidades. Arbutus indica que se trata de uma pequena árvore e unedo provém do numeral -unus (um) e do verbo latino -edo (comer), que significa, “comer apenas um”. Existe a crença de que esta designação se deve ao facto dos seus frutos maduros – os medronhos, embriagarem e provocar dores de cabeça, devido ao teor alcoólico que podem conter, mas esta afirmação é totalmente falsa. O que embebeda é a aguardente, que é produzida em alambique e onde os medronhos passam por um longo processo de fermentação.