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Lince-ibérico já não está Criticamente em Perigo

23.06.2015

A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) decidiu ontem retirar o lince-ibérico da categoria “Criticamente em Perigo” e passá-lo para a categoria “Em Perigo”. Dos 52 linces-ibéricos adultos em 2002 existiam 156 em 2012. Hoje serão mais de 300.

 

Durante anos, o Lynx pardinus foi considerada a espécie de felino mais ameaçada do mundo. Desde 2002 fazia parte da Lista Vermelha da UICN como espécie Criticamente em Perigo de Extinção, a categoria mais elevada. A justificação era a sua distribuição extremamente reduzida e fragmentada.

Agora, os peritos voltaram a analisar o estado de conservação da espécie e resolveram descê-lo uma categoria.

A evolução das populações de lince foi estudada pelos investigadores Alejandro Rodríguez e Javier Calzada, que se dedicam à espécie há vários anos.

Num artigo científico publicado em 2010 na revista Conservation Biology, Calzada escreveu que no espaço de 16 anos (de 1985 a 2001), a abundância de linces decaiu entre 86 e 93%; oito das dez populações tinham desaparecido. Restavam apenas cerca de 200 animais em duas populações, separadas por 240 quilómetros: na Serra Morena e em Doñana.

Mas, depois de 60 anos de declínio da população e da área de presença, entre 2002 e 2012 o tamanho da população de lince aumentou de forma contínua, chegando aos 156 indivíduos adultos, concluem agora Calzada e Rodríguez. Isto significa que se passou de 27 fêmeas reprodutoras em 2002 para 97 em 2012. Além disso, a área de presença de lince também aumentou consideravelmente.

“Isto deveu-se à conservação intensiva, incluindo a recuperação das populações de coelho-bravo – a sua principal presa -, a monitorização da captura ilegal, a reprodução da espécie, programas de reintrodução e sistemas de compensação para os proprietários agrícolas que tornam as suas propriedades compatíveis com as necessidades do lince”, escreve a UICN em comunicado.

Hoje há duas populações estáveis em Espanha, mais concretamente Doñana-Aljarafe e Cardena-Andújar. Além destas têm sido reintroduzidos linces em quatro outras regiões para tentar criar novas populações: Guadalmellato (Córdova) e Guarrizas (Jaén), ambas na Andaluzia, Hornachos-Valle del Matachel (Extremadura espanhola), Campo de Calatrava e Montes de Toledo (Castela-La Mancha) e no Vale do Guadiana (Portugal). Nestas áreas foram libertados 43 animais desde o ano passado; 10 no Vale do Guadiana.

“Estas são notícias fantásticas para o lince-ibérico e uma excelente prova de que a conservação funciona mesmo”, disse Urs Breitenmoser, co-presidente do Grupo de Especialistas em Felinos da Comissão da Sobrevivência das Espécies da UICN.

“Contudo, o trabalho está longe de estar terminado e devemos continuar o nosso esforço de conservação para garantir a expansão da espécie e o crescimento das populações no futuro”, acrescentou.

Miguel Simón Mata, coordenador do Programa de Recuperação do Lince (Life Iberlince) para a Andaluzia, pensa o mesmo. “Não devemos, nem podemos, baixar a guarda. Ainda nos falta fazer muito”, escreveu esta manhã na sua página de Facebook. Miguel Simón Mata refere, nomeadamente, que é preciso conhecer a evolução das doenças que afectam o coelho-bravo, recuperar ao máximo as densidades de coelho, minimizar as mortes por atropelamento e consolidar as áreas de reintrodução até conseguir populações ligadas entre si.

Mais de 22.700 espécies ameaçadas de extinção

Esta notícia faz parte de uma revisão geral da Lista Vermelha da UICN, divulgada ontem. Agora, a lista inclui 77.340 espécies avaliadas. Destas, 22.784 estão ameaçadas de extinção. As principais razões para tal são a perda e degradação dos habitats e o comércio ilegal e as espécies invasoras.

“A revisão da Lista Vermelha confirma que a conservação pode trazer resultados fantásticos”, disse Inger Andersen, director-geral da UICN. “Salvar o lince-ibérico de estar à beira da extinção e garantir a sobrevivência das comunidades locais é um exemplo perfeito disso”, acrescentou.

 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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