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caminho por uma floresta

Europa já tem uma Lista Vermelha dos escaravelhos que ajudam as florestas

07.03.2018

Quase um quinto (18%) dos escaravelhos europeus que regeneram as florestas estão em risco de extinção, por causa do declínio das grandes árvores por toda a Europa, concluiu um novo relatório da UICN e divulgado nesta segunda-feira, dia 5 de Março.

 

Hoje em dia estima-se que existam na Europa 4.000 espécies de escaravelhos saproxílicos. As zonas com maior diversidade de espécies são as zonas montanhosas dos Pirinéus, dos Alpes e dos Cárpatos.

Estes escaravelhos, que dependem da madeira morta pelo menos em parte do seu ciclo de vida, – como a vaca-loura (Lucanus cervus), o maior escaravelho europeu – ajudam a decompor e a reciclar nutrientes nas florestas, assim como os fungos. Também são uma importante fonte de alimento para aves e mamíferos e algumas espécies até são polinizadoras.

 

Anastrangalia sanguinolenta. Foto: Frédéric Chevaillot

 

A 5 de Março foi apresentada a nova Lista Vermelha Europeia sobre os Escaravelhos Saproxílicos, feita pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN), com a ajuda de cerca de 80 especialistas. Este projecto, financiado pela Comissão Europeia e por um programa LIFE, avaliou o estatuto de conservação de 693 espécies (436 no ano de 2008 e 257 durante 2017).

Segundo a Lista Vermelha, 17,9% das espécies destes escaravelhos na Europa estão ameaçadas.

Para quase um quarto das espécies na Europa (168 espécies, o que representa 24,4%), não existe informação científica suficiente para avaliar o seu risco de extinção. Por isso, a proporção de espécies ameaçadas poderá ser entre 13,5% e 37,9%. Além destas, outras 89 espécies (13%) são consideradas Quase Ameaçadas.

Quanto às tendências populacionais, 89 espécies têm vindo a diminuir, 229 estão estáveis e 25 espécies estão a aumentar. Para 345 espécies não se conhece qual a tendência.

 

Iphthiminus italicus. Foto: Hervé Bouyon

 

A falta de dados para muitas espécies não passou desapercebida. “A tendência populacional para metade das espécies avaliadas continua a ser desconhecida”, disse, em comunicado, Keith Alexander, conselheiro da UICN para este grupo de invertebrados que defendeu mais monitorização de forma mais urgente.

Segundo João Gonçalo Soutinho, biólogo coordenador da Rede Portuguesa de Monitorização da Vaca-Loura, os dados contidos nesta Lista Vermelha “não surpreendem”.

“O elevado número de espécies em risco de extinção reflete as pressões que temos efetuado sobre estes seres vivos e os seus habitats, enquanto que a falta de informação apresentada é um reflexo da falta de conhecimento que temos sobre eles”, contou ontem à Wilder.

“Se não soubermos sequer que eles existem, onde estão e como estão, é impossível realmente preservar estas espécies.”

 

Causas do declínio e conservação

Devido à sua dependência de madeira morta ou em decomposição, a perda de árvores na Europa é a principal causa do declínio das populações destes escaravelhos, salienta a Lista Vermelha.

Outras grandes ameaças incluem a urbanização, desenvolvimento turístico e o aumento na frequência e intensidade dos incêndios florestais na região do Mediterrâneo.

“Algumas espécies de escaravelhos precisam de árvores antigas, que levam centenas de anos a crescer, por isso os esforços de conservação precisam de se focar em estratégias a longo prazo para proteger as árvores antigas nas diferentes paisagens da Europa, para garantir que os serviços de ecossistemas vitais destes escaravelhos continue”, comentou Jane Smart, directora do Programa Global de Espécies da UICN, em comunicado.

 

Stictoleptura erythroptera. Foto: Hervé Bouyon

 

Ainda assim, salienta Humberto Rosa, director do Capital Natural, da Direcção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia, tem sido feito algum progresso pelo sector florestal e a importância da madeira morta está a ser cada vez mais reconhecida em muitos países. “A quantidade de madeira morta nas florestas europeias tem vindo a aumentar de forma consistente nos últimos anos, também devido à integração das exigências das políticas de natureza da União Europeia nos planos de gestão florestal”, considerou. “Isto está a ter um impacto positivo nas populações de escaravelhos saproxílicos e demonstra que a adequada implementação das políticas ambientais da União Europeia dão resultados.”

O relatório recomenda estratégias de conservação para as espécies com o mais elevado risco de extinção, a adopção de práticas de gestão de habitats e o aumento da sensibilização da sociedade em geral para a importância destes animais.

 

E os escaravelhos em Portugal?

João Gonçalo Soutinho lamenta que Portugal seja um “mau exemplo para a conservação destas espécies”. “Não temos informação sobre quantas espécies existem, onde estão e como estão a nível de conservação.”

É “complicado avançar com um número certo” mas, segundo este especialista, “das cerca de 700 espécies avaliadas nesta Lista Vermelha”, diria que 150 ocorrem no nosso território. Algumas são endémicas do nosso país, da Península Ibérica ou da Europa e estando apenas três ameaçadas de extinção”.

Mas a falta de informação não é o único problema. “Continuamos a apostar em medidas de gestão que não favorecem a sua conservação, como o abate de árvores de grande porte e limpezas florestais que removem toda a madeira morta existente.”

Além disso, recorda, os “incêndios que temos sofrido nos últimos anos são também identificados pela equipa coordenadora desta Lista Vermelha como uma das maiores ameaças na bacia do Mediterrâneo e por isso estes resultados podem ser bastante piores por cá”.

Em Portugal há trabalho a ser feito sobre estes escaravelhos. Um deles é o projecto VACALOURA.pt, projeto de Ciência Cidadã coordenado pela Associação BioLiving que está a ajudar a conservar o maior escaravelho da Europa. Este projecto dedica-se a quatro espécies de escaravelhos. A vaca-loura está Quase Ameaçado de extinção e os outros três (Lucanus barbarossa, Dorcus parallelipipedus e Platycerus spinifer) têm estatuto Pouco Preocupante a nível europeu.

Em 2016, no âmbito do VACALOURA.pt, cerca de 500 pessoas contaram entre 470 e 550 vacas-louras, espécie que em Portugal tem vindo a perder muito do seu habitat.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Saiba aqui o que pode fazer para ajudar os animais que regeneram as florestas.

Descubra aqui como pode criar refúgios para os escaravelhos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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