O projecto para a elaboração da primeira Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, que teve início em Outubro de 2016, está a investigar qual é a situação de muitas das plantas nativas em território português. A Wilder dá-lhe a conhecer os primeiros resultados.
Objectivos: “Melhorar o conhecimento da distribuição geográfica das plantas vasculares nativas de Portugal Continental e avaliar o seu risco de extinção, segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN)”, indicam os responsáveis pela Lista Vermelha da Flora Vascular, num comunicado enviado à Wilder.
Em causa está um projecto organizado pela Sociedade Portuguesa de Botânica e pela Phytos-Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação, em parceria com o Instituto Nacional da Conservação da Natureza e das Florestas, e que decorre até Setembro de 2018.
Uma equipa de botânicos – juntamente com muitos voluntários – tem vindo durante o último ano a percorrer muitos quilómetros, de Norte a Sul do país. Como resultado, tiveram algumas boas notícias: reencontraram “três espécies de plantas que se pensava estarem extintas em Portugal, duas das quais não eram observadas há cerca de 50 anos.”
Uma dessas espécies há muito ‘desaparecidas’ é a Klasea pinnatifida, que foi agora reencontrada pelos botânicos da Lista Vermelha nos solos calcários do Alto Alentejo.
Até agora, descobriram-se também quatro espécies novas para Portugal, que nunca tinham sido registadas no país, “muito raras” também em Espanha.
Exemplos? A Anchusa puenhii, “uma espécie que ocorre nos cada vez mais ameaçados olivais de sequeiro do Baixo Alentejo”, e a Orobanche schultzii, “uma planta que parasita o funcho selvagem e que foi descoberta nos arredores de Lisboa”.
Por outro lado, o trabalho feito ajudou também a encontrar novos locais onde ocorrem espécies que em Portugal têm áreas de distribuição conhecidas muito reduzidas, acrescentam os responsáveis do projecto.
É o caso do licopódio-dos-brejos (Lycopodiella inundata) e da Succisella carvalhoana, “duas plantas que habitam sítios húmidos e encharcados no Norte do país, e cuja presença foi registada a mais de 150 quilómetros de distância das populações portuguesas anteriormente conhecidas”.
Duas plantas possivelmente extintas
Em contrapartida, a equipa deparou-se também com más notícias: duas espécies que faziam parte da lista de plantas-alvo do projecto – ou seja, que vão ser obrigatoriamente avaliadas – não foram detectadas nos territórios onde costumam ocorrer. Ou seja, estão “muito possivelmente extintas em Portugal.”
Tanto a agricultura intensiva praticada em larga escala como a urbanização do litoral, entre várias ameaças, estão também a provocar “declínios acentuados” de algumas plantas. Alguns exemplos: a Apium repens, “extremamente rara”, que se encontra “em locais húmidos da Costa Sudoeste”; a Linaria ricardoi, que só ocorre em Portugal, “exclusivamente nas searas e olivais de sequeiro do Baixo Alentejo; o alcar-do-Algarve (Tuberaria globulariifolia major), também encontrada apenas em Portugal, “em locais soalheiros sobre os solos ácidos e pedregosos do litoral do Sotavento Algarvio.
Esta Lista Vermelha da Flora Vascular vai ser a primeira do género para território português. Desde 1990 que Portugal tem também Livros Vermelhos para espécies de vertebrados, cuja revisão levou à publicação do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, em 1995.
No que respeita à flora, só está actualmente disponível o Atlas e Livro Vermelho dos Briófitos Ameaçados de Portugal, publicado em 2013. Em causa estão plantas não vasculares como os musgos.
“Estavam ainda por avaliar todas as restantes plantas – as plantas vasculares – que são aproximadamente 3.000 espécies em Portugal Continental e que representam a maior componente da flora nacional”, adiantam os responsáveis do projecto, para quem este tem “enorme relevância para o futuro da conservação da biodiversidade a nível nacional”.
O projecto debruça-se em especial sobre 621 plantas-alvo, aquelas que se supõe que estejam mais ameaçadas, e sobre as quais é necessário obter informação: onde se encontram, qual é a sua população, ou o que as ameaça, entre várias informações.
Além da equipa responsável e de voluntários que se têm vindo a juntar, esta Lista Vermelha tem contado ainda com o apoio de herbários e das pessoas que colaboram com o portal Flora-On, “que disponibilizaram um grande volume de dados sobre a distribuição de inúmeras espécies nativas de Portugal Continental.”
[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.
Está a decorrer uma campanha de apadrinhamento de plantas-alvo desta Lista Vermelha, dedicada às espécies que florescem no Outono e no Inverno. Fique a saber aqui como pode participar e desta forma ajudar a suportar os trabalhos de campo em busca destas espécies.
Fique também a conhecer outras formas de contribuir para esta Lista Vermelha, se for especialista ou se tiver bons conhecimentos de botânica.