Este ano, o programa Migra da Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) marcou 49 aves migradoras de cinco espécies com dispositivos GPS para conhecer os seus movimentos pelo mundo.
Entre as espécies marcadas este ano, numa campanha de captura e marcação onde participaram mais de 100 pessoas, estão o tartaranhão-azulado (Circus cyaneus) e o milhafre-real (Milvus milvus), ambas espécies que em Portugal têm as suas populações residentes Criticamente Em Perigo de extinção.
Desde o início do programa Migra, em 2011, já foram marcadas 1.151 aves de 33 espécies diferentes, como por exemplo a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), o abutre-preto (Aegypius monachus), a cegonha-branca (Ciconia ciconia) e a cegonha-preta (Ciconia nigra).
O grande objectivo é conhecer os movimentos migratórios das aves de Espanha, através destes dispositivos móveis de seguimento remoto, com 10 gramas de peso. Assim é possível “saber onde se encontram as aves diariamente, mais especificamente quais as suas rotas migratórias e zonas de descanso durante as viagens, quais as zonas de invernada e de alimentação durante a época de reprodução”, explica a SEO/Birdlife em comunicado divulgado esta segunda-feira.
A conservação das aves migradoras, que atravessam dezenas de países durante a sua vida, apenas é possível através a cooperação internacional, defende a SEO/Birdlife. Para isso, acrescenta, é fundamental conhecer onde se encontra cada espécie em cada momento do ano.
Além disso, recorda, as aves migradoras são excelentes bioindicadores da saúde do planeta, uma vez que a sua trajectória migratória é afectada pelas alterações climáticas.
No caso do tartaranhão-azulado e do milhafre-real, os ornitólogos acreditavam que as populações espanholas eram sedentárias e que os reprodutores estavam sempre nos seus territórios.
Mas foram observados muitos milhafres-reais a realizar movimentos migratórios de curta ou média distância até outras zonas de invernada ou a fazer outros movimentos durante o Inverno. Por isso, afinal não estão sempre perto dos seus ninhos.
Da mesma maneira, alguns tartaranhões-azulados permanecem nos seus territórios todo o ano, mas uma parte significativa da população desloca-se durante o Inverno para outras zonas, algumas até centenas de quilómetros dos seus ninhos.
Por isso, os peritos espanhóis defendem que é necessário conservar e gerir, para estas espécies, não apenas as zonas onde se reproduzem, mas também as zonas onde passam o resto do ano, dado que não são sedentárias como se pensava.
“As aves migratórias não conhecem fronteiras e por isso a sua conservação futura depende de proteger as zonas onde se encontram em cada momento do ano, dentro e fora das nossas fronteiras”, comentou Ana Bermejo, coordenadora do programa Migra.
Das 1.151 aves marcadas desde o início deste programa, 692 aves de 32 espécies já forneceram informação considerada útil.
O programa Migra conta com mais de 350 colaboradores de 50 entidades em Espanha e no estrangeiro.