Na próxima Primavera serão libertados castores (Castor fiber) em duas zonas do Sul de Inglaterra para ajudar a travar inundações e a melhorar a biodiversidade, anunciou hoje a organização britânica The National Trust.
Os castores já foram parte crucial dos ecossistemas em Inglaterra. Mas, no século XVI foram caçados até à extinção por causa da caça pelo seu pêlo, carne e e secreções glandulares.
Em Portugal, os castores tiveram um fim semelhante, entre os séculos XV e XVI.
Estas reintroduções – aprovadas pelo Governo britânico, mais concretamente pela Natural England – vão libertar dois casais destes mamíferos, um numa área vedada de floresta em Holnicote, em Somerset, e outro em Valewood, em South Downs.
“O nosso objectivo é que os castores se tornem uma parte importante da ecologia em Holnicote, desenvolvendo processos naturais e contribuindo para a saúde e riqueza da vida selvagem na área”, explicou, em comunicado, Ben Eardley, gestor do projecto na National Trust.
“A sua presença nas nossas bacias hidrográficas é uma forma sustentável de ajudar a tornar a nossa paisagem mais resiliente às alterações climáticas e aos fenómenos climatéricos extremos que elas trarão”, acrescentou.
Estes dois casais de castores são a Fase 0 do projecto, no âmbito do projecto Riverlands do National Trust que está a recuperar os processos naturais em determinadas bacias hidrográficas. “Eles poderão ajudar-nos a conseguir um fluxo de água mais natural, abrandando, limpando e armazenando água e criando habitats ribeirinhos mais complexos.”
Isto devido às pequenas represas que os castores criam. “Essas represas vão manter água nos períodos secos, ajudar a travar as inundações mais a jusante, reduzir a erosão e melhorar a qualidade da água”, explicou ainda Ben Eardley.
Os castores são “engenheiros da natureza e podem criar habitats fantásticos que beneficiam inúmeras outras espécies, desde os ratos de água, às aves aquáticas, libélulas e invertebrados aquáticos”, salientou David Elliott, do National Trust em South Downs. “Por sua vez, estas espécies ajudam a manter populações reprodutoras de peixes e aves que se alimentam de insectos, como o papa-moscas-cinzento (Muscicapa striata).”
Esta reintrodução será acompanhada de perto por equipas de especialistas, entre os quais investigadores da Universidade de Exeter, para registar alterações ecológicas e hidrológicas no habitat.
Nos próximos meses, os peritos do National Trust estarão a preparar ambos os locais de reintrodução, para tornar os habitats mais “amigos dos castores” quando a Primavera chegar.
“Segundo o recente relatório sobre o Estado da Natureza que a vida selvagem está em declínio”, disse Mark Harold, director do programa Land and Nature do National Trust.
“Precisamos fazer mais e precisamos incentivar e apoiar quem queira fazer a sua parte.”
Até 2025, o National Trust tem como objectivo recuperar 25.000 hectares de habitats ricos em vida selvagem. A reintrodução de castores faz parte deste trabalho.
Em Fevereiro de 2016, cientistas da Universidade de Stirling concluíram que os castores estão a ajudar a recuperar rios e a travar picos de cheia.
Mais de um ano depois, em Outubro de 2017, a Escócia anunciou a reintrodução de 28 castores na Floresta Knapdale para promover o reforço populacional desta espécie.
Os castores eram nativos na Escócia até serem caçados até à extinção no século XVI. Na última década, dezenas de castores com origem norueguesa foram libertados na natureza de forma ilegal ou escaparam de propriedades privadas e hoje existem duas populações de castores, ambas na Escócia, mais concretamente em Argyll e Tayside.