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Marcello Pettineo quer levar-nos ao fascínio pela natureza

10.01.2015

As personagens de Marcello Pettineo não são humanas. Este ilustrador com origens sicilianas de 59 anos desenha animais selvagens. De muitos deles (quase) nunca ouvimos falar, como um pangolim, ou nunca vimos na vida, como um puma. Outros são assustadores, como uma tarântula, ou pequenos, como um bicho-de-conta. Ou ainda demasiado banais, como um caracol.

Mas engane-se quem pensar que, por escolher temas talvez distantes do nosso dia-a-dia, Pettineo não nos agarra de imediato o interesse.

A surpresa surge quando olhamos para um primeiro desenho, qualquer que ele seja. O traço a lápis de Marcello Pettineo obriga-nos a ver cada animal como se pela primeira vez.

Rolas. Ilustração: Marcello Pettineo
Rolas. Ilustração: Marcello Pettineo

 

Este mundo naturalista, criado a grafite, tem demasiada beleza e entusiasmo para nos deixar indiferentes. Mas sobretudo, tem demasiadas parecenças com o nosso. Os desenhos deste artista lembram-nos aquilo que temos em comum com a vida selvagem, através de episódios que contam histórias, explicam e simplificam a vida dos animais. Para nos ajudar a compreender. Como se os desenhos fossem curtas-metragens. De entre as centenas de obras há lutas de veados, leões a dormir a sesta, lebres a coçar as orelhas, aranhas a caçar ou aves a alimentar as crias. E, sem darmos por isso, sentimos uma proximidade quase encantatória de qualquer espécie, seja ela um elefante africano ou um bicho-de-conta.

O que inspira este desenhador, numa altura em que cada vez mais vivemos afastados dos grandes espaços e da vida selvagem? Falámos, por email, com Pettineo poucos dias depois da inauguração da sua exposição “Dessins a la mine graphique”, na Arthus Gallery, em Bruxelas (patente até 31 de Janeiro), e do lançamento do livro do qual é co-autor, “4m2 de Nature”.

É do seu atelier a Sul de Paris que saem os desenhos que nos obrigam a reparar em coisas que nunca vimos antes.

O estúdio – atafulhado com estantes de livros, colecções de insectos, penas e desenhos de veados, peixes e aves e copos de lápis e pincéis – faz lembrar um gabinete naturalista do tempo dos grandes exploradores. A decoração é feita com propósito. “Quero que os meus trabalhos façam lembrar as páginas dos cadernos naturalistas, com esboços feitos a lápis no papel e com notas manuscritas no meio dos desenhos”, conta-nos. Como os naturalistas do século XIX, Marcello Pettineo mistura o desenho com as viagens, a descoberta, a observação e as ciências naturais.

Coruja-buraqueira. Ilustração: Marcello Pettineo
Coruja-buraqueira. Ilustração: Marcello Pettineo

 

Este designer gráfico de profissão, na agência francesa de comunicação Fremens, inspirou-se nos chamados gabinetes de curiosidades do século XVI – colecções de animais raros, normalmente por famílias de posses – e nos desenhadores que, a partir do século XVII, percorreram o mundo para registar e dar a conhecer espécies muitas vezes nunca antes vistas.

Pettineo já viajou pelos quatro cantos do mundo, com um pequeno caderno Moleskine, alguns lápis e uma pequena caixa de aguarelas. Neles faz esboços e reúne ideias para os trabalhos que irá concretizar no seu atelier. “Os ritmos rápidos das viagens não me dão tempo para fazer desenhos completos; por isso só dou ainda mais valor aos desenhadores naturalistas de antigamente que tinham de o fazer”, acrescenta. O essencial é feito no seu atelier.

Prepara uma folha de um bloco de aguarela, os lápis bem afiados, reúne esboços e fotografias do animal a desenhar e estuda a composição. Na folha podem caber vários episódios e fases da vida de espécies tão pequenas quanto um bicho-de-conta ou tão grandes como um elefante. Detalhes rigorosos de olhos ou penas surgem lado a lado com simples esboços. “Quero suscitar o maravilhamento no espectador, a curiosidade e o gosto renovado por um vasto campo de conhecimentos”, acrescentou.

 

“Sempre desenhei e a natureza foi a minha fonte de inspiração”. Os seus pais não eram profissionais do desenho mas davam-lhe muita importância. E muitas vezes via o seu pai, carpinteiro, com um lápis na mão.  “Eles trabalhavam muito e era importante que eu e o meu irmão ficássemos em casa sem fazer disparates. Uma boa maneira de nos manter sossegados era o desenho. Nessa altura desenhava muito com canetas e tinta-da-China em grandes folhas de papel Canson 65 x 50 cm.”

Hoje continua a desenhar, a melhor forma que conhece para observar a natureza de perto. Já fez trabalhos para o Museu de História Natural de Paris e colabora com as revistas francesas “Nat’Images” e a “Espèces”. “Gosto muito de descobrir animais sobre os quais nada sabia antes de os desenhar”.

Desde criança que manteve a curiosidade pelos animais, quando passava horas a observar salamandras no campo. “Continuo a gostar muito de observar e de descobrir coisas novas na natureza, sobretudo sobre a fauna”.

Contudo, Pettineo gostaria que o seu trabalho fosse entendido para além do seu aspecto decorativo.

“A forma é um meio de sensibilizar para a mensagem que quero passar. Essa mensagem é transmitir o conhecimento da biodiversidade para a sua preservação”.
–MARCELLO PETTINEO

Aliás, esse é o objectivo do seu mais recente livro, “4m2 de Nature”, publicado em Dezembro de 2014. A obra – com 192 páginas, 400 fotografias, 350 desenhos e 200 espécies ilustradas – é uma parceria entre o fotógrafo Stéphane Hette, o naturalista Emmanuel Fery e o próprio Pettineo.

Página do livro “4m2 de Nature”

“Foi o Stéphane que iniciou o projecto e que me pediu para fazer os desenhos. O projecto agradou-me muito e, por isso, decidimos que seria co-autor. O principal objectivo é mostrar que não é preciso ir ao outro lado do planeta para ficarmos maravilhados com a natureza. Muitas vezes, a aventura encontra-se a dois passos da nossa porta”.

“4m2 de Nature”, que levou mais de seis anos a fazer, é o estudo das espécies que vivem em quatro biótopos bem diferentes – mar, floresta, campos agrícolas e jardins – na região Champagne-Ardenne, no Noroeste de França. “Quisemos mostrar a variedade da biodiversidade da região e devolver aos habitantes e visitantes o desejo de descobrirem o que os rodeia, misturando ciência e natureza, modernidade e história.”

 

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E agora é a sua vez. Marcello Pettineo diz-lhe como desenhar uma . Para saber mais sobre este desenhador naturalista, leia o seu site.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.

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