Os dias mais quentes estão a chegar, o que significa que a época das borboletas vai começar em força. A Wilder falou com a especialista Patrícia Garcia-Pereira e dá-lhe alguns conselhos para conhecer melhor estes belos insectos.
1.Faça o trabalho de casa
Gostava de ter ajuda para reconhecer as espécies mais comuns de borboletas diurnas? Já existe o Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, um guia gratuito com fotografias de 60 espécies, disponível no âmbito do projecto dos Censos das Borboletas de Portugal.
Se quiser conhecer mais em detalhe as cerca de 135 espécies que se podem encontrar em território português, pode comprar o livro “As Borboletas de Portugal”, um guia de campo compilado por Ernestino Maravalhas e publicado em 2003.
2. Escolha um dia de calor e pouco vento
“O vento é o principal inimigo de quem quer observar as borboletas, pois quando está muito vento não páram nas flores”, explica Patrícia Garcia-Pereira, presidente do Tagis-Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.
Em contrapartida, o calor é bem-vindo pelas borboletas diurnas que, em conjunto com as mariposas – também conhecidas por borboletas nocturnas -, formam a ordem dos lepidópteros.
“Elas precisam de sol e de calor, pois as asas funcionam como uma espécie de painéis [solares] para o bicho ter energia para voar”, adianta Patrícia Garcia-Pereira, que é também investigadora no cE3c-Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
3. Leve um aparelho fotográfico
Especialmente para quem está ainda a começar, uma das melhores formas de identificar uma borboleta diurna é fotografá-la, para depois em casa procurar com calma a identificação da espécie.
Pode levar consigo uma máquina fotográfica ou mesmo um telemóvel que tenha uma boa câmara, indica a mesma responsável.
4. Vá às horas mais quentes do dia
A altura ideal do dia para encontrar mais borboletas é nas horas mais quentes do dia, entre as 10h00 e as 16h00. Será o melhor período do dia para participar num censo.
Já para tirar fotografias, é diferente. “Ao pôr-do-sol começamos a ver borboletas a pousarem nas plantas, porque vão ficar abrigadas durante a noite”, pelo que será mais fácil apanhá-las quietas, afiança Patrícia Garcia-Pereira. “Estão mais paradas e são mais fáceis de fotografar.”
Pelos mesmos motivos, antes de se começar a sentir o calor, logo pela manhã, é outra boa altura do dia para registar em imagem estes insectos tão especiais.
5. Procure um local biodiverso…
A diversidade de plantas, em especial se forem nativas, é um bom indicador para encontrar mais espécies. “As borboletas dependem absolutamente da diversidade de plantas e por isso são consideradas bons indicadores da qualidade do ambiente”, refere a presidente do Tagis.
Assim, quando são adultos, é do néctar das flores que estes insectos se alimentam, através de uma espécie de pequena tromba. É também nas plantas que põem os ovos de onde nascerão as lagartas. Estas últimas, por sua vez, vão usar como alimento as folhas das plantas em que nascerem – algumas espécies, aliás, dependem de uma única planta para sobreviverem.
6. … ou comece por uma Estação da Biodiversidade
A Rede EBIO agrupa dezenas de pequenos percursos de Norte a Sul do país, conhecidos por Estações da Biodiversidade, num projecto coordenado pelo Tagis em parceria com municípios locais. Trata-se de caminhos com um máximo de três quilómetros, onde pode encontrar painéis informativos com a identificação de espécies de borboletas e outros insectos e também de plantas.
“As EBIO são um bom treino para quem quer identificar borboletas, pois as pessoas têm muita ajuda dos painéis, que têm informação de base a partir da amostragem que fizemos nesse percurso, e o caminho já está marcado.”
7. Tenha cuidado com a sombra
Viu uma borboleta pousada numa flor? Então, cuidado com a sombra que faz ao aproximar-se. É que estes pequenos insectos vêem muito bem. “Podemos falar à vontade, mas se nos mexermos eles reagem e é preciso termos cuidado com a sombra que fazemos, pois têm percepção do sítio onde estão”, nota a investigadora.
O olfacto é outro sentido que as borboletas têm bem desenvolvido, mas nesse caso, o que normalmente acontece é que “o cheiro de uma flor é muito mais forte do que de uma pessoa.”
Há mesmo espécies que “são atraídas por cheiros muito fortes, como por exemplo o cheiro de frutos em fermentação”, como acontece com a família das Nymphalidae (ninfalídeos).
8. Arme-se de paciência… e talvez de uma rede
Não é fácil apanhar uma borboleta parada o tempo suficiente para ser identificada. “Para começar, uma pessoa pode levar muito tempo a tentar tirar fotografias, é preciso muita paciência.”
Uma alternativa às fotos, que pode ser um auxílio mas que Patrícia Garcia-Pereira não considera essencial, é o recurso a uma rede entomológica. Mas nesse caso, há regras importantes a cumprir, avisa.
“Desde logo, não podemos ficar com a borboleta e levá-la para casa. Depois, não tocar nas asas também é muito importante, pois estaremos a tirar escamas que são muito necessárias para elas voarem.” O que devemos então fazer? “Só pegar no bicho pelo corpo, tirar uma foto com o telemóvel e largá-lo logo a seguir”, sublinha.
9. Tenha atenção às cores e aos desenhos nas asas
As cores, as manchas e riscas nas asas das borboletas são muito importantes para a identificação da espécie, tal como a posição e a quantidade dos chamados ocelos – minúsculas manchas redondas que parecem pequenos olhos e que ajudam estes insectos a enganar possíveis predadores. Mas estas características físicas são também um bom ponto de partida para reconhecermos desde logo o grupo a que pertencem, explica a especialista.
No caso do Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, as 60 espécies ali retratadas dividem-se em cinco famílias. Dentro destas, por exemplo, as Hesperiidae são conhecidas como as “borboletas cabeçudas”, devido ao formato das cabeças.
Já as três espécies da família das Papilionidae que ocorrem em Portugal são conhecidas por terem uma espécie de cauda, por exemplo.
10. Ajude nos censos e vá a uma acção de formação
Se quiser aprofundar o conhecimento sobre as borboletas e ainda ajudar os cientistas a saberem mais sobre o que se passa em território nacional, pode oferecer-se como voluntário para colaborar nos Censos das Borboletas de Portugal. Esta iniciativa, anunciada no final de Abril, insere-se num projecto europeu e deverá prolongar-se durante cerca de dois anos. Estão previstas acções de formação um pouco por todo o país, que irão sendo divulgadas na página do Tagis no Facebook.
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Durante os meses de Verão, vá em busca destas cinco espécies de borboletas.
E já agora, aprenda a distinguir as borboletas diurnas das mariposas. Não é tão fácil como parece.