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Foto: Martin F.V. Corley

Nova borboleta nocturna para a Europa foi encontrada em Portugal

25.01.2017

A pequena e acastanhada borboleta nocturna Borkhausenia intumescens, do Hemisfério Sul, foi encontrada na região da Beira Litoral, em Portugal, por uma equipa internacional de investigadores liderada pelo CIBIO-InBIO. É a primeira vez que é encontrada na Europa.

 

A descoberta foi publicada a 20 de Janeiro num artigo na revista Nota Lepidopterologica, por uma equipa coordenada por Martin Corley, do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos). São os primeiros registos da espécie para a Europa.

Em 2012, Jorge Rosete, um dos co-autores do estudo, descobriu perto da sua casa um espécime fêmea que não conseguiu identificar. Quando, em 2013, Martin Corley olhou para ele, atribuiu-lhe uma família (Oecophoridae), mas não conseguiu reconhecer nem a espécie nem o género a que pertenceria. Entre Julho de 2012 e Julho de 2016, Rosete colheu nove espécimes, incluindo machos, em cinco locais diferentes em Pombal (Louriçal, Mata do Urso e Lagoa de São José), Ansião e Soure (Paúl da Madriz), em Abril, Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro.

 

Foto: Martin F.V. Corley

 

De início, Martin Corley pensou que a borboleta nocturna pudesse ser originária da Austrália, dada a abundância de eucaliptos na área onde foi encontrada e ao facto de a Austrália ter mais diversidade de insectos da família Oecophoridae do que qualquer outro continente.

Mas, apesar dos esforços e contactos com outros investigadores, Rosete e Corley não conseguiram encontrar uma espécie australiana que correspondesse aos espécimes portugueses. Por isso, o mistério persistiu durante os quatro anos seguintes. Até que, em 2016, um estudo molecular ao ADN da borboleta veio dar uma ajuda.

Um fragmento de ADN correspondia a três outros espécimes por identificar, colhidos originalmente na África do Sul e inseridos numa base de dados de ADN. Com a ajuda de Alexander Lvovsky, da Academia russa das Ciências e perito em Oecophoridae, foi possível identificar todos aqueles espécies: pertenciam, afinal, à espécie Borkhausenia intumescens, da África do Sul.

Mas a história não acabou aqui. Um trabalho de investigação nas colecções de História Natural mostrou que esta espécie tinha sido descrita na Argentina como Borkhausenia crimnodes e, por isso, deveria ser nomeada assim.

A origem dos espécimes portugueses continua a ser um mistério, mas é evidente que a espécie está agora estabelecida na região Centro de Portugal. Junta-se, assim, às 2.500 espécies de borboletas nocturnas que ocorrem no nosso país. De momento, a espécie não tem comportamentos invasores. Os investigadores sugerem que a borboleta possa ter entrado em Portugal pelo porto da Figueira da Foz, juntamente com madeira importada da América do Sul, com destino à indústria da pasta de papel.

Não se sabe se esta é uma espécie da África do Sul que foi transportada para a América do Sul e depois para Portugal ou se é originária da América do Sul. Também é possível não seja nativa de nenhuma destas áreas mas sim de outro país onde ainda não tenha sido descoberta para a Ciência.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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