Dos cinco abutres-do-egipto (Neophron percnopterus) marcados com emissores e a ser seguidos pelos técnicos do projecto Life Rupis, há um que já chegou a África, na sua migração outonal, revelou ontem a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (Spea).
Estas aves, também conhecidas por britangos, são uma espécie Em Perigo de extinção em Portugal, onde estão presentes entre Abril e Setembro. No final desse mês voam para África, onde ficam durante os meses mais frios.
Mas a fêmea Faia decidiu partir mais cedo. A sua viagem demorou dois dias, desde a região do Douro, de onde saiu a 24 de Agosto, sobrevoando o estreito de Gibraltar, até Marrocos.
Faia é o primeiro dos cinco britangos marcados no Douro pelo projeto Life Rupis – Conservação do britango e da águia-perdigueira no vale do rio Douro (2015-2019), a migrar. “Todas as outras quatro aves ainda estão na área e usam os locais de alimentação suplementares estabelecidos como parte do projeto”, explica a Spea em comunicado.
Esta fêmea foi capturada em Escalhão (Figueira de Castelo Rodrigo) em Junho, assim como o macho Douro, e reproduziu, com sucesso, no vale de Águeda, no lado espanhol.
Hoje sabemos o paradeiro destes cinco abutres graças ao programa de marcação com emissores GPS que acontece durante os meses do Verão no âmbito do projecto Life Rupis. O grande objectivo é saber mais sobre os hábitos de alimentação, rotas e padrões de migração destas aves ameaçadas.
Votação online escolheu nomes para três britangos
De 1 a 10 de Agosto esteve aberta uma votação online para dar nomes aos três britangos marcados em Junho e Julho. A Spea registou quase 200 participações. Dos 36 nomes, o público escolheu os três favoritos: Faia, Douro e Bruçó.
“A lista foi preparada pela equipa Life Rupis e procurou reflitir não só localidades e pontos únicos das Arribas do Douro, mas também expressões e toponímia locais”, acrescentou a organização.
O Life Rupis foi lançado em Julho de 2015, em território português e espanhol na zona do Douro Internacional para ajudar a reforçar as populações de águia-perdigueira (Hieraaetus fasciatus) e de britango, através da redução da mortalidade e aumento do sucesso reprodutor destas espécies.
De acordo com a Spea, nos últimos 40 anos a população de britangos na Europa tem sofrido um declínio de cerca de 50%. “As principais ameaças são a redução de disponibilidade alimentar, o uso ilegal de veneno, a perturbação dos locais de nidificação, a colisão com linhas elétricas e a electrocussão”, explica a organização.
Na área do projecto – que inclui o Parque Natural do Douro Internacional (cerca de 95.000 hectares) e o Parque Natural de Arribes del Duero (107.000 hectares) – existem 121 casais confirmados e outros 14 possíveis, segundo o censo de 2016. Em Portugal, o Douro Internacional alberga o maior núcleo de abutre-do-egipto.
A coordenação do Life Rupis está entregue à Spea, que tem mais oito entidades parceiras, como a Associação Transumância e Natureza, a Palombar, o ICNF, a Junta de Castela e Leão, a Fundación Patrimonio Natural de Castilla y Léon, a Vulture Conservation Foundation, a EDP Distribuição e a GNR.