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Skomer. Foto: Al Rees

Mais de 600 pessoas ajudaram estas aves através das suas fotografias

28.11.2017

As colónias de papagaio-do-mar das ilhas britânicas estão em declínio. Para descobrir porquê, a Royal Society for Protection of Birds (RSPB) pediu ajuda aos cidadãos. As mais de 1.400 fotografias enviadas para o Projecto Puffin conseguiram desvendar o mistério.

 

Nos últimos anos, os números de papagaio-do-mar (Fratercula arctica) têm vindo a diminuir. Sem ajuda, mais de metade da população pode desaparecer no espaço de uma geração, alertam os cientistas.

 

Isle of May. Foto: Kirsie Sutherland

 

Durante o Verão, de Maio a Agosto, o Projecto Puffin pediu às pessoas para enviarem fotografias de papagaios-do-mar com peixe no bico a fim de tentar saber o que estão a dar de comer às suas crias, no maior número de colónias possível. Existe o receio de que as reservas alimentares desta ave estejam a sofrer negativamente com oceanos mais quentes e com a alteração das correntes oceânicas.

Como resultado, 602 pessoas enviaram à equipa do projecto 1.402 imagens que depois foram analisadas por cientistas. Estas permitiram identificar mais de 12.000 peixes, revela hoje em comunicado a organização britânica. As fotografias foram captadas em 40 colónias por todo o Reino Unido, incluindo nas ilhas Farne, Skomer e Isle of May.

 

Farne Island. Foto: Franco Lee

 

“Os papagaios-do-mar, com os seus bicos coloridos e distintivas marcas nos olhos, tornam-nos aves favoritas para serem fotografadas. A enorme resposta ao nosso apelo foi incrível, com mais de mil imagens submetidas”, comentou Ellie Owen, coordenadora do projecto e cientista da RSPB. “Foram precisos mais de três meses para os técnicos e voluntários da equipa as analisarem todas.”

Os resultados preliminares desta informação sugerem que algumas colónias do Norte das Ilhas Britânicas “estão a ter dificuldade em encontrar peixes nutritivos e abundantes, o que poderá estar relacionado com os declínios populacionais”.

Todas as Primaveras, as zonas costeiras do Reino Unido enchem-se de vida com os papagaios-do-mar que ali nidificam e criam os seus filhotes. Muitas são as pessoas que procuram os melhores locais do Reino Unido e Irlanda para observar e fotografar estas aves marinhas de bico de um laranja vivo e olhos peculiares.

 

Abrigo de papagaio-do-mar na ilha Farne. Foto: Nigel Taylor

 

Contudo, nos últimos anos, os números de papagaios-do-mar têm vindo a diminuir em algumas colónias. Sem ajuda, metade da população global destas aves poderá desaparecer nos próximos 40 anos.

Agora, estas fotografias “ajudaram os cientistas a identificar as áreas onde os papagaios-do-mar estão com dificuldades em encontrar peixes grandes e nutritivos para alimentar as suas crias”, salienta a RSPB.

Os primeiros resultados indicam que a dieta dos papagaios-do-mar varia significativamente no Reino Unido. Nas ilhas de Orkney e Shetland, onde se registam dramáticos declínios populacionais desta ave, os papagaios-do-mar parecem estar a encontrar, sistematicamente, presas mais pequenas em relação a outras colónias.

 

“Para um pequeno papapagaio-do-mar à espera no seu buraco, a vida depende de os seus pais trazerem comida suficiente”, explicou Ellie Owen.

 

Skomer. Foto: Al Rees

 

“A resposta do público significa que conseguimos dados numa escala que nunca seríamos capazes de abranger até agora.”

A próxima fase do Projecto Puffin é olhar mais atentamente para a dieta dos papagaios-do-mar, comparada com o seu sucesso reprodutivo. A ideia é descobrir até que ponto a dieta influencia o declínio de algumas colónias.

Este projecto foi apoiado pelo Heritage Lottery Fund Scotland.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais aqui sobre esta ave marinha que passa o Inverno nas águas costeiras portuguesas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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