O registo da passagem do quebra-ossos Transhumancia em território português foi o nono obtido durante o último século, de acordo com informações de um fórum português de observadores de aves.
A passagem do quebra-ossos Transhumancia em Portugal, anunciada em Junho passado, foi registada através do emissor GPS colocado neste abutre libertado na Andaluzia em 2019, no âmbito de um projecto de reintrodução desta espécie que ali se extinguiu em 1986.
A notícia divulgada em Junho passado pela Vulture Conservation Foundation (VCF) dava conta de que este era o quinto registo de um quebra-ossos em Portugal no espaço de 100 anos. No entanto, dados disponíveis no Fórum Aves, que junta observadores de aves em Portugal, dão conta de pelo menos mais quatro presenças da espécie em anos recentes e levaram à actualização da informação da VCF.
Assim, em 2019 há registos do quebra-ossos Gea em território nacional. Esta ave nascida na natureza na região da Andaluzia, no Verão de 2018, terá atravessado a fronteira para o lado português a 23 de Maio desse ano. Em poucas horas subiu o Vale do Côa, passou pela zona da Faia Brava e atravessou depois o rio Douro. Regressou rapidamente a Espanha.
Já em 2018 tinha-se dado o único avistamento com fotografia de um quebra-ossos, desta vez no Algarve, identificado como Rayo – outra das aves que têm sido libertadas na Andaluzia, no âmbito de um projecto de reintrodução.
Nos anos anteriores, entre Abril e Junho de 2017, Junho de 2016 e Maio de 2015, há registos da passagem de outros quatro abutres quebra-ossos ligados à mesma região espanhola. Tugia em Abril de 2017, Góntar em Maio e Junho do mesmo ano, Bigup em 2016 e Bujaraiza em 2015.
De Monfortinho a Aldeia da Ponte
Mas os dois primeiros registos em anos recentes da presença da espécie remontam a 2011, mais uma vez ligados a informação transmitida por emissores GPS. Em Maio desse ano, Tranco, outro dos quebra-ossos reintroduzidos na Andaluzia, terá entrado em Portugal por Monfortinho, indo até próximo de Belmonte e saindo depois para Espanha por Aldeia da Ponte.
Tranco regressou ainda em Junho, entrando em território português por Barca de Alva, indo até Torre de Moncorvo e saindo por Bemposta. Ainda nesse mesmo mês, Huescar, também reintroduzido na região espanhola, terá entrado em Portugal pela zona de Monfortinho, deslocando-se até Monsanto.
Em Portugal, onde estas grandes aves costumavam reproduzir-se há alguns séculos, os últimos relatos oficiais sobre a sua presença datam do final do século XIX.
Na Andaluzia, o projecto para a reintrodução de quebra-ossos começou em 1996 e está entregue a uma parceria entre a VCF e a Junta da Andaluzia. As primeiras libertações aconteceram em 2006. Desde então, contando com oito aves libertadas este ano, até Julho próximo terão sido introduzidos 71 quebra-ossos, nas províncias de Granada e Jaén.
Há hoje três casais de quebra-ossos e outros 43 indivíduos da espécie confirmados na região, onde este ano nasceram pelo menos duas crias na natureza.
[divider type=”thin”]Saiba mais sobre o quebra-ossos
Como é um quebra-ossos: esta é uma ave com quase três metros de envergadura de asa e até oito quilos de peso. A plumagem pode ser muito escura na sua fase juvenil e tornar-se mais clara com as sucessivas mudas. Mas talvez o que melhor a caracteriza são as barbas escuras perto do bico e o vermelho vivo em redor dos olhos.
Onde nidifica: nas saliências rochosas das grandes cadeias montanhosas.
O que significa o seu nome científico: em Latim, Gyp quer dizer abutre, aetus quer dizer águia e barbatus quer dizer com barba.
Alimenta-se de quê: esta ave é a única do planeta que se alimenta quase exclusivamente de ossos, principalmente de ungulados. Pode chegar a alimentar-se de ossos com 20 centímetros, que digere graças ao seu potente estômago. Quando não os consegue comer inteiros, agarra neles com as suas garras e lança-os de grandes alturas em zonas rochosas para os quebrar.
Quais as maiores populações de quebra-ossos na Europa: esta é uma espécie em perigo de extinção no Velho Continente. As maiores populações são as da cordilheira Pirenaica, da Córsega e Creta. A nível mundial, a União Internacional para a Conservação da Natureza classificou-a como Quase Ameaçada.