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águia-imperial-ibérica em voo
Águia-imperial-ibérica. Foto: Juan Lacruz/Wiki Commons

Onda de calor obriga a intervenção para salvar crias de águia-imperial

17.07.2017

Quatro crias de águia-imperial (Aquila adalberti) caíram de dois ninhos, um em Mértola (Alentejo) e outro na zona do Tejo Internacional, por causa da onda de calor de 16 a 22 de Junho. As autoridades de conservação da natureza intervieram para salvar as crias desta espécie Criticamente Em Perigo de extinção.

 

Em Mértola, onde as temperaturas ultrapassaram os 40ºC durante vários dias, dois irmãos foram empurrados para fora do ninho pelo mais velho. Esta é uma situação “relativamente comum nestas circunstâncias”, explicou o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em comunicado divulgado na passada quinta-feira.

“Nestas situações o trabalho a fazer passa por recolher as crias do chão e avaliar a existência de lesões e o índice corporal.”

A cria mais nova foi recolhida no chão pelo ICNF e foi levada para as instalações do Parque Natural do Vale do Guadiana, onde esteve uma semana e meia “até que se verificasse uma maior autonomia de voo dos irmãos e uma diminuição da sua presença no ninho”. A 28 Junho, após consulta no veterinário e marcação com emissor GSM, esta cria voltou a ser recolocada no ninho com o auxílio de um técnico da Tragsatec, entidade parceira do projeto LIFE-Imperial (2014 a 2018) e que atua sob coordenação da administração central espanhola (MAGRAMA), ao abrigo do Memorando de Entendimento Hispano-Luso para a conservação da águia-imperial-ibérica e do lince-ibérico.

A outra cria, a do meio, foi vigiado também por técnicos do ICNF e da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) do LIFE-Imperial. Esta “já mostrava capacidades de voo” para conseguir voltar à árvore que serve de suporte ao ninho. Segundo o instituto, esta cria foi mais tarde vista já de volta ao ninho.

Mais tarde, os técnicos de conservação conseguiram observar os “pais a alimentarem a cria mais nova enquanto os irmãos, já emancipados, voavam na envolvente”.

Estas situações de risco foram detectadas durante as acções de monitorização aos ninhos, que são acompanhadas pelos gestores e proprietários das zonas de caça onde estes se encontram. “Com a colaboração de todos os atores foi possível garantir a emancipação de mais três novas águias-imperiais-ibéricas.”

A águia-imperial é uma espécie com estatuto de Criticamente em Perigo no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (2005). A ave extinguiu-se nos anos 1970. Depois de uma lenta recolonização com aves vindas de Espanha, em 2013 haviam em Portugal 11 casais confirmados. Em 2016, o projecto LIFE Imperial  contabilizou 15 casais reprodutores.

No terreno está a decorrer o projeto LIFE Imperial (2014-2018), coordenado pela LPN, que pretende contribuir para o aumento da população da espécie em Portugal. O Projecto LIFE Imperial está a ser implementado nas ZPE da Rede Natura 2000 de Castro Verde, Vale do Guadiana, Mourão/Moura/Barrancos e Tejo Internacional, Erges e Pônsul.

Rita Alcazar, bióloga responsável pela supervisão geral do LIFE Imperial, explicou anteriormente à Wilder que a águia-imperial-ibérica perdeu território em Portugal, “essencialmente, por causa da redução das populações presa, como o coelho-bravo, resultado da caça e dos surtos de doenças contagiosas nas décadas de 70 e 80 do século passado”. Além disso, a águia-imperial foi também afetada pela perturbação e destruição de habitat, praticada pelo homem, e pelo problema dos venenos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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