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Visita ao atelier de Pedro Salgado. Foto: Joana Bourgard

Pedro Salgado está a desenhar a vida dos peixes que só conhecemos no prato

27.05.2015

Uma sardinha na noite dos Santos Populares é fácil de reconhecer. O carapau no balcão da peixaria também. Agora, o ilustrador científico Pedro Salgado está a preparar um livro com desenhos que nos fazem mergulhar no oceano e descobrir como vivem 12 das espécies mais comuns da costa de Peniche.

 

O salmonete já vai a mais de meio. Pedro Salgado trabalha no olho e nas barbatanas do peixe, bem diferente dos salmonetes já sem vida em cima do gelo nas bancas das peixarias.

Este salmonete faz parte do livro “Do Mar ao Prato”, ainda em elaboração, que pretende juntar História Natural a receitas gastronómicas e que resulta de uma parceria do ilustrador com a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar, em Peniche. Ao lado do salmonete vão estar a cavala, sardinha, carapau, robalo, peixe-galo, peixe-porco, lagosta, percebes, polvo, cantaril e tamboril.

Nesta manhã de Abril, Pedro Salgado trabalha no seu atelier, debruçado sobre um estirador à luz de dois candeeiros. Em cima da mesa está a folha de papel vegetal onde ganha vida o salmonete de grafite. Já leva mais de três meses de trabalho no projecto.

 

Pedro Salgado. Foto: Joana Bourgard
Pedro Salgado. Foto: Joana Bourgard

 

“Quero mostrar um pouco da vida destes animais, o seu ciclo de vida. Como as larvas de tamboril ou as crias de polvo, por exemplo”, conta. “Assim, as pessoas podem aproximar-se mais destes seres fantásticos. Acontece conhecermos os bichos mortos mas não os reconhecermos vivos, com as barbatanas no seu devido lugar, por exemplo”.

O livro vai intercalar receitas tradicionais de Peniche, com os peixes da costa, e a sua História Natural, com desenhos da espécie e detalhes curiosos que Pedro Salgado quer contar. “Tento procurar a personalidade de cada animal e transmitir uma sensação de que ele está vivo na página. Por exemplo, com um close-up, com o animal a olhar directamente para nós ou a forma como surge na página”.

O processo

Pedro Salgado trabalha em sessões de três a quatro horas de seguida, com música de fundo para descontrair. Às vezes entusiasma-se e passa mais tempo de volta dos peixes. Mas antes de pegar nas lapiseiras, há muito trabalho a fazer.

 

Foto: Joana Bourgard
Foto: Joana Bourgard

 

“Só trabalho com espécimes vivos”, começa a explicar. “Vou à lota buscar o que está mais fresco. Depois, no próprio dia e o mais depressa possível, tiro várias fotografias, com ângulos diferentes para me darem toda a informação de que preciso”.

 

Foto: Joana Bourgard
Foto: Joana Bourgard

 

De entre as várias fotografias que analisa no monitor do computador, escolhe a fotografia de referência. “Os pormenores que não conseguir ver nessa imagem vou buscar às outras fotografias”, acrescenta.

Começa por fazer os esboços do animal, como as caudas e as barbatanas, e a estudar a anatomia e formas de vida.

 

Fotos: Joana Bourgard
Fotos: Joana Bourgard

 

Todo o processo se centra na grafite, a técnica principal que escolheu usar, sobre papel vegetal ou poliéster. “Os desenhos vão ficar a preto e branco, até para sobressaírem no meio das cores das receitas gastronómicas.”

E depois são várias horas de desenho à vista e com base na fotografia de referência, com várias lapiseiras de grafite. Nas partes mais escuras, como os olhos, usa tinta da China.

Na fase final, Pedro Salgado reforça os brancos com borracha-pão e com guache branco, para dar mais contraste e brilho.

A última coisa a fazer é um tratamento digital para limpar o desenho e ajustar os contrastes. Bem, nem sempre. Segue-se ainda um jantar ou almoço com o modelo cozinhado no prato.

[divider type=”thin”]Venha com a Wilder ao atelier de Pedro Salgado.

 

 

 

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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