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Borboleta almirante-vermelho na Mata de Alvalade, Lisboa, a 7 de Fevereiro de 2016

Dez dicas para aprender a identificar borboletas

19.06.2019

Os dias mais quentes estão a chegar, o que significa que a época das borboletas vai começar em força. A Wilder falou com a especialista Patrícia Garcia-Pereira e dá-lhe alguns conselhos para conhecer melhor estes belos insectos.

1.Faça o trabalho de casa

Gostava de ter ajuda para reconhecer as espécies mais comuns de borboletas diurnas? Já existe o Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, um guia gratuito com fotografias de 60 espécies, disponível no âmbito do projecto dos Censos das Borboletas de Portugal.

uma borboleta-monarca, de perfil
Borboleta-monarca (Danaus plexippus). Foto: Qoatl/Wiki Commons

Se quiser conhecer mais em detalhe as cerca de 135 espécies que se podem encontrar em território português, pode comprar o livro “As Borboletas de Portugal”, um guia de campo compilado por Ernestino Maravalhas e publicado em 2003.

2. Escolha um dia de calor e pouco vento

“O vento é o principal inimigo de quem quer observar as borboletas, pois quando está muito vento não páram nas flores”, explica Patrícia Garcia-Pereira, presidente do Tagis-Centro de Conservação das Borboletas de Portugal.

Em contrapartida, o calor é bem-vindo pelas borboletas diurnas que, em conjunto com as mariposas – também conhecidas por borboletas nocturnas -, formam a ordem dos lepidópteros.

Borboleta da espécie Polyommatus icarus. Foto: Kristian Peters / Wiki Commons

“Elas precisam de sol e de calor, pois as asas funcionam como uma espécie de painéis [solares] para o bicho ter energia para voar”, adianta Patrícia Garcia-Pereira, que é também investigadora no cE3c-Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, ligado à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

3. Leve um aparelho fotográfico

Especialmente para quem está ainda a começar, uma das melhores formas de identificar uma borboleta diurna é fotografá-la, para depois em casa procurar com calma a identificação da espécie.

Pode levar consigo uma máquina fotográfica ou mesmo um telemóvel que tenha uma boa câmara, indica a mesma responsável.

4. Vá às horas mais quentes do dia

Borboleta-azul-celeste (Celastrina argiolus). Foto: ®Albano Soares

A altura ideal do dia para encontrar mais borboletas é nas horas mais quentes do dia, entre as 10h00 e as 16h00. Será o melhor período do dia para participar num censo.

Já para tirar fotografias, é diferente. “Ao pôr-do-sol começamos a ver borboletas a pousarem nas plantas, porque vão ficar abrigadas durante a noite”, pelo que será mais fácil apanhá-las quietas, afiança Patrícia Garcia-Pereira. “Estão mais paradas e são mais fáceis de fotografar.”

Pelos mesmos motivos, antes de se começar a sentir o calor, logo pela manhã, é outra boa altura do dia para registar em imagem estes insectos tão especiais.

5. Procure um local biodiverso…

A diversidade de plantas, em especial se forem nativas, é um bom indicador para encontrar mais espécies. “As borboletas dependem absolutamente da diversidade de plantas e por isso são consideradas bons indicadores da qualidade do ambiente”, refere a presidente do Tagis.

Assim, quando são adultos, é do néctar das flores que estes insectos se alimentam, através de uma espécie de pequena tromba. É também nas plantas que põem os ovos de onde nascerão as lagartas. Estas últimas, por sua vez, vão usar como alimento as folhas das plantas em que nascerem – algumas espécies, aliás, dependem de uma única planta para sobreviverem.

6. … ou comece por uma Estação da Biodiversidade

EBIO Merujal, em Arouca, na Serra da Freita. Fotografia: ®Rui Félix

A Rede EBIO agrupa dezenas de pequenos percursos de Norte a Sul do país, conhecidos por Estações da Biodiversidade, num projecto coordenado pelo Tagis em parceria com municípios locais. Trata-se de caminhos com um máximo de três quilómetros, onde pode encontrar painéis informativos com a identificação de espécies de borboletas e outros insectos e também de plantas.

