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Foto: Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico

Nasceram quatro crias de lince-ibérico na natureza em Castela-La Mancha

28.04.2016

Uma fêmea nascida em cativeiro e libertada há um ano nos campos de Montes de Toledo (em Castela-La Mancha) deu à luz quatro crias, foi agora anunciado. Os pequenos linces, que brincam despreocupadamente entre as pedras, dão novo fôlego à recuperação desta espécie ameaçada.

 

Todos os anos, a rede de cinco centros em Portugal e Espanha faz a reprodução de linces-ibéricos em cativeiro para serem reintroduzidos na natureza em quatro regiões, uma em Portugal (Vale do Guadiana) e três em Espanha (Andaluzia, Castela-La Mancha e Extremadura).

Ontem, o projecto que coordena esta estratégia de conservação confirmou o nascimento de quatro crias numa dessas regiões, em Castela-La Mancha, mais concretamente em Montes de Toledo. Serão os primeiros linces a nascer ali desde o desaparecimento da espécie na zona.

A protagonista desta história chama-se Keres e tem três anos. Esta fêmea nasceu na Primavera de 2013 no Centro de Reprodução de Granadilla (Cáceres). Em Janeiro de 2015 foi marcada com uma coleira GPS e libertada num cercado nos Montes de Toledo; em Abril foi libertada definitivamente.

Keres explorou toda a região e, cerca de quatro meses depois, estabeleceu o seu território numa área com mais de cinco quilómetros quadrados, próxima à zona de libertação.

No início de Março, os dados de GPS indicavam que Keres passava muito tempo quieta numa zona de vegetação densa e que regressava sempre para lá depois das suas expedições de caça, segundo um comunicado do programa ibérico Iberlince. Ao mesmo tempo, “imagens de foto-armadilhagem mostraram Keres com evidentes sintomas de gravidez”. Uns dias depois, apareceu mais magra. “Tudo fazia sentido. Keres podia ter parido naquela zona de vegetação.”

Na primeira quinzena de Abril, o GPS indicou que a fêmea tinha abandonado o seu refúgio e já não regressava ao mesmo. Teria perdido as crias? “Depressa constatámos que as posições GPS estavam agora concentradas numa zona ali perto, possivelmente porque a esmerada mamã, coincidindo com as intensas chuvas de Abril, decidiu levar as suas crias para um local mais seguro”.

A nova posição permitiu observar o que estaria a acontecer, com a ajuda de telescópios e a uma distância considerável. “E foi assim que, depois de uma observação paciente e tensa, no dia 27 de Abril se pôde observar quatro crias despreocupadas, a brincar entre as pedras”.

 

Crias de Keres. Foto: Iberlince
Crias de Keres. Foto: Iberlince

 

Para a equipa do projecto “a descoberta destas crias é um grande incentivo”. Nas próximas semanas vai continuar a seguir a espécie, com especial atenção para todas as fêmeas que podem ter crias nas zonas de reintrodução de Castela-La Mancha (Montes de Toledo e Serra Morena Oriental em Ciudad Real). Nesta região foram libertados este ano dois linces nascidos no Centro Nacional de Reprodução de Lince-Ibérico, em Silves: Marchés e Mesta.

Este ano estão a ser libertados na natureza um total de 48 linces (45 dos quais nascidos em cativeiro) na Península Ibérica. Nove deles – seis fêmeas e três machos – estão a ser reintroduzidos no Vale do Guadiana.

De acordo com o último censo ao lince-ibérico, estima-se que a sua população mundial da espécie seja de 404 animais.

 

[divider type=”thick”]Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Nesta série contamos-lhe como é o trabalho naquele centro e apresentamos-lhe as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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