Jazida fóssil da descoberta. Foto: Universidade de Coimbra

Investigadores portugueses descobrem fóssil raro de planta com 310 milhões de anos

22.01.2025

Foi descoberta uma nova espécie de uma gimnospérmica primitiva com 310 milhões de anos, nas formações geológicas de Fânzeres, em Gondomar.

 

A investigação, liderada por Pedro Correia, investigador do Centro de Geociências (CGEO) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), em colaboração com Carlos Góis-Marques, paleobotânico da Universidade da Madeira, está publicada desde 8 de Janeiro no jornal internacional Geological Magazine e pode ser consultada aqui.

Jazida fóssil da descoberta. Foto: Universidade de Coimbra

De acordo com Pedro Correia, a descoberta permitiu saber “como estas plantas primitivas evoluíram e se reproduziram durante o Período Carbónico, no final da Era Paleozoica”. Este fóssil, chamado Palaeopteridium andrenelii, corresponde a uma nova espécie da extinta ordem Noeggerathiales, um grupo primitivo de plantas vasculares denominadas de progimnospérmicas da divisão Progymnospermophyta.

Este “é um grupo de plantas ainda pouco compreendido e mal representado no registo fóssil da Península Ibérica, do qual são conhecidas apenas dez espécies noeggerathialeanas, número pode ser reduzido para quase metade se tivermos em conta algumas considerações taxonómicas”, explica o investigador em comunicado.

Palaeopteridium andrenelii é o segundo representante de Noeggerathiales descoberto no Carbónico Português depois do geólogo Carlos Teixeira ter descrito a noeggerathialeana Rhacopteris gomesiana na década de 1940, na Bacia Carbonífera do Douro.

Palaeopteridium andrenelii. Imagem: Universidade de Coimbra

As Noeggerathiales eram, até há pouco tempo, consideradas um grupo de plantas com uma classificação taxonómica incerta que existiu nos Períodos Carbónico e Pérmico, há cerca de 359 a 252 milhões de anos. Descobertas recentes permitiram classificar este grupo primitivo como progimnospérmicas heterosporosas, um grupo-irmão das pteridospérmicas ‒ plantas produtoras de sementes que coexistiram com as Noeggerathiales.

Apesar da descoberta recente de espécimes completos encontrados nas formações do Pérmico da China, o grupo ainda permanece altamente artificial, uma vez que os seus órgãos reprodutores raramente são preservados em conexão orgânica com as partes frondosas da planta-mãe.

A nova espécie de progimnospérmica tem macroesporângios (estruturas reprodutoras) em associação, um dos quais ainda preserva um gametófito multicelular. “Esta descoberta sugere que as Noeggerathiales possivelmente eram mais diversas do que pensávamos e a sua associação paleontológica a megaesporângios traz um novo conhecimento sobre a evolução destas plantas tão enigmáticas, bem como da sua paleoecologia”, evidencia o paleontólogo.

Palaeopteridium andrenelii (contraparte). Imagem: Universidade de Coimbra

“Estamos perante um achado singular. Fósseis de plantas pertencentes às extintas Noeggerathiales são raros na Europa e América, sobretudo devido aos seus requisitos ecológicos distintos”, comentou Carlos Góis-Marques, coautor do artigo científico. “Isto é, viviam em habitats distintos e, portanto, geralmente, não fossilizaram juntamente com as típicas plantas do registo fóssil do Carbónico. Além do mais, esta nova espécie reforça o que já se conhecia: o registo paleobotânico do Carbónico português apresenta um alto grau de endemismo de relevância internacional”, concluiu.

A nova espécie é dedicada a André Nel do Museu Nacional de História Natural de Paris, especialista mundial em paleoentomologia, que tem colaborado com os paleontólogos portugueses no estudo taxonómico de novos fósseis de insetos recentemente descobertos nas Bacias Carboníferas do Douro e do Buçaco.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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