“As EBIO são um bom treino para quem quer identificar borboletas, pois as pessoas têm muita ajuda dos painéis, que têm informação de base a partir da amostragem que fizemos nesse percurso, e o caminho já está marcado.”

7. Tenha cuidado com a sombra

Viu uma borboleta pousada numa flor? Então, cuidado com a sombra que faz ao aproximar-se. É que estes pequenos insectos vêem muito bem. “Podemos falar à vontade, mas se nos mexermos eles reagem e é preciso termos cuidado com a sombra que fazemos, pois têm percepção do sítio onde estão”, nota a investigadora.

uma borboleta bela-dama
Borboleta bela-dama (Vanessa cardui). Foto: HTO/Wiki Commons

O olfacto é outro sentido que as borboletas têm bem desenvolvido, mas nesse caso, o que normalmente acontece é que “o cheiro de uma flor é muito mais forte do que de uma pessoa.”

Há mesmo espécies que “são atraídas por cheiros muito fortes, como por exemplo o cheiro de frutos em fermentação”, como acontece com a família das Nymphalidae (ninfalídeos).

8. Arme-se de paciência… e talvez de uma rede

Não é fácil apanhar uma borboleta parada o tempo suficiente para ser identificada. “Para começar, uma pessoa pode levar muito tempo a tentar tirar fotografias, é preciso muita paciência.”

Uma alternativa às fotos, que pode ser um auxílio mas que Patrícia Garcia-Pereira não considera essencial, é o recurso a uma rede entomológica. Mas nesse caso, há regras importantes a cumprir, avisa.

uma mulher olha para dentro de uma grande rede de tecido branco
Rede entomológica. Foto: César Garcia

“Desde logo, não podemos ficar com a borboleta e levá-la para casa. Depois, não tocar nas asas também é muito importante, pois estaremos a tirar escamas que são muito necessárias para elas voarem.” O que devemos então fazer? “Só pegar no bicho pelo corpo, tirar uma foto com o telemóvel e largá-lo logo a seguir”, sublinha.

9. Tenha atenção às cores e aos desenhos nas asas

As cores, as manchas e riscas nas asas das borboletas são muito importantes para a identificação da espécie, tal como a posição e a quantidade dos chamados ocelos – minúsculas manchas redondas que parecem pequenos olhos e que ajudam estes insectos a enganar possíveis predadores. Mas estas características físicas são também um bom ponto de partida para reconhecermos desde logo o grupo a que pertencem, explica a especialista.

No caso do Guia das Borboletas Comuns de Portugal Continental, as 60 espécies ali retratadas dividem-se em cinco famílias. Dentro destas, por exemplo, as Hesperiidae são conhecidas como as “borboletas cabeçudas”, devido ao formato das cabeças.

Borboleta axadrezada-comum (Carcharodus alceae), da família das Hesperiidae. Foto: Zeynel Cebeci/Wiki Commons

Já as três espécies da família das Papilionidae que ocorrem em Portugal são conhecidas por terem uma espécie de cauda, por exemplo.

Borboleta-cauda-de-andorinha (Papilio machaon), da família Papilionidae. Foto: Lucarelli/Wiki Commons

10. Ajude nos censos e vá a uma acção de formação

Se quiser aprofundar o conhecimento sobre as borboletas e ainda ajudar os cientistas a saberem mais sobre o que se passa em território nacional, pode oferecer-se como voluntário para colaborar nos Censos das Borboletas de Portugal. Esta iniciativa, anunciada no final de Abril, insere-se num projecto europeu e deverá prolongar-se durante cerca de dois anos. Estão previstas acções de formação um pouco por todo o país, que irão sendo divulgadas na página do Tagis no Facebook.

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Durante os meses de Verão, vá em busca destas cinco espécies de borboletas.

E já agora, aprenda a distinguir as borboletas diurnas das mariposas. Não é tão fácil como parece.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.

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