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Foto: Danilo Cedrone/Wiki Commons

ONU alerta para efeitos das alterações climáticas nos oceanos

29.08.2019

Os oceanos poderão tornar-se nos piores inimigos à escala mundial se nada for feito para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, segundo um novo relatório especial das Nações Unidas.

O documento, revelado hoje pela agência de notícias AFP, é a versão preliminar do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) sobre os oceanos e que será divulgado na sua totalidade a 25 de Setembro.

Com 900 páginas, este é o quarto relatório especial do IPCC publicado em menos de um ano, depois dos relatórios sobre a biodiversidade, solos e sistema alimentar mundial. Todos revelam consequências alarmantes das alterações climáticas.

Neste caso, um grupo de peritos analisou os impactos nos oceanos e na criosfera (calotes polares, solos permanentemente gelados e glaciares). Concluiu que as reservas de peixe nos oceanos poderão entrar em declínio, os estragos causados pelos ciclones deverão multiplicar-se e 280 milhões de pessoas poderão ser deslocadas por causa da subida do nível do mar.

Estas consequências referem-se ao cenário optimista, no qual o aumento da temperatura média estará limitado a 2ºC em relação à era pré-industrial.

Segundo o relatório a que a AFP teve acesso, com o previsível aumento da frequência dos ciclones, todos os anos várias grandes cidades costeiras e pequenas nações insulares serão atingidas por inundações a partir de 2050, mesmo nos cenários optimistas.

“Quando assistimos à instabilidade política gerada pelas migrações de fraca amplitude, tremo só de pensar num mundo em que dezenas de milhões de pessoas serão obrigadas a sair das suas terras por causa do oceano”, comentou Ben Strauss, director do Climate Central, instituto de investigação com sede nos Estados Unidos.

O aumento do nível do mar no próximo século “poderá ultrapassar vários centímetros por ano”, ou seja, mais cem vezes do que aquilo que acontece hoje. Se o aumento das temperaturas for de 2ºC em 2100, isso será o início de um acelerar da subida dos mares, adverte Ben Strauss.

O relatório prevê também que entre 30% e 99% do permafrost, camada de solo permanentemente gelado, derreta até 2100, isto se as emissões de gases com efeito de estufa continuarem ao ritmo actual. O permafrost do Hemisfério Norte vai libertar, sob o efeito do degelo, uma “bomba de carbono” feita de dióxido de carbono (CO2) e de metano (CH4), o que irá acelerar as alterações climáticas.

O derretimento dos glaciares causado pelo sobre-aquecimento climático vai dar demasiada água doce, e depois muito pouca, a milhões de pessoas que dela dependem, alerta ainda o relatório.

A publicação deste documento acontecerá a 25 de Setembro, depois da realização em Nova Iorque a 23 de Setembro de uma cimeira mundial pelo clima, convocada pelo Secretário-geral da ONU, António Guterres. O objectivo será conseguir maiores compromissos dos vários países para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) porque, ao ritmo actual, estas levarão a um aumento de temperaturas entre os 2ºC e os 3ºC até ao final deste século.

Segundo os especialistas, a China, Estados Unidos, União Europeia e a Índia – os quatro maiores emissores de gases com efeito de estufa – chegarão à cimeira com promessas demasiado fracas para a dimensão do desafio. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